segunda-feira, 10 de maio de 2010

BAR DO ALÍPIO

OS ÓRFÃOS DO VILLAS BAR |(II)

Por: Altair Santos (Tatá)*

Vocês não sabem o sururu que deu a veiculação do artigo Os Órfãos do Villas Bar (o primeiro de uma trilogia que pretendemos escrever) sobre o fechamento do afamado ponto da bebericagem e da conversa solta. A coisa é mais séria do que imaginamos. Nosso telefone não parou de tocar nos últimos dias e a caixa de e-mail está repleta de recados daqueles que não foram citados e agora postulam seus créditos afinal, eles, os reclamantes, ali tomaram assento, molharam a palavra, beberam umas e outras, encheram a cara, fofocaram até secar a língua e, por tal, justo se faz serem parte desta espécie de inventário imaterial ou testemunho do aqui jaz do saudoso boteco, cuja riqueza deixada é mesmo a lembrança dos momentos ali vividos em acaloradas rodas de conversa e tilintar de copos, em sucessivos brindes. O fotógrafo Luiz Brito, morador da Rua da Divisória (hoje Presidente Dutra) – Bairro Caiari, nos enviou uma foto na qual se exibe ocupando a cabeceira da mesa de sinuca do Villas, numa pose de expert das tacadas que não combina com ele. Porém a prova é inconteste e lhe confere ser legítimo herdeiro da memória em questão. Valeu Luiz! Que o seu coração seja confortado! Outro insatisfeito é o engenheiro Orlando (diretor do Bloco Galo da Meia Noite). O moreno reivindica a sua citação em nome do grande sacrifício feito nas sagradas horas de desopilação, quando aturava o aluguel de alguns malas que por ali já chegavam etilicamente alterados vindo dos rotineiros tours pelos bares daquelas cercanias. Veredicto: o Orlando merece, também é herdeiro. Outro ressentido - que inclusive anda a passos lentos e olhar triste - é o Jorginho Bola Sete. Dele se sabe que, pelo fato de morar próximo ao ex-bar, de vez em quando vai na esquina e lança um olhar comprido e tristonho em direção ao número 1307 da Carlos Gomes, como a querer saber se algo mudou, ou melhor, se voltou a ser o que era: o bar. Vemos estar sendo difícil pro Jorginho e pros irmãos Johnson (bubu e júnior), que moram ali na biqueira do Villas e terem que, a cada anoitecer, afogar seus desassossegos e saudades noutros lambedores (bares) do centro histórico. Pronto Jorginho Bola, o seu quinhão tá garantido na farta herança da orfandade botequista da Cidade porto. Edson Andrade (o popular neném) assíduo no pedaço, não mais botou os pés naquelas proximidades e parece ter ficado fora de órbita. Procura-se o Neném! Quem o encontrar avise que ele tem fatia boa e assegurada na herança. Dizem que o rapaz, agora, se confina sabe-se lá aonde e somente aparecer tarde da noite lá na Estação Bolero, pra curtir os Anjos da Madrugada. Lúcio Albuquerque, jornalista escritor e presidente da Academia de Letras de Rondônia, leu sobre o fechamento do bar, lamentou o infausto acontecimento e disse não saber do fato por andar meio afastado nos últimos tempos. Ok, o amigo Lúcio leva também o seu merecido punhado. Tomara que nessa de fazer o inventário daquele imaterial e sua partilha, não nos apareça, em sonho, é claro, o Orlando do Estácio apresentando a fatura a esse amigo de vocês e, com suas costumeiras tiradas, mandando enfiar a mão no buraco do pano (o bolso) e, como era seu modo, dizer: “Tatá, bote um sorriso no meu rosto!” E olhe que o neguinho já andou tirando o sono de alguns por aí. No último sábado estávamos a andar no centro e achamos de parar no Bar do Ceará (Duque com Tenreiro Aranha) pro almoço. Sem que esperássemos a turma dos abandonados pelo Alípio nos encontrou e desceu aquela saraivada de reivindicações, choros, lamentos, pedidos e sugestões. Após haverem desabafado e ter os ais de sofreguidão amenizados em seus corações, se puseram numa grande roda para debaterem o primeiro artigo, seus efeitos, o futuro da confraria e outras temas mais. O principal, no entanto, era o porquê, do Alípio ter abandonado a todos, justo neste início de verão onde a coisa prometia e muito. A forte chuva daquela tarde lavou as lágrimas de alguns dos inconsoláveis que, ainda tomados de profunda tristeza, rumaram pra brandas da Taba do Cacique, Bar do Calixto e outros endereços.

(*) O autor é Presidente de Fundação Cultural Iaripuna

tatadeportovelho@gmail.com

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