quinta-feira, 13 de maio de 2010

DISCRIMINAÇÃO

MOCAMBO SUBLEVADO

*Por: Altair Santos (Tatá)

Domingo, dia das mães. O que seria a continuação de um final de semana festivo e repleto de alegria, por conta da comemoração do dia das mães, no Mocambo, teve outro desdobramento. Logo cedo, um misto de tristeza, indignação e revolta tomou conta dos moradores daquele histórico bairro, ante a manchete de capa de um matutino local que estampava até pra cego ver: “Mocambo é rei das bocas-de-fumo.” Dentro, do jornal, na ampliação da matéria, mais contundência: Mocambo “ainda” é o rei das bocas-de-fumo. O desassossego foi geral, os ânimos se exaltaram, o café da manhã com as mamães esfriou na mesa e o churrasco do almoço sequer foi pro fogo. O bicho pegou! Atravessávamos o Bairro Mocambo, do Areal em direção ao centro e optamos pela Rua Capitão Esron de Menezes que termina na Almirante Barroso para, adiante, pela General Osório, dar acessao a 7 de setembro no coração da capital. Porém a nossa trajetória fora interrompida pelo frenético movimento de moradores do Bairro Mocambo que acorriam para a aconchegante Praça São José. A praça, hoje palco das manifestações e comemorações religiosas, sociais e culturais do Mocambo, era, naquele momento, o pátio da injúria, do protesto. Diretores e brincantes do Bloco Até Que a Noite Vire Dia, católicos, evangélicos, estudantes e líderes comunitários corriam de um lado para o outro, conversando entre si e avaliando o estrago social da notícia. Pobre Mocambo e seus moradores! Geograficamente talvez o menor, dentre os menores bairros de Porto Velho fora, após décadas de luta contra a discriminação, alvejado no peito sem que ninguém – antes dos dados divulgados – lhes procurasse pra conhecer a história de transformação ali existente. Não acreditamos em força repressiva que expõe em manchete de jornal, dados ou detalhes de operação em curso. O ato da investigação nos parece que deve se dá em sigilo para não comprometer o êxito pretendido. E se assim não o for que os textos a serem divulgados sejam zelosos e respeitosos com as pessoas de bem. Os moradores do mocambo são poucos. A bonita história de trabalho, de educação, cultura, esporte e amor à cidade, é esquecida por muitos noticiosos em detrimento dos desajustes sociais de um passado distante. O bairro é parte da cidade, logo, propenso a vivenciar as coisas boas e ruins que acontecem neste mundão de meu Deus, portanto, é desnecessáriio que o jornal lhe confira o pejorativo título de “rei da droga”. Se é fato que lá tem vendedor de drogas, estes informes devem resultar de conhecimento de campo investigativo. Então onde estão? Quem são? Em que rua? Já que sabem disso vão lá e os prendam. A comunidade do Mocambo não se desinteressa ou abre mão da defesa pública. Porém exige ser tratada como comunidade que precisa da sua integridade moral para seguir adiante, criando seus filhos, realizando suas ações, somando para o contexto histórico da cidade, interagindo com os poderes e outros segmentos, sem a pedra que lhe fora atirada contra o quengo. Há anos, no Mocambo, se ouve falar de comemorações festivas, sociais e culturais como dia das mães, dia dos pais, festa de são José (padroeiro do bairro), festa da padroeira do município, dia das crianças, natal, ano novo e carnaval. Lá também os segmentos organizados da comunidade, ou seja, o bloco, os religiosos e os jovens fazem ação solidária, se preocupam com o próximo em busca de vida digna e harmônica. Ei Mourão, Márcio, Ernesto, Maracanã, Sílvio e Bainha, Misteira e Mávilo, vamos fazer um Canta Mocambo! Vamos entoar o mais fervoroso refrão dali: “amanhacer no mocambo.”

(*) o autor é músico e cidadão portovelhense.

tatadeportovelho@gmail.com

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