sexta-feira, 30 de abril de 2010

Revista ISTOÉ denigre Rondônia nacionalmente - Alex Sakai

Outro ponto que demonstra desconhecimento e desrespeito com a população é a citação de que (sic) “Rondônia contabilizava 1,5 milhões de habitantes, quase 60% de analfabetos funcionais”.

A Revista ISTOÉ, em sua edição de 28 de abril, publicou uma matéria intitulada energia solidária que demonstra um grande desconhecimento e presta um serviço de desinformação sobre o Estado de Rondônia.

Ao buscar dar foco a um projeto desenvolvido pela construtora da Usina Hidrelétrica Santo Antônio, a revista pinta um quadro artificial, dando a entender que antes da chegada da Usina o Estado de Rondônia era apenas um (sic) “encravado no meio da Amazônia, onde a população trabalhava com extrativismo de minérios e da floresta”.

Rondônia é um jovem Estado, mas que desde sua criação teve sempre um desenvolvimento avassalador. Segundo o Professor Francis Bernier, da Sociedade Geográfica de Paris, que desenvolveu um estudo sobre Rondônia, publicado sob o título de “Rondônia La terre de Promise” (Rondônia: a Terra prometida), o Estado se tornou a maior frente de colonização do mundo, desde sua criação. Primeiro pela colonização protagonizada pelo INCRA, que na década de setenta trouxe um milhão de brasileiros que sonhavam com a terra prometida. Depois com a expansão da agropecuária que abastece de carne o mercado interno e exporta para o mundo. Não sei se o repórter sabe que os maiores produtores de carne do país têm fazendas em Rondônia, que tem gado livre de aftosa. Rondônia também tem trabalhadores rurais organizados que exportam café para a Europa, através do mercado Justo. Possui também Associações que trabalham com agroecologia como a RECA e a APA que exportam palmito, biojóias, couro vegetal, mel, bombons de castanha, polpa de frutas e alguns já são certificados como produtores orgânicos, ou seja, não é extrativismo, é agroindústria.

Outro ponto que demonstra desconhecimento e desrespeito com a população rondoniense é a citação de que (sic) “Rondônia contabilizava 1,5 milhões de habitantes, quase 60% de analfabetos funcionais”. Não sei se o repórter serviçal sabe, mas só a capital Porto Velho conta com treze estabelecimentos de ensino superior, com cursos de todas as áreas, fazendo com que hoje, Rondônia tenha uma população estudantil que rivaliza com centros mais avançados do país, tendo recebido boas notas do ENAD. Inclusive algumas conseguindo conceito “A”.

Entendemos que a construção das usinas é um ponto marcante no desenvolvimento do Estado, dado o vultoso investimento e a grandiosidade da obra. Mas desconhecer que além da usina, Rondônia faz parte, hoje, de um projeto estratégico que envolve o comércio com os outros países sul americanos e com o oriente, através da “saída para o pacífico”, que há anos vem sendo organizada por países andinos e o Brasil, para que haja uma nova alternativa de comércio com a Ásia, em especial a China, consumindo milhões em recursos que estão virando pontes, estradas, portos e ferrovias, é um deslize monumental da revista.

Ao se fazer apologia do programa desenvolvido pelo consórcio de construção das Usinas, a revista tenta construir um pioneiro artificialmente, colocando o dirigente da empresa como um personagem central, dedicando diversos parágrafos para discorrer sobre o périplo do engenheiro e citando-o nominalmente sete vezes na matéria, com direito a negrito. Ora, Não sei se o repórter sabe, mas Rondônia não precisa de pioneiros construídos artificialmente com matéria pagas. Os “destemidos pioneiros”, que são exaltados no hino do Estado, constroem no meio da selva amazônica, há décadas, um lugar aprazível, como dizia o grande Darci Ribeiro, um Estado pujante como diz Francis Bernier. E pioneiro por pioneiro Rondônia tem o Marechal Rondon. Verdadeiro Pioneiro que dá nome ao Estado.


Alex Sakai

Jornalista
Espontaneidade e reivindicações na entrega do 10 Prêmio de Expressões Culturais Afrobrasileiras
- ( Cultura )

Os 20 ganhadores do 10 Prêmio de Expressões Culturais Afrobrasileiras receberam seus prêmios na noite desta terça-feira em Brasília, numa festa marcada pela espontaneidade, reconhecimento da importância da iniciativa e solicitação por sua continuidade. Manoel dos Santos Júnior do Projeto Lagoa da Pedra e a Roda de São Gonçalo, de Tocantins, falou em nome dos vencedores e afirmou que só a divulgação da conquista já abriu novas oportunidades para o grupo: “É fundamental essa chance para a cultura afrobrasileira. O segmento agora está mapeado e muito bem falado. Vai ajudar as iniciativas existentes e novas que poderão surgir.”

Na mesma linha a presidente do Cadon (Centro de Apoio ao Desenvolvimento Osvaldo Neves), Ruth Pinheiro, lembrou que foi a mobilização de parcerias e dos artistas que viabilizou o prêmio: “A cultura afrobrasileira merece e precisa da continuidade deste prêmio, que é fruto de muita luta”. Ruth entregou os certificados aos vencedores na categoria artes plásticas.

O presidente da Fundação Palmares, Zulu Araújo, entregou os prêmios da categoria teatro e afirmou que era a concretização de um sonho: “Esse prêmio possibilita alcançar o Brasil de maneira transparente, democrática e inclusiva, além de permitir a descoberta de novos talentos e estimular o desenvolvimento da cultura afrobrasileira”.
Zulu anunciou o lançamento de três novos editais pela Fundação, um direcionado ao aniversário da entidade, outro focado em idéias criativas e um direcionado à juventude negra.

José Samuel Magalhães, gerente de comunicação da Petrobras nas regiões Centro Oeste e Norte e em Minas Gerais, destacou a descentralização dos ganhadores: “Na Petrobras ficamos muito satisfeitos com o fato do prêmio ter chegado aos pequenos projetos de regiões geralmente não contempladas. É importante agora que o setor realize as atividades comprometidas e mantenha a mobilização para ressaltar a importância da iniciativa e sua manutenção. Ele entregou os prêmios na categoria dança.

Espontaneidade e reivindicação - A festa foi marcada pela descontração e espontaneidade, embora com forte teor reivindicatório. Um dos destaques foi na hora da premiação de Rubens Barbot, quando, incentivado pela platéia aos gritos de “dança, dança” o artista do Rio de Janeiro atendeu. Na falta de instrumentos musicais ou trilha sonora preparada, a atriz Zezé Mota, apresentadora do prêmio junto com o ator Antônio Pompêo, cantou e Barbot dançou.

Ainda durante a entrega Hamilton Sá Barreto, do projeto Emí- a concepção yorubana do universo, do Pará, ressaltou o valor do prêmio para a região norte do país e reivindicou a criação de políticas culturais de caráter permanentes com a inclusão da região. Concluiu sob aplausos: “O país tem que saber que a região Norte não se escreve com a letra M.”
O ator e diretor Hilton Cobra, o Cobrinha, da Cia dos Comuns defendeu que as grandes empresas públicas tenham políticas culturais inclusivas: “Todas as comissões de seleção dos editais devem ser realmente democráticas e atenderem à diversidade do país, com representantes afrodescendentes em suas composições”. Segundo disse, é uma forma de levar novas visões às instâncias que decidem apoio aos projetos.

O prêmio - Aberto com a apresentação do Grupo Cabeça Feita, a festa no Museu da República contou a presença de membros de representações diplomáticas de países como Angola, Moçambique, Cuba, Panamá e Cabo Verde, além do diretor do Departamento de África do Ministério das Relações Exteriores, Fernando Simas.

O prêmio é uma iniciativa do Centro de Apoio ao Desenvolvimento (Cadon) e da Fundação Palmares, com patrocínio da Petrobras, por meio da Lei Rouanet do Ministério da Cultura. Ao todo foram distribuídos R$1.100.000,00 para 20 projetos de três categorias artísticas com estética negra contempladas nesta edição: teatro, dança e artes visuais.

Os projetos – Os projetos ganhadores em todo o país são os seguintes: categoria dança: Acorda Raça – Resgate e Preservação da Cultura Negra como Instrumento de Conscientização e de auto-estima (Paraná ); Bata-Kotô (Distrito Federal); Dança Afro-Brasileira nas Escolas (Alagoas); Elegbará – O Guardião da Vida (Pará) e 40 + 20 – Rubens Barbot (Rio de Janeiro). Na categoria teatro: Emi – A Concepção Yorubana do Universo (Pará); Mãe Coragem (Rio Grande do Sul); No Muro – Ópera Hip Hop (Distrito Federal); Oficina Comuns (Rio de Janeiro) e Ogum – O deus e o Homem (Bahia). Em artes visuais foram: Arte Resgatando o Quilombo (Santa Catarina); Essas Mulheres (Rondônia); Memórias de Sombras (São Paulo); Mestre do Coco Pernambucano (Pernambuco); Negro por Inteiro (Mato Grosso); Animais de Concreto (São Paulo); E o Silêncio Nagô Calou em Mim (Distrito Federal); Invernada dos Negros (Rio Grande do Sul); Lagoa da Pedra e a Roda de São Gonçalo (Tocantins) e Zeladores de Voduns de Benim ao Maranhão (Maranhão).


Fonte : ImagemNews.com.br Autor : IAA Comunicação

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Beto Ramos


E amanhã???



Diz à lenda que precisamos de ações e atividades que valorizem os artistas de Porto Velho. Vivemos em um mundo globalizado, onde as culturas industrializadas invadem a vida dos nossos jovens com uma velocidade assustadora. Precisamos desenvolver com todas as parcerias possíveis, projetos culturais que possam fazer a população, conhecer, relembrar e contar a sua história. Sair da mesmice, criar círculos de debates, oficinas em todos os bairros que possam despertar nos jovens o prazer pela cultura. Resumindo-se a poucos grupos, a cultura torna-se um circulo vicioso, onde poucos mandam e muitos ficam sem informação. Possuímos variados movimentos culturais que de sombra em sombra vão ficando na escuridão total. Precisamos de engajamento, de pessoas que façam acontecer, que tragam aos jovens o desejo de cantar, representar, dançar e acima de tudo, através de atividades culturais tornarem-se cidadãos de bem, que possam contribuir com a nossa sociedade para uma Porto Velho melhor. Precisamos fazer com que nossa população tenha o hábito de freqüentar os espaços culturais em nossa capital beradeira. Quais os espaços? Bem, podemos contar nos dedos de uma só mão, e olhe lá, e descobriremos que falta investimento para que as pessoas possam sair de casa e ter uma agenda de atividades culturais, ter onde ir, convidar familiares, levar amigos e turistas para conhecer a história de Porto Velho. Vamos ao Mercado Cultural, a Praça Marechal Rondon, Praça Getúlio Vargas, a Feira do Porto, ao Teatro Banzeiros, conhecer a Madeira Mamoré. Vamos fazer atividades culturais planejadas nestes espaços. Viva a Flor do Maracujá, Viva o carnaval. Mas, precisamos de uma agenda anual de atividades para a nossa população. Nossas quadrilhas e Bumbas são lindos, Escolas e blocos idem. Mas, alguma coisa industrializada já nos faz sentir saudades de ontem. Claro que é preciso inovar. É preciso levar para o mundo. Mas, também é preciso que se preservem alguns valores tradicionais. Diz a lenda, que são poucos os setores que defendem as nossas tradições. Precisamos aplaudir de pé o Zekatraka, O Ernesto, O poeta Mado, O Ivo Feitosa, O Anísio Gorayeb, O Maraca, O Bubu, o Oscar, o Tatá quando ele está. E tantos outros que nós sabemos que estão nesta luta de Davi contra Golias. Diz à lenda que estas pessoas fazem acontecer em suas respectivas áreas de atuação. Mas, precisamos planejar o futuro. Fazer do amanhã sementes que foram plantadas hoje. Diz à lenda que o caldeirão cultural está em ebulição dentro de Porto Velho. Precisamos ter algo para contar amanhã. Entra ano e termina ano, e as mesmas noticias, mesmas brigas, com mesmos causadores. Vamos fazer de um entardecer no Rio Madeira o cenário ideal para repensarmos o que poderemos deixar para as gerações futuras. Fechando este texto, falta a alguns, a elegância do Mestre Oscar. Elegância no modo de tratar e respeitar os nossos artistas e mesmo os que não sejam artistas, mas que lutam para o crescimento cultural da nossa capital beradeira.







Beto Ramos – Fotógrafo e Restaurador de imagens antigas

CINEMA

CURTA AMAZÔNIA

Festival traz filmes

inéditos para RO

São filmes que ainda não participaram de nenhum Festival de Cinema Nacional

Os organizadores do 1º Festival de Cinema Curta Amazônia, que vai acontecer em Porto Velho entre os dias 25 e 29 de maio, selecionou uma série de filmes “inéditos em festivais”, feito por diretores super bacanas do cinema brasileiro.

Entre os filmes que o público de Porto Velho vai apreciar destacamos: Erotikós-corpos em movimento, direção Melina Curi, SC. Água Mineral, direção Cleuberth Choi, DF. Bem Educado, direção Douglas Ribeiro, GO. Beto Lima - O intérprete das Flores, direção Cândido Alberto, MS. Carrapatos e Caatapultas, direção Almir Correia, PR. Doce Turminha-e a bola cor de chiclete, direção Eduardo Drachinski, SC. Ererua, direção Andréia Fortini, RO. Ninho dos pequenos, direção Ulisses Costa, RS. No escritório, direção Waldecir de Oliveira, RJ. Número Zero, direção Claudia Nunes, GO. Os anjos do meio da praça, direção Ale Camargo e Camila Carrossine, SP. O homem dela, direção Luiz Joaquim, PE. O mala, direção Jair Rangel, RO. O Paraíso é isso!, direção Ana Paula Teixeira, CE. Olhar de João, direção Mariley Carneiro, GO. Ore vaki are-retorno dos Juma, direção Andréia Fortini, RO. Pacaás: Entre o sonho e a realidade, direção Maria Antônia, RO. Rupestre, direção Paulo Miranda, GO. Ser digital é..., direção Ney Ricardo da Silva, AC. Vou mandar pastar, direção Otávio Pacheco, SP. 1:21, direção Adriana Câmara, PE. Um olhar sobre o progresso, direção Marivaldo Lago, Nova Mamoré/RO. Uma viagem a bandeira, direção Francisco Lago, Nova Mamoré/RO. O último suspiro, direção Evandro Mesquita, PE. Recife Cold, direção Tiago Bacelar, Camila Nascimento, Douglas Deo, Thiago Rocha e Marina Paula, PE.

São filmes que ainda não participaram de nenhum Festival de Cinema Nacional, por isso o “ineditismo” aqui em Rondônia, isso demonstra bons contatos com os realizadores independentes e alternativos de cinema desse imenso Brasil, que contribuem para o aumento da produção cinematográfica nacional.

“É de suma importância estarmos contribuindo para esse crescimento, divulgando e dando mais visibilidade aos filmes regionais e nacionais, feito por brasileiros para serem vistos por brasileiros de forma gratuita”, afirma Carlos Levy, Organizador do Festival de Cinema Curta Amazônia.

Maiores informações: festival@curtamazonia.com / www.curtamazonia.com

quarta-feira, 28 de abril de 2010

O Samba pede passagem

Beto Ramos (*)


Boteco ou botequim são termos oriundos do português de Portugal botica, e do espanhol da Espanha bodega, que por sua vez derivam do grego apothéke, que significa depósito.

Em Portugal a botica era um depósito, ou loja onde se vendiam mantimentos e miudezas, mesmo significado se atribui à bodega espanhola.

No Brasil, o boteco ou botequim ficou tradicionalmente conhecido como lugar de encontro entre "boêmios", onde se procura uma boa bebida, petiscos baratos e uma boa conversa sem compromisso. Diz à lenda que em Porto Velho, O Butiquim do Samba deriva-se da força de vontade de Carlinhos Maracanã e Sônia Maria. Vindo do rádio, o programa reúne os melhores sambistas da nossa capital beradeira. Nas terças cheias de alegria dentro do Mercado Cultural, a gravação do programa tornou-se um ponto de encontro, não só de sambistas, mas também de colunistas sociais, jornalistas e um público que começa a se habituar ao movimento cultural que começa a crescer em nossa capital beradeira. Sou amigo particular do agitador cultural Carlinhos Maracanã, e sei o quanto o mesmo luta para defender e levar a história do samba ao nosso povo. O Butiquim possui a essência dos nossos sambistas. E diz a lenda que esta essência é o respeito e um espaço digno para a divulgação dos nossos artistas. Se não dermos oportunidades, não acreditarmos, como poderemos consolidar a história do nosso povo. Diz a lenda que o Maraca corre para lá e para cá, explica, divulga e o principal na minha humilde opinião, necessita de apoio, e de quem acredite e invista na proposta do programa apresentado aos sábados junto com a Sônia Maria. Sinceramente eu acredito. E faço a minha parte não como amigo, mas como alguém que acredita que tudo pode dar certo, e que podemos e devemos acreditar nos nossos artistas. Aos críticos de plantão ficam as nossas considerações pelo incentivo com seus comentários, pois a artista precisa sim de críticas construtivas. E vamos todos ao Butiquim. Bater aquele papo num cenário histórico que é o Mercado Modelo, participar da gravação do programa e assim ajudarmos a escrever mais um capítulo da história da cultura da nossa capital beradeira. Diz a lenda que em Porto Velho, Butiquim é um termo oriundo do esforço também dos nossos cavaleiros armados com seus talentos vindos da margem direita do madeira.



(*) O autor é fotografo e restaurador de imagens antigas.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

AGENDA CONEGRO

CONEGRO.

Conselho Municipal de Cidadania Negra.


As constantes reuniões realizadas na Fundação Iaripuna, dão conta dos trabalhos do Conegro, para definição do calendário de atividades do ano de 2010.

Os chamados (GTS). Grupos de Trabalho estão acelerando suas reuniões para darem conta no tempo pré-estabelecidos pela Fundação Palmares, para apresentação de proposta e ações a serem desenvolvidas pelo Conselho.

Segundo a Presidente Ana Maria, tudo deve estar pronto até início de junho, para ser discutido pelos conselheiros e apresentado à sociedade através de audiências públicas, via Câmara Municipal de Porto Velho.

Algumas ações, já estão em andamento, tendo em vista, já fazerem parte do calendário de atividades de algumas Secretarias, caso da Educação, da Saúde e Ação Social.

O CONEGRO, vem se reunindo com os GTS, na Fundação Iaripuna, Fim de semana, feriado e dias úteis, para dar conta da agenda, mas, não se pode deixar de cobrar de alguns conselheiros, que simplesmente desapareceram das reuniões e de suas funções, depois não reclamem.


Carlinhos Maracanã
GT/ Comunicação.
CONEGRO.


maracapvh@gmail.com
j.carlos.alves2010@bol.com.br

sexta-feira, 23 de abril de 2010

A MÃE DO SAMBA

TIA CIATA

* Colaboração: Butiquim do Samba


Por Fabio Gomes
A imagem que temos hoje de Tia Ciata surgiu em maio de 1949, quando o radialista e pesquisador Almirante realizou na Escola Nacional de Música (Rio de Janeiro) a conferência O Samba Não Nasceu no Morro, com o apoio musical de Aracy de Almeida e O Pessoal da Velha Guarda. Almirante buscou demonstrar que era uma lenda afirmar que o samba teria nascido no morro; ele seria, ao contrário, o resultado de uma série de manifestações de origem negra que se concentraria, particularmente, na Cidade Nova. Citou como exemplo que o "Pelo Telefone", que considerava o primeiro samba gravado, nasceu em 1916 na casa de tia Ciata, na Rua Visconde de Itaúna, 117, freqüentada por músicos que nunca haviam morado no morro. As festas na casa de tia Ciata serviam ainda para a divulgação de sambas novos, pois o rádio ainda não existia, as festas da Penha aconteciam apenas nos domingos de outubro e era difícil o acesso dos compositores mais humildes aos empresários do teatro de revista para colocar suas músicas.
Almirante fixou, portanto nesta conferência não apenas o modo como Hilária Batista de Almeida seria conhecida pela posteridade - seu apelido variava até então entre Ciata, Asseata, Assiata, Siata, Seata e Asseiata - mas também o seu caráter de uma anfitriã do samba, aspecto ao qual foi sendo dada gradativamente maior importância à medida que "Pelo Telefone" deixou de ser considerado apenas o primeiro samba gravado, para ser apontado como o primeiro samba a ser composto. Passa-se então a se referir a casa de tia Ciata, ou mais especificamente o seu quintal, como "o berço do samba", e nisso se resume quase tudo o que dela tem sido dito (inclusive poucas vezes se tem buscado apontar as causas que tornariam sua casa tão especial).
Muitos outros sambas foram gravados e muitos mais ainda compostos antes do "Pelo Telefone", que, deste modo, não tem como ser considerado um "ponto inicial" do samba, embora seja inegável seu papel histórico de ter sido o primeiro samba a fazer grande sucesso no Carnaval carioca, sendo cantado em toda a cidade, e não apenas no círculo que o gerou, como era comum até então. Felizmente o valor de tia Ciata não se resume o seu hipotético papel de ser a dona do quintal "berço do samba".
Embora da pessoa, mesmo, de tia Ciata poucas informações circulem, a simples menção do seu nome desperta um sentimento positivo em quem ouve. Certamente foi por isso que os cariocas Leandro Braga (pianista), Carlinhos Sete Cordas (violonista) e Armando Marçal, Marcelinho Moreira, Ovídio Brito e Zero (percussionistas) deram o nome de "Tia Ciata" a seu grupo de samba instrumental.
Não foram nada positivas, porém, as menções que o jornalista João do Rio fez a tia Ciata na Gazeta de Notícias em 1904. Ele publicou nesse jornal carioca uma série de textos sobre as diversas práticas religiosas existentes então na capital federal. Estes textos são considerados hoje o marco inicial da reportagem no Brasil - pela primeira vez um jornalista saía da redação e ia às ruas em busca do assunto sobre o qual escreveria. Só o fato de os textos terem sido publicados no mesmo ano em livro (intitulado As Religiões do Rio) e de este ter merecido uma segunda edição (fato raro na época) já em 1906 atesta seu sucesso.
A série abre falando dos cultos afro-brasileiros (qualificados por João do Rio como "feitiços"). Tia Ciata aparece como Assiata em três desses textos: "As Iauô" (12 de março), "O Feitiço" (14 de março) e "A Casa das Almas" (16 de março). O autor a considera uma "feiticeira de embromação", que fingia ser mãe-de-santo e trabalharia com "três ogans falsos" ("João Ratão, um moleque chamado Macário e certo cabra pernóstico, o Germano."). Seria ainda uma "exploradora", uma "negra baixa, fula e presunçosa". O fato de Assiata, em sua visão, não ser uma legítima mãe-de-santo teria sido a causa de uma grande confusão em sua casa, na Rua da Alfândega, 304, quando "meteu na festa de Iemanjá algumas iauô feitas por ela", o que causou "um escândalo dos diabos": "os pais-de-santo protestaram, a negra danou, e teve que pagar a multa marcada pelo santo." Acusou-a ainda de ter posto "doida" uma "senhora distinta" da Tijuca, "dando-lhe misturadas para certa moléstia do útero." João do Rio não informa o que a teria levado a fazer isso. Talvez não considerasse necessário, pois em As Religiões do Rio ele afirma que todos os praticantes de cultos afro-brasileiros eram "feiticeiros" que "formigam no Rio, espalhados por toda a cidade, do cais à Estrada de Santa Cruz" e que estavam espalhando o mal fora do limite do "estreito meio dos negros". Não era, portanto, algo pessoal de João do Rio contra tia Ciata. Por essa mistura da opinião do autor com a exposição do fato ao leitor, a série As Religiões do Rio dificilmente seria considerada reportagem no quadro jornalístico atual, estando mais para o ensaio.
Bem, ao menos o endereço de Ciata fornecido por João do Rio está livre de contestação. Com efeito, ela ainda morava no Centro nesta época. Aliás, residia na Rua da Alfândega desde que chegara da Bahia, provavelmente em 1870 (ou pouco depois). Nascida em Santo Amaro da Purificação no dia de São Jorge, 23 de abril, em 1854, teria então 16 anos. Mesmo tão jovem, já participara da fundação da Irmandade da Boa Morte, em Cachoeira, outra cidade do Recôncavo baiano. A Irmandade existe até hoje e é do seu acervo a foto de tia Ciata que ilustra este texto (pela qual agradecemos a Valmir da Boa Morte).
Ao chegar à Corte, Ciata foi morar na casa do baiano Miguel, casado com outra conterrânea, Amélia Quindunde. A residência do casal na Rua da Alfândega era uma espécie de "consulado baiano" no Rio. Por essa época, começavam a chegar à capital grande número de ex-escravos baianos, que tinham saído da terra natal levados para trabalhar nas lavouras de café do Vale do Paraíba, na província do Rio de Janeiro; essa migração foi aumentando conforme se aproximava o fim do regime escravocrata e continuou após a assinatura da Lei Áurea (1888). Perto do final do século 19, baianos e nordestinos que haviam sido soldados nas expedições enviadas contra Canudos também se fixaram no Rio.
A maioria escolhia a região central da cidade, indo morar nas casas de cômodos, também chamadas cortiços ou cabeças-de-porco. Estes palacetes construídos ao tempo da Colônia ou do Império estavam sendo abandonados pela antiga nobreza, incomodada pelo aumento da população pobre na área abrangida hoje pelo Centro e área portuária (Saúde, Gamboa, Santo Cristo, Morro da Providência ou da Favela), incluindo inicialmente os morros do Castelo e Santo Antônio (demolidos mais tarde) e avançando depois em direção à Zona Norte (morros da Mangueira, Salgueiro e Santos Rodrigues, também chamado de São Carlos e hoje mais conhecido como Estácio).
No começo do século 20, quase um quarto da população carioca vivia em cortiços, mesmo com as sucessivas campanhas da Prefeitura contra esse tipo de habitação, ora apontada como a causa de epidemias como as de varíola e febre amarela, ora como fator de insegurança do restante da população. Foi pensando em saneamento que o prefeito Barata Ribeiro ordenou a derrubada de cabeças-de-porco em 1893. Já a famosa política do "bota-abaixo" de seu sucessor, Pereira Passos, em 1904, visava tornar o Rio de Janeiro uma cidade capaz de rivalizar com as maiores capitais européias, tendo Paris como modelo assumido. A partir daí, como o Centro não mais poderia ter casas de cômodos, seus antigos ocupantes se transferiram para a Zona Norte ou para a Cidade Nova - caso de tia Ciata, que se estabeleceu então no famoso endereço da Rua Visconde de Itaúna, 117, em frente à Praça Onze, onde morou até morrer, em 1924. O casarão era uma legítima casa de cômodos, com seus 6 quartos, 2 salas, um longo corredor e quintal com árvores (um abacateiro, ao menos). Parte da família seguiu, porém, morando na Rua da Alfândega: foi lá que em 1909 nasceu Bucy Moreira, mesmo com a determinação de Ciata para que seu neto viesse ao mundo no casarão. Poucos meses depois, o futuro grande sambista mudou-se com a família para a Rua Minervina, perto da Praça Onze.
Além da Prefeitura, a imprensa também não tinha em bom conceito a Cidade Nova: em 1905 a revista Renascença publicou uma matéria intitulada "Onde moram os pobres", mencionando a Visconde de Itaúna como uma das ruas onde as casas de cômodos escondiam "a negra miséria de uma população enorme". É difícil avaliar hoje o real teor racista da expressão "negra miséria" nesse contexto. De todo modo, é bom acrescentar que eram vizinhos de tia Ciata também imigrantes italianos, caixeiros, tipógrafos e funcionários públicos. (A Visconde de Itaúna não existe mais, desapareceu quando das obras para a abertura da avenida Presidente Vargas)
Ah, e claro, a afirmação de João do Rio sobre tia Ciata ser falsa mãe-de-santo não tem o menor fundamento. Ela chegara ao Rio já iniciada: tivera a cabeça feita ainda na Bahia, no Ilê Iyá Nassô do Engenho Velho. No Rio, tornou-se filha-de-santo de João Alabá, de Omulu, cuja casa era considerada uma filial carioca de uma dissidência do Ilê Iyá Nassô em Salvador, o Ilê Axé Opô Afonjá. Antes de ter sua própria casa de candomblé, tia Ciata chegou a ser Mãe Pequena (ou seja, a substituta imediata do Babalorixá) da casa de João Alabá, que ficava na rua Barão de São Félix, no caminho da zona portuária para a Cidade Nova. Também eram filhas-de-santo de Alabá outras baianas amigas de tia Ciata: tia Amélia do Aragão (Amélia Silvana de Araújo, mãe de Donga), tia Preciliana do Santo Amaro (Preciliana Maria Constança, mãe de João da Bahiana), tia Mônica, tia Bebiana, tia Gracinda (esposa do sacerdote islâmico Assumano Mina do Brasil), e tia Sadata.
(Acrescente-se que, numa das poucas músicas que mencionam tia Ciata, é destacada sua ligação com os cultos afros. Na letra de "Quero Ser Teu Funk", composta em 1991 de parceria com Dé e Liminha, Gilberto Gil recomenda ao Rio de Janeiro: "Lembra da Bahia, que um dia/ Já mandou Ciata, a tia/ Te ensinar quizomba nagô").
Ainda morando em casa do "cônsul" Miguel, tia Ciata começou a vender doces, estabelecendo-se com tabuleiro na esquina das ruas Sete de Setembro e Uruguaiana. O cronista carnavalesco Vagalume afirma no livro Na Roda do Samba, publicado em 1933, que Ciata (a quem chama ora Asseata, ora Asseiata), quando moça, "era da classe das negas cheirosas" e chamava a atenção pelo trajar. Vestindo "saia bordada a ouro ou seda, sandália acompanhando o bordado da saia", era admirada por outras baianas. Isto fez com que, mais adiante, Ciata ampliasse seu campo de atuação, primeiro alugando roupas como as suas para outras baianas de tabuleiro, vindo depois a manter uma equipe de vendedoras de doces a seu serviço nas esquinas do Centro. Tudo isso sem tirar seu tabuleiro da rua, pois Vagalume informa que ela vendia doces "mesmo depois de velha". Essa era, segundo o cronista, a forma com que Ciata procurava ajudar o marido, o também baiano João Batista da Silva. João Batista iniciara - mas não concluíra - o curso de Medicina na Bahia, e durante boa parte da vida no Rio trabalhou na Imprensa Nacional. O casal teve 26 filhos.
Em seu trabalho na rua, tia Ciata não parece ter enfrentado problemas como os que sua conterrânea tia Tereza tinha com a polícia. Por algum motivo, a autoridade policial não queria que tia Tereza mantivesse o tabuleiro no Largo de São Francisco, transferindo-a para a Rua Uruguaiana, junto à grade da Igreja do Rosário. Como a implicância seguiu mesmo no endereço que o próprio chefe de Polícia havia fixado, ela conseguiu que Vagalume, que trabalhava no Jornal do Brasil, intercedesse junto ao coronel Meira Lima, garantindo-lhe que pudesse vender seus quitutes em paz na esquina das ruas do Rosário e Gonçalves Dias. Tia Tereza não vendia doces como tia Ciata; servia angu à baiana, picadinho com batata, arroz, carne assada, fígado de cebolada, lingüiça frita, peixe frito, farofa de ovo e mingau. Tendo trabalhado sempre à noite - talvez pelo fato de ser esposa do guarda-noturno Chaves -, a exposição contínua ao sereno lhe trouxe com o tempo problemas de saúde, o que fez com que tia Tereza passasse a atender a fiel freguesia em sua casa, à Rua Luiz de Camões.
A casa de tia Tereza já era conhecida por outros motivos: pelo abrigo que oferecia a órfãos, viúvas e menores abandonados (como observa Vagalume, "sem que a polícia lhe indenizasse as despesas de estadia de dias, semanas e às vezes, meses"); pelo busto de D. Pedro I na sala de visitas; e pelas afamadas festas que promovia. Uma delas, em honra a São Cosme e São Damião, teve tia Gracinda como rainha. O filho de tia Gracinda, Didi, era assíduo nas festas em casa de tia Tereza, a quem homenageou com este samba:
"Esta gente enfezada/ Que nas pernas tem destreza/ Vem cair na batucada/ Na casa da tia Tereza./ Baiana do outro mundo/ Eu sinto a perna bamba/ O meu prazer é profundo/ Aqui na roda do samba."
Sua condição de saúde, mais a campanha do prefeito Pereira Passos contra as casas de cômodos do Centro, certamente contribuíram para a decisão de tia Tereza de voltar para Maragogipe, no Recôncavo baiano, onde nascera e de onde trouxera o apelido Tetéia (suas amigas baianas do Rio só a chamavam assim). Perdiam os sambistas um grande ponto de encontro. Diz Vagalume que "quer no tabuleiro, quer na residência da tia Tereza, é que os sambistas sabiam das novidades. Qualquer brincadeira que houvesse, tinha que ir ali - ao bureau de informações."
Sendo irrevogável a decisão de tia Tereza seguir com Chaves para junto de seus parentes, só restava aos sambistas buscarem novo bureau. Se alguns podem ter ido para outro samba afamado da época, o de João Alabá, é certo que muitos preferiram a nova casa de tia Ciata, na Visconde de Itaúna, estrategicamente localizada perto da Praça Onze, da sociedade recreativa Paladinos da Cidade Nova - e, mais tarde, da sociedade carnavalesca Kananga do Japão (fundada como rancho em 1910). E bota "muitos" nisso: nos cerca de 20 anos que Ciata morou na Cidade Nova, freqüentaram sua casa outras tias baianas famosas na época - além de suas amigas que também eram filhas-de-santo de Alabá, acrescentem-se tia Dadá, tia Veridiana (mãe de Chico da Bahiana), tia Josefa Rica e tia Tomásia -, o jornalista Vagalume, o ator Alfredo de Albuquerque e importantes nomes da música popular como Hilário Jovino Ferreira, Donga, Pixinguinha, João da Bahiana, Heitor dos Prazeres, Sinhô, Caninha, Didi da Gracinda, Marinho que Toca (pai do compositor Getúlio Marinho), Mauro de Almeida, João da Mata, João Câncio, Getúlio da Praia, Mirandella, Mestre Germano (genro de Ciata), China (irmão de Pixinguinha) e Catulo da Paixão Cearense. Jota Efegê inclui João do Rio na relação, o que parece improvável, a julgar pelo que este escrevera contra a dona da casa em As Religiões do Rio.
Tal preferência não pode ser atribuída apenas à mera localização da residência. Outra passagem do livro Na Roda do Samba, de Vagalume, pode ajudar a esclarecer a questão. Depois de falar de como tia Ciata seguia vendendo doces para ajudar o marido, informa que
"Nos dias de samba, candomblé ou carnaval, João Batista não podia contar com a esposa.
Em dia de candomblé, porque, como boa Mãe-de-Santo, ia ver arriar os orixás e levava em sua companhia as filhas Isabel, Pequena e Mariquita.
Em dia de samba, ela estava dentro da roda.
Quando era carnaval esquecia tudo, porque, foliona de primeiríssima, transformava a sua casa, quer na rua da Alfândega, quer ultimamente na rua Visconde de Itaúna (onde faleceu) em verdadeira Lapinha. Rancho que saísse e não fosse à casa da Asseiata - não era tomado em consideração, era o mesmo que não ter saído.
Os sambas na casa de Asseiata eram importantíssimos, porque, em geral, quando eles nasciam no alto do morro, na casa dela é que se tornavam conhecidos da roda. Lá é que eles se popularizavam, lá é que eles sofriam a crítica dos catedráticos, com a presença das sumidades do violão, do cavaquinho, do pandeiro, do reco-reco e do 'tabaque'."
Aí está: além de receber os sambistas, como tia Tereza, ou recebê-los e ter em sua casa um centro de candomblé, como João Alabá, tia Ciata também fez de sua casa ponto de saída de ranchos carnavalescos - atividade a que tia Tereza não parece ter se dedicado, e que recebeu atenção apenas esporádica de Alabá (ele formou um rancho em estilo africano, que desfilou um ano só, em 1906). É digno de destaque também que ela, além de abrir sua casa para os sambistas, participava ativamente dos sambas que marcavam festas que ficaram famosas, como as que fazia para Cosme e Damião, em setembro, e para Oxum, em dezembro. Desde seus primeiros tempos no Rio, a beleza de Ciata e sua graça ao dançar já chamavam a atenção. Era exímia no miudinho, cujos passos ensinou a Bucy Moreira. Além disso, era partideira de destaque, sendo até apontada como uma das verdadeiras autoras do "Pelo Telefone" (chegamos lá). Essa enumeração de fatores que influíam na predileção dos sambistas pela casa de tia Ciata não estará completa sem que se mencione a relação que ela mantinha com a polícia.
Ao contrário do que costuma se afirmar, não havia nenhuma lei proibindo o samba no começo do século 20. Se considerarmos apenas o período que vai do sucesso do "Pelo Telefone" (1917) à morte de Ciata (1924), veremos que, em todos estes sete anos, sambas foram gravados em discos, impressos em partituras e cantados nos teatros, cafés, salões de baile e casas humildes - isto sem falar nas viagens dos Oito Batutas à França, em 1922, e à Argentina, em 1923.
O que havia era a repressão policial a manifestações culturais e religiosas das áreas pobres do Rio, o que incluía então a Cidade Nova e morros da Zona Norte, onde, como vimos, numerosas famílias negras foram morar depois que foram expulsas do Centro. Não parece ter havido base legal para essa repressão. Embora, pela Constituição de 1891, existisse liberdade religiosa no país, os cultos afro-brasileiros não eram ainda oficialmente reconhecidos como religião (o que levou décadas para acontecer). Os locais onde se praticavam esses cultos eram chamados genericamente de "macumbas" e só podiam funcionar com licença da polícia. Sendo os adeptos dessas religiões moradores da área mencionada da cidade e também os responsáveis pela introdução do samba no Rio, é natural uma certa confusão a respeito. A própria polícia na época associava as coisas, e as fontes disponíveis permitem concluir que, para a repressão, o simples fato de se cantar samba em determinada residência da Cidade Nova seria um indicativo de que o lugar seria uma "casa de macumba".
Que a repressão visava os cultos, deduz-se do que diz Vagalume, ao tratar da figura do pai-de-santo Cypriano Abedé: "As funções na casa de Sua Majestade Abedé eram permitidas pela polícia, em vista de ser ali uma sociedade de Ciências Ocultas, com organização de sociedade civil, sendo (...) os seus estatutos aprovados pela polícia" para a prática "da religião e danças africanas". Isto porque Abedé era o único pai-de-santo com diploma de doutor em Ciências Ocultas, concedido por uma universidade norte-americana. Informa ainda Vagalume que
"Os grandes candomblés na casa de Sua Majestade Abedé eram precedidos de festas, dança e cânticos, em que o samba tinha preferência. Os sambas e os candomblés de Abedé, na rua João Caetano, 69, se recomendavam pela gente escolhida que os freqüentava e nos dias de tais funções, era de ver a grande fileira de automóveis naquela rua, sendo alguns de luxo e particulares na sua maioria. Era gente de Copacabana, Botafogo, Laranjeiras, Catete, Tijuca, São Cristóvão, enfim gente da alta roda que ali ia render homenagens a seu Pai Espiritual."
Para dar uma idéia do prestígio de Sua Majestade Abedé, Vagalume arremata com a informação de que, numa festa que deu em setembro de 1930, compareceu até o filho do presidente da República, Washington Luís.
Se a medida de prestígio era o bom trânsito junto à Presidência da República, pode-se dizer que tia Ciata não tinha o que invejar em relação a Abedé. Ela foi chamada ao Palácio do Catete para tratar de uma ferida do presidente Venceslau Brás, que resistia a todos os tratamentos indicados pelos médicos. Curado por Ciata, Venceslau Brás expressou sua gratidão transferindo João Batista da Imprensa Nacional para a chefia de gabinete do chefe de Polícia. Assim, durante o mandato de Venceslau Brás (1914-18), as festas na casa de tia Ciata eram autorizadas, contando com o envio de dois soldados que iam fazer a segurança. (O prestígio da família com o poder sobreviveu a Ciata: em 1925, o chefe de Polícia conseguiu vaga para Bucy Moreira estudar na Escola Bom Jesus, em Paquetá, onde ele ficou até 1927.)
Outro presidente, o marechal Floriano Peixoto, foi um dos primeiros a receber a visita do Rancho Rei de Ouros, em 1894. O roteiro do rancho fundado na Pedra do Sal (Saúde) por Hilário Jovino, tia Gracinda, Marinho que Toca, Chica do Marinho, Cleto Ribeiro, Noela e Atanásio Calisto incluía ainda as redações dos jornais cariocas e a casa das irmãs baianas Candinha e Telva, à Rua São Pedro (mais uma rua que desapareceu quando da construção da Av. Presidente Vargas). Além de procurar o favor presidencial, outra providência adotada por Hilário logo após criar o Rei de Ouros em 6 de janeiro de 1893 foi licenciá-lo na polícia.
Se há precedente para a busca desse registro por parte de Hilário - era o que, em seu Pernambuco natal, faziam os sambas que saíam no carnaval do Recife desde 1886 -, sua decisão de mudar a data de saída do rancho foi revolucionária. Até ali, os ranchos existentes no Rio, de modo semelhante aos da Bahia, saíam na época dos festejos natalinos, percorrendo as casas da vizinhança cantando e "tirando Reis" (pedindo dinheiro). Era o que fazia o Dois de Ouro, rancho que já existia na Saúde, fundado por Leôncio de Barros Lins. Os pastoris e ranchos cariocas tinham como ponto de encontro no Natal o Largo de São Domingos. Coube ao Rei de Ouros o pioneirismo de ser o primeiro rancho carioca a passar a desfilar no carnaval.
Outra grande contribuição de Hilário foi adaptar a estrutura tradicional dos ranchos baianos, fixando nos ranchos cariocas funções como as do mestre-sala e da porta-bandeira, lançando assim as bases do que viriam a ser as escolas de samba. Estas, a começar pela Deixa Falar, fundada no Estácio em 1928, seguiram os modelos vigentes nos ranchos. Inclusive tendo o mesmo cuidado de obter um registro na polícia, para mostrar o caráter "sério" da agremiação, que a partir do gesto de Hilário todos os ranchos adotaram.
Vagalume aponta os ranchos como uma evolução natural dos grupos que já desfilavam no carnaval. Os sambistas que representavam nos cordões os velhos, palhaços e as figuras do "Pai João" e do "Rei de Diabo" formavam blocos de sujos na manhã da Terça-Feira Gorda, animando o carnaval das 8 horas até o meio-dia com trotes e críticas. Entusiasmados com os sujos, "os ases do samba" criaram primeiro "um rancho à moda da Bahia - o '2 de Ouro' e logo a seguir fundaram o Rei de Ouro, vindo depois a Rosa Branca".
E quem eram estes ases do samba? Vagalume menciona "Hilário, Cleto, Germano Theodoro (Massada), Assumano, falecido em 22 de julho de 1933, Galdino, Oscar Maia, João da Harmônica, Marinho que Toca, Bambala, Maria Adamastor, Maria de Santo Amaro, Asseata, João Alabá, Zuza, a gente toda do terreiro de Sua Majestade Cypriano Abedé, Gracinda, uma das mais lindas baianas e falecida no mês de janeiro de 1933". Sem dúvida, todos eles só podiam aprovar a idéia de Hilário de fazer os ranchos desfilarem no carnaval, permitindo-lhes uma liberdade maior do que a reservada à época para manifestações públicas no período natalino.
Seguiu inalterada, é evidente, a reverência dos ranchos às baianas notáveis. Em crônica de 1921, Vagalume lembrava que rancho que não fosse à casa de tia Ciata ou de tia Bebiana "era considerado como não tendo saído no Carnaval". Tia Bebiana morava próxima ao Largo de São Domingos, para onde levava sua lapinha, e onde recebia a reverência dos ranchos que faziam questão de cumprimentá-la. Jota Efegê localizou um "apedido" publicado no Jornal do Brasil em 1906, assinado por Hilário Jovino, então presidente do rancho Jardineiras, convidando todos os ranchos a comparecerem à casa de tia Bebiana no nº 7 do Largo de São Domingos, para levar a lapinha e receber os ramos. A casa de tia Sadata, na Saúde, de onde já saía o Dois de Ouro, veio a ser também a sede do Rancho das Sereias. Da casa de tia Ciata, saíram, em épocas distintas, dois ranchos, o Rosa Branca e O Macaco é Outro.
O Rosa Branca contou entre seus integrantes Hilário Jovino. E Dedé, Abut e Germano faziam parte da diretoria d'O Macaco é Outro, que tinha como principais pastoras Ziza, Catita e Pequena. Também foram fundadores Ascendino, Gervásio, Manuel Pereira e Oscar Maia (que em 1907 criara outro rancho, o famoso Ameno Resedá). Didi da Gracinda somou-se ao grupo d'O Macaco, para o qual trouxe seu samba que homenageava tia Tereza ("Esta gente enfezada/ Que nas pernas tem destreza...).
O Macaco... fez seu primeiro desfile no domingo de Carnaval de 1910, tendo como mestre-sala Germano e como porta-estandarte Lili (Licínia da Costa Jumbeba, 16 anos, a neta mais velha de Ciata). O rancho saiu da Visconde de Itaúna em direção ao Catete, onde visitou seus coirmãos Ameno Resedá, Flor do Abacate, Mimosas Cravinas e Corbeille de Flores. Na rua, seus componentes cantavam: "Já fugiu meu macaquinho/ Coitadinho!/ Quem nos dará razão/ Que macacão!". Dias antes, ao se preparar para o desfile, em casa de Ciata, O Macaco cantou outra marcha ("Meu macaco feiticeiro/ Engraçado e tentador/ Meu macaco tão faceiro/ Da vitória é o portador.)" ao receber a visita de Vagalume, que elogiou o novo rancho no Jornal do Brasil. Marinho da Costa Jumbeba, irmão de Lili, aprendeu com Germano a técnica deste como mestre-sala (que Jota Efegê definiu como "coreografia leve, elegante, sem lances de acrobacia") para sucedê-lo à frente dos desfiles d'O Macaco.
Até 1910, os ranchos simplesmente desfilavam, sem se apontar um deles como "vencedor do Carnaval". Porém, ao resolver que seu desfile em 1908 aludiria à Corte Egipciana, o Ameno Resedá introduziu o conceito de "enredo" no Carnaval. Outras agremiações o imitaram, o que levou o Jornal do Brasil a encampar a idéia do diretor de harmonia dos Paladinos Japoneses, Barnabé Bouis, de haver uma comissão julgando os desfiles dos ranchos. Assim, a partir de 1911, o jornal passou a patrocinar anualmente o desfile competitivo na avenida Rio Branco, em frente à sua redação, no domingo de Carnaval - o "Dia dos Ranchos". Desta forma, o espírito de confraternização que unia os ranchos na visita à lapinha de tia Bebiana no largo de São Domingos foi dando lugar à competição entre as diferentes agremiações (que está na base do atual concurso das escolas de samba).
Embora alguns autores afirmem que o samba "Pelo Telefone" foi composto em casa de tia Ciata durante um ensaio do Rosa Branca, isto me parece pouco provável, levando em conta as informações de Jota Efegê de que este rancho foi criado em 1900 e teve curta duração, já não existindo quando do primeiro desfile d'O Macaco é Outro, em 1910. Assim, o mais provável é que "Pelo Telefone" tenha nascido numa festa de partido-alto. Donga conta que, ao se iniciar um samba, combinava-se se ele seria corrido ou partido-alto (Almirante informa que na casa de tia Ciata também se fazia o samba raiado).
A lenda do samba proibido pela polícia tem usado à exaustão como justificativa uma frase de Pixinguinha: a de que na casa de tia Ciata se fazia samba no quintal e choro na sala, "o samba era separado pelo degrau." Isto porque, segundo a lenda, o choro na parte da frente da casa serviria para abafar o som do samba, que não seria deste modo percebido pela polícia na rua. É difícil entender como essa lenda prosperou, por pelo menos três motivos: primeiro, como o choro não usava percussão na época, era impossível que abafasse o som do samba, com certeza muito mais forte; segundo, a polícia já estaria presente, garantindo o samba e não o combatendo, ao menos durante o governo Venceslau Brás, que coincide com a época em que "Pelo Telefone" foi composto (1916); terceiro, a explicação de Donga para a preferência por sambar no quintal: o samba de Ciata reunia tanta gente que só no quintal era possível acomodar a todos.
A polêmica envolvendo o "Pelo Telefone" parece ter sido a única briga realmente séria ao longo de décadas envolvendo o grupo que se reunia na casa de tia Ciata. Antes disso, ela chegara a romper relações com Hilário Jovino - afinal, ele, que estava namorando sua filha Mariquita, fugira com uma amiga dela, a mulata Amélia Kitundi (não confundir com a antiga "consulesa" baiana Amélia Quindunde). Mas isso já estava superado em 1916.
O caso é Donga se apresentou como autor do samba, registrando-o na Biblioteca Nacional no final de 1916 e fazendo-o gravar na Odeon em 1917, primeiro pela Banda Odeon (janeiro) e depois com o cantor Bahiano (fevereiro), e apontando Mauro de Almeida como parceiro. Seus amigos da casa de tia Ciata reconheceram no "Pelo Telefone" o "Roceiro", que teria sido composto coletivamente por Hilário Jovino, Mestre Germano, Tia Ciata, João da Mata, Sinhô e Mauro de Almeida, como apontava o Jornal do Brasil de 4 de fevereiro de 1917. O texto datava a composição da música em 6 de agosto do ano anterior e mencionava Ciata duas vezes. A primeira, no caráter de parceira do samba ("a nossa velha amiguinha Ciata"); a segunda, numa estrofe da paródia do próprio "Pelo Telefone" que o JB utilizou para criticar Donga ("Ó que caradura/ De dizer nas rodas/ Que este arranjo é teu!/ É do bom Hilário/ E da velha Ciata/ Que o Sinhô escreveu."). Henrique Alves informa que Didi da Gracinda também se atribuiu co-autoria. Já Almirante não exclui da relação de autores do "Roceiro" o próprio Donga, enquanto Vagalume situa a contribuição deste em ter feito "um arranjo da música" (enquanto Mauro fizera o "arranjo da letra"). É o autor de Na Roda do Samba ainda o único a mencionar que, na versão gravada, Donga incluiu parte de um samba pernambucano ("Olha a Rolinha"), que conheceu cantado no Clube dos Democráticos por Mirandella. (Para maiores detalhes, leia o texto O Samba Indígena)
Por mais incrível que possa parecer, porém, em pouco tempo Donga já se reintegrara às festas na casa de tia Ciata: em 1918, o encontramos como um dos que se sentiram ofendidos quando Sinhô lançou o samba intitulado "Quem São Eles?", cujo refrão começava com os versos "A Bahia é boa terra/ Ela lá e eu aqui, iaiá".
Quase noventa anos depois, fica um pouco difícil entender a real causa da polêmica iniciada com "Quem São Eles?". Sérgio Cabral afirma que a motivação foi a discussão gerada quando da gravação do "Pelo Telefone", pois Sinhô passou a se dizer autor do "arranjo" (o que a citada paródia do JB respaldava), e isto teria feito com que ele, na condição de carioca, hostilizasse os sambistas baianos (entrando na contagem os cariocas filhos de baianos, como Donga e João da Bahiana, e até quem nada tinha com a Bahia, como Pixinguinha), compondo "Quem São Eles?" como uma provocação. Outra versão, apresentada no fascículo 2 da coleção História do Samba, dá conta de que Sinhô teria brigado com China e escrevera o samba para atacá-lo, estendendo a agressão a Pixinguinha (irmão de China), Hilário e Donga. Já Edigar de Alencar, embora chegue a mencionar que "Quem São Eles?" é tomado à conta de "revide ou desafio", pondera que talvez ele fosse apenas alusivo a um grupo com este nome que existia na época, ligado ao Clube dos Fenianos. Há quem diga ainda que o grupo teria sido organizado pelo próprio Sinhô.
Enfim, se hoje não temos certeza se Sinhô quis ofender seus antigos amigos, na época eles não tiveram a menor dúvida. Pouco depois, fizeram os sambas-resposta "Não És Tão Falado Assim" (Hilário Jovino), "Fica Calmo que Aparece" (Donga) e "Já te Digo" (Pixinguinha - China), este um dos sucessos do carnaval de 1919. Nesse mesmo ano, Sinhô replicou com "Três Macacos no Beco" (os três seriam Pixinguinha, Donga e China) e renovou o ataque com "O Pé de Anjo", seu grande sucesso no carnaval de 1920, e que ridicularizaria os pés muito grandes de China. Não houve resposta a estas duas composições, esvaziando-se a polêmica.
Há até quem duvide de que a briga entre Sinhô e seus velhos parceiros fosse pra valer, como Luís Antônio Giron, em seu livro Mario Reis - O Fino do Samba. Giron atribui a questão em torno do "Quem São Eles?" ao tino comercial de Sinhô, que buscaria assim uma autopromoção, mostrando-se como um sambista urbano carioca que se opunha aos "'baianos', autores de sambas de teor folclórico e rural", "músicos que costumavam se reunir nas festas da baiana Tia Ciata" (ou seja: Giron parece desconsiderar que, por largo tempo, Sinhô era um destes músicos).
Seja como for, Giron apresenta como argumento para demonstrar que polêmicas como essas do "Quem São Eles?" não deixavam repercussões duradouras o fato de que foi Donga o violonista que Sinhô escolheu para acompanhá-lo na estréia fonográfica de Mario Reis, em junho de 1928. O repertório dos três primeiros discos que o jovem aristocrático fez então para a Odeon era todo de produções de Sinhô. Em apenas um samba ("Jura") Mario cantou com orquestra; nas outras cinco músicas - os sambas "Que Vale a Nota Sem o Carinho da Mulher?", "Deus nos Livre do Castigo das Mulheres" e "Gosto que me Enrosco", mais o romance "Carinhos de Vovó" e a canção "Sabiá" -, foi acompanhado por dois violões. Sim, já famoso então na cidade como pianista, Sinhô nessas gravações tocou violão, fazendo os ponteios no baixo para os solos de Donga.
Giron fornece outra prova de que as eventuais brigas não se traduziam em rompimentos definitivos - Heitor dos Prazeres, que já se desentendera com Sinhô, a quem acusava de roubar músicas suas inteiras, dizia no seu samba "Primeira Linha", lançado em 1930: "E o Caninha, o Donga/ E o Pixinguinha/ São todos camaradinhas/ Inclusive o Sinhô."
Essa tendência dos sambistas de então a não perpetuar rancores me parece ter sido uma das tantas lições que tia Ciata lhes transmitiu, e que contribuem para que ela ainda hoje seja lembrada de forma tão especial.

Butiquim do Samba
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20/4/2010 |Postado por : Sérgio Ramos
Programa Butiquim do Samba


20/4/2010 - 11:03 - ( Informe a categoria ) Notícia visualizada : 40


Neste sábado á partir das 14 horas, na RBR TV, Canal 38, estréia o programa Butiquim do Samba.
Programa apresentado por Carlinhos Maracanã e Sônia Maria, com produção de Neuza Meireles, que traz um pouco da história do Samba, em Porto Velho e também informações sobre Cultura de modo geral, já está no ar.
Bate papo e informação sobre o mundo do samba.
O Programa é gravado ás terças, a partir das 19 horas, no Mercado Cultural, com apoio da Fundação Iaripuna e do Zizi.
Neste sábado Butiquim do Samba, ás 14 horas no canal 38, RBR-TV.
Reprise, segunda ás 14 horas, não perca!
POSTADO NO SITE. SERGIORAMOS@ENTER-NET.COM.BR

Negros do Guaporé/ Prêmio

Projeto de artes visuais de Rondônia vence 1° Prêmio Nacional de Expressões Culturais Afrobrasileiras
22/4/2010 - 17:04 - ( Cultura )

O projeto rondoniense Essas Mulheres, apresentado por Esmeraldina Coelho, é um dos ganhadores do 1° Prêmio Nacional de Expressões Culturais Afrobrasileiras e receberá R$ 20 mil no próximo dia 27 de abril, às 19 horas, durante solenidade de premiação no Museu Nacional do Conjunto Cultural da República, que fica no Setor Cultural Sul/ Lote 2 da Esplanada dos Ministérios, em Brasília.

O projeto concorreu na categoria artes visuais, com 181 inscritos, que disputavam os prêmios de R$ 20 mil a R$ 40 mil reais. Ao todo serão distribuídos R$1.100.000,00 para 20 projetos de três categorias artísticas com estética negra contempladas nesta edição: teatro, dança e artes visuais. O prêmio é uma iniciativa do Centro de Apoio ao Desenvolvimento (Cadon) e da Fundação Palmares, com patrocínio da Petrobras, por meio da Lei Rouanet do Ministério da Cultura.

Essas Mulheres realizará uma exposição com fotos de mulheres dos quilombos do Vale do Guaporé em situações cotidianas que expressem a força e a pureza que elas tem. Esmeraldina Coelho, artista e coordenadora do grupo de Mulheres Quilombolas Negravale, explica que o projeto surgiu em 2008, quando saiu uma publicação na internet sobre as mulheres do Vale Guaporé e falava dos casos de AIDS nas comunidades quilombolas,difamando-as. Apesar de ter entrado com uma ação judicial, a proponente quis fazer mais: “Essas mulheres são guerreiras que vivem, amam, sofrem, lutam e se divertem como qualquer outra. Não é porque estão em comunidades isoladas que deixam de ser mulheres e precisam ser respeitadas. O objetivo maior da exposição é tornar visível a existência delas como verdadeiramente são, por isso, elas mesmas se fotografarão”, completou Esmeraldina. Para a proponente, o prêmio vem ao encontro desse desejo de difundir a imagem da mulher quilombola.

Concorreram 412 projetos, 181 de artes visuais, 120 de dança e 111 de teatro. Os estados que tiveram maior número de inscritos foram São Paulo (143), Rio de Janeiro (133) e Bahia (84). Ruth Pinheiro, presidente do Cadon, destaca que o prêmio teve uma efetiva presença dos grandes estados, mas conseguiu atrair também unidades menores: “o que para os organizadores é bastante satisfatório, pois garante a diversidade”.

Os projetos – Os projetos aprovados em todo o país são os seguintes: categoria dança: Acorda Raça – Resgate e Preservação da Cultura Negra como Instrumento de Conscientização e de auto-estima (Paraná ); Bata-Kotô (Distrito Federal); Dança Afro-Brasileira nas Escolas (Alagoas); Elegbará – O Guardião da Vida (Pará) e 40 + 20 – Rubens Barbot (Rio de Janeiro). Na categoria teatro: Emi – A Concepção Yorubana do Universo (Pará); Mãe Coragem (Rio Grande do Sul); No Muro – Ópera Hip Hop (Distrito Federal); Oficina Comuns (Rio de Janeiro) e Ogum – O deus e o Homem (Bahia). Em artes visuais foram: Arte Resgatando o Quilombo (Santa Catarina); Essas Mulheres (Rondônia); Memórias de Sombras (São Paulo); Mestre do Coco Pernambucano (Pernambuco); Negro por Inteiro (Mato Grosso); Animais de Concreto (São Paulo); E o Silêncio Nagô Calou em Mim (Distrito Federal); Invernada dos Negros (Rio Grande do Sul); Lagoa da Pedra e a Roda de São Gonçalo (Tocantins) e Zeladores de Voduns de Benim ao Maranhão (Maranhão).

Origem -Ruth Pinheiro, presidente do Cadon, explicou que a ideia do prêmio surgiu após o II Fórum Nacional de Performance Negra, realizado em Salvador, em 2006, quando os próprios artistas pediram ao Ministério da Cultura um edital público ou linha de financiamento específicos, já que não havia alternativas que contemplassem expressões culturais afro-brasileiras. A partir daí a Fundação Palmares convidou o Cadon e junto com o patrocínio da Petrobras viabilizaram o atendimento à demanda. Segundo Ruth o prêmio é um “incentivo a artistas já existentes e permite o surgimento de novos. Funciona, ainda para aumentar a autoestima, na medida em que os grupos passam a ser seus próprios gestores e ganham autonomia”.

Mariana Benjamin

Fonte : Imagem News Autor : IAA Comunicação e Eventos

quinta-feira, 22 de abril de 2010

LETRA DO SAMBA

Ogum

Zeca Pagodinho
Composição: Marquinhos PQD/Claudemir

Eu sou descendente Zulu
Sou um soldado de Ogum
Um devoto dessa imensa legião de Jorge
Eu sincretizado na fé
Sou carregado de axé
E protegido por um cavaleiro nobre
Sim vou à igreja festejar meu protetor
E agradecer por eu ser mais um vencedor
Nas lutas nas batalhas
Sim vou ao terreiro pra bater o meu tambor
Bato cabeça firmo ponto sim senhor
Eu canto pra Ogum
Ogumm
Um guerreiro valente que cuida da gente que sofre demais
Ogumm
Ele vem de aruanda ele vence demanda de gente que faz
Ogumm
Cavaleiro do céu escudeiro fiel mensageiro da paz
Ogumm
Ele nunca balança ele pega na lança ele mata o dragão
Ogumm
É quem da confiança pra uma criança virar um leão
Ogumm
É um mar de esperança que traz abonança pro meu coração

(Jorge Ben Jor)
Deus adiante paz e guia
Encomendo-me a Deus e a virgem Maria minha mãe ..
Os doze apóstolos meus irmãos
Andarei nesse dia nessa noite
Com meu corpo cercado vigiado e protegido
Pelas as armas de são Jorge
São Jorge sendo com praça na cavalaria
Eu estou feliz porque eu também sou da sua companhia
Eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge
Para que meus inimigos tendo pé não me alcancem
Tendo mãos não me pegue não me toquem
Tendo olhos não me enxerguem
E nem em pensamento eles possam ter para me fazerem mal
Armas de fogo o meu corpo não alcançara
Facas e lanças se quebrem se o meu corpo tocar
Cordas e correntes se arrebentem se ao meu corpo amarrar
Pois eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge

são jorge do candomblé

Ogum

Ogum (em yoruba: Ògún) é, na mitologia yoruba, o orixá ferreiro[1], senhor dos metais. O próprio Ogum forjava suas ferramentas, tanto para a caça, como para a agricultura, e para a guerra. Na África seu culto é restrito aos homens, e existiam templos em Ondo, Ekiti e Oyo. Era o filho mais velho de Oduduwa, o fundador de Ifé, identificado no jogo do merindilogun pelos odu etaogunda, odi e obeogunda, representado materialmente e imaterial pelo candomblé, através do assentamento sagrado denominado igba ogun.
Ogum é considerado o primeiro dos orixás a descer do Orun (o céu), para o Aiye (a Terra), após a criação, um dos semideuses visando uma futura vida humana. Em comemoração a tal acontecimento, um de seus vários nomes é Oriki ou Osin Imole, que significa o "primeiro orixá a vir para a Terra".
Ogum foi provavelmente a primeira divindade cultuada pelos povos yorubá da África Ocidental. Acredita-se que ele tenha wo ile sun, que significa "afundar na terra e não morrer", em um lugar chamado 'Ire-Ekiti'.
É também chamado por Ògún, Ogoun, Gu, Ogou, Ogun e Oggún. Sua primeira aparição na mitologia foi como um caçador chamado Tobe Ode.[2]

Família
É filho de Oduduwa e Yembo, irmão de Xangô, Oxossi, Oxun e Eleggua. Ogum é o filho mais velho de Odudua, o herói civilizador que fundou a cidade de Ifé. Quando Odudua esteve temporariamente cego, Ogum tornou-se seu regente em Ifé.
Ogum é um orixá importantíssimo na África e no Brasil. Sua origem, de acordo com a história, data de eras remotas. Ogum é o último imolé.
Os Igba Imolé eram os duzentos deuses da direita que foram destruídos por Olodumaré após terem agido mal. A Ogum, o único Igba Imolé que restou, coube conduzir os Irun Imole, os outros quatrocentos deuses da esquerda.
Foi Ogum quem ensinou aos homens como forjar o ferro e o aço. Ele tem um molho de sete instrumentos de ferro: alavanca, machado, pá, enxada, picareta, espada e faca, com as quais ajuda o homem a vencer a natureza.
O guerreiro
Era um guerreiro que brigava sem cessar contra os reinos vizinhos. Dessas expedições, ele trazia sempre um rico espólio e numerosos escravos. Guerreou contra a cidade de Ará e a destruiu. Saqueou e devastou muitos outros estados e apossou-se da cidade de Irê, matou o rei, aí instalou seu próprio filho no trono e regressou glorioso, usando ele mesmo o título de Oníìré, "Rei de Irê". Tem semelhança com o vodum Gu.

Aspecto
Na Santeria Ogum é dono dos montes junto com Oshosi e dos caminhos junto com Eleggua. Representa o solitário hostil que vaga pelos caminhos. É um dos quatro Orishas guerreiros. Suas cores são o verde e preto.
No Candomblé Ogum é o Orixá ferreiro dono de todos os caminhos e encruzilhadas junto com seu irmão Exu, também é tido como irmão de Oxossi e uma ligação muito forte com Oxaguian de quem é inseparável, aparece como o Senhor das guerras e demandas, suas cores são Azul cobalto e o verde e na Umbanda sua cor é o vermelho.
Oferendas e danças
Sacrificam-se bodes, galos, galinhas-de-angola (macho), pombos, e patos. É importante fazer um sacrifício quando se tenha recebido algo do grande orixá, após ter prometido ou na Feitura de santo, (Iniciação). Todos os orixás masculinos (agboros) recebem sacrifícios de animais machos.

Diferentes mitologias

Ogun - escultura de Carybé em madeira, em exposição no Museu Afro-Brasileiro, Salvador, Bahia, Brasil

Ogum no Haiti (é um vodun haitiano, um loa) do fogo, do ferro, da caça, da política e da guerra. É o patrono dos guerreiros, e normalmente é mostrado com seus artefatos: facão e espada, rum e tabaco. Ogum é um dos maridos de Erzulie e foi marido de Oyá e Oshún na mitologia yorubá.
Tradicionalmente um guerreiro, Ogum é visto como uma poderosa divindade dos trabalhos em metal, semelhante à Ares e Hefesto na mitologia grega e Visvakarma na mitologia hindu. É representado, no Brasil, como São Jorge; como tal, é poderoso e triunfal, mas também exibe a raiva e destrutividade do guerreiro cuja força e violência pode virar contra a comunidade que ele serve.
Dá força através da profecia e magia, e é procurado para ajudar as pessoas a obter mais um governo que dê resposta às suas necessidades.
Brasil: Candomblé
Na tradição religiosa afro-brasileira Candomblé, Ogum (como é conhecida essa divindade yorubá no idioma português) é frequentemente identificado com São Jorge. Isto acontece, por exemplo, no estado do Rio Grande do Sul. No entanto, Ogum também pode ser representado por São Sebastião, como frequentemente é feito na região nordeste do Brasil, por exemplo, na Bahia. Oficialmente, São Sebastião é o padroeiro da cidade do Rio de Janeiro.
Qualidades de Ogum
• Ògúnjà
• SoróKè
• Wari
• Lakàiye
• Méjèje
• Omini
• Olode
• Onírè
• Alágbède
• Méjè Sete folhas mais utilizada para Ogum
• Iji opé
• Ida orixá
• Atoribé
• Okiká
• Ojusaju
• Peregun
• Ewurô
Características
• Dia: terça-feira;
• Metal: ferro;
• Cor: azul marinho ou azul escuro e verde.
• Comida: feijoada e inhame;
• Arquétipo: impetuosos, autoritários, cautelosos, trabalhadores, desconfiados e um pouco egoístas;
• Símbolos: espada, facão, corrente de ferro.




Cuba
Em Cuba, na santeria e na Palo Mayombe, ele é chamado de São Pedro, São Paulo, São João Batista, São Miguel Arcanjo e São Rafael Arcanjo.
Dentro dessas crenças, Ogum é dono dos montes junto com Oshosi e dos caminhos junto com Eleggua. Representa o solitário hostil que vaga pelos caminhos. É um dos quatro orixás guerreiros. Suas cores são o verde e o preto. Ogum é considerado o Orisha dos ferreiros, das guerras, da tecnologia é violento e interessante.
Na mitologia Fon, Gu é o deus da guerra e patrono da deidade Smiths e dos artesãos. Ele foi enviado à Terra para torná-la um local agradável para as pessoas viverem, e ele ainda não terminou sua tarefa.
Haiti
No Haiti, Ogoun é um lwa cultuado no vodun haitiano.


Símbolo Vodun Ogoun

A maioria dos africanos que foram levados como escravos para o Haiti eram da Costa da Guiné da África ocidental, e seus descendentes são os primeiros praticantes de vodou (aqueles africanos trazidos ao sul dos Estados Unidos, eram primeiramente do reino de Congo). A sobrevivência do sistema da crenças no novo mundo é notável, embora as tradições mudem com o tempo. Uma das maiores diferenças, entretanto, entre o vodun africano e o Haitiano é que os africanos transplantados do Haiti foram obrigados a disfarçar o seu lwa, ou espíritos, como santos católicos romanos, neste país, com Santiago el Mayor, num processo chamado sincretismo.


Outras características
Em todas as suas encarnações, segundo as diferentes crenças, Ogum é impetuoso e de espírito marcial. Ele pode ser muito identificado com do sexo masculino (Shangô) ou feminino, além de poder possuir características homossexuais para alguns grupos, segundo o antropólogo Luiz Mott. Ele também está relacionado com o sangue e, por esse motivo, muitas vezes é chamado para curar doenças sangüíneas.
No culto dos orixás, ele aparece com outras identidades, tais como Ogum Akirum, Ogum Alagbede, Ogum Alara, Ogum Elemona, Ogum Ikole, Ogun Meji, Ogum Oloola, Ogum Onigbajamo, Ogum Onire, Ogun-un e Onile, sendo este último uma encarnação feminina.
Seus "filhos" aqui na Terra são pessoas fortes, que lutam na vida, são pessoas guerreiras que não descansam por nada, sempre ativas, combatem tudo. São verdadeiros peões. São pessoas corajosas, sem medo de se arriscar. São sérias e perseverantes. Tendência aos extremos: ou defende a polícia, ou foge dela.

23 de abril dia de são jorge

São Jorge

São Jorge é o santo patrono da Inglaterra, Portugal, Geórgia, Catalunha, Lituânia, da cidade de Moscou e, extra-oficialmente, da cidade do Rio de Janeiro (título oficialmente atribuído a São Sebastião), além de ser padroeiro dos escoteiros e do S.C Corinthians Paulista. No dia 23 de Abril comemora-se seu martírio. Ele também é lembrado no dia 3 de novembro, quando, por toda parte, se comemora a reconstrução da igreja dedicada a ele, em Lida (Israel), onde se encontram suas relíquias, erguida a mando do imperador romano Constantino I. Há uma tradição que aponta o ano 303 como ano da sua morte. Apesar de sua história se basear em documentos lendários e apócrifos (decreto gelasiano do século VI), a devoção a São Jorge se espalhou por todo o mundo. A devoção a São Jorge pode ter também suas origens na mitologia nórdica, pela figura de Sigurd, o caçador de dragões[carece de fontes?] (ver sincretismo religioso).


História
De acordo com a lenda, Jorge teria nascido na antiga Capadócia, região do sudeste da Anatólia que, atualmente, faz parte da República da Turquia. Ainda criança, mudou-se para a Palestina com sua mãe após seu pai morrer em batalha. Sua mãe, ela própria originária da Palestina, Lida, possuía muitos bens e o educou com esmero. Ao atingir a adolescência, Jorge entrou para a carreira das armas, por ser a que mais satisfazia à sua natural índole combativa. Logo foi promovido a capitão do exército romano devido a sua dedicação e habilidade — qualidades que levaram o imperador a lhe conferir o título de conde da Capadócia. Aos 23 anos passou a residir na corte imperial em Roma, exercendo a função de Tribuno Militar.
Nesse tempo sua mãe faleceu e ele, tomando grande parte nas riquezas que lhe ficaram, foi-se para a corte do Imperador. Vendo, Jorge, que urdia tanta crueldade contra os cristãos, parecendo-lhe ser aquele tempo conveniente para alcançar a verdadeira salvação, distribuiu com diligência toda a riqueza que tinha aos pobres.
O imperador Diocleciano tinha planos de matar todos os cristãos e no dia marcado para o senado confirmar o decreto imperial, Jorge levantou-se no meio da reunião declarando-se espantado com aquela decisão, e afirmou que os ídolos adorados nos templos pagãos eram falsos deuses.

Todos ficaram atônitos ao ouvirem estas palavras de um membro da suprema corte romana, defendendo com grande ousadia a fé em Jesus Cristo. Indagado por um cônsul sobre a origem dessa ousadia, Jorge prontamente respondeu-lhe que era por causa da Verdade. O tal cônsul, não satisfeito, quis saber: "O que é a Verdade?". Jorge respondeu-lhe: "A Verdade é meu Senhor Jesus Cristo, a quem vós perseguis, e eu sou servo de meu redentor Jesus Cristo, e Nele confiando me pus no meio de vós para dar testemunho da Verdade."
Como Jorge mantinha-se fiel ao cristianismo, o imperador tentou fazê-lo desistir da fé torturando-o de vários modos. E, após cada tortura, era levado perante o imperador, que lhe perguntava se renegaria a Jesus para adorar os ídolos. Todavia, Jorge reafirmava sua fé, tendo seu martírio aos poucos ganhado notoriedade e muitos romanos tomado as dores daquele jovem soldado, inclusive a mulher do imperador, que se converteu ao cristianismo. Finalmente, Diocleciano, não tendo êxito, mandou degolá-lo no dia 23 de abril de 303, em Nicomédia (Ásia Menor).
Os restos mortais de São Jorge foram transportados para Lida (Antiga Dióspolis), cidade em que crescera com sua mãe. Lá ele foi sepultado, e mais tarde o imperador cristão Constantino mandou erguer suntuoso oratório aberto aos fiéis, para que a devoção ao santo fosse espalhada por todo o Oriente.
Pelo século V, já havia cinco igrejas em Constantinopla dedicadas a São Jorge. Só no Egito, nos primeiros séculos após sua morte, construíram-se quatro igrejas e quarenta conventos dedicados ao mártir. Na Armênia, em Bizâncio, no Estreito de Bósforo na Grécia, São Jorge era inscrito entre os maiores santos da Igreja Católica.


Disseminação da devoção a São Jorge
Na Itália, era padroeiro da cidade de Gênova. Frederico III da Alemanha dedicou a ele uma Ordem Militar. Desde Dom Nuno Álvares Pereira, o santo é reconhecido como padroeiro de Portugal e do Exército. Na França, Gregório de Tours era conhecido por sua devoção ao santo cavaleiro; o Rei Clóvis dedicou-lhe um mosteiro, e sua esposa, Santa Clotilde, mandou erguer várias igrejas e conventos em sua honra. A Inglaterra foi o país ocidental onde a devoção ao santo teve papel mais relevante.
O monarca Eduardo III colocou sob a proteção de São Jorge a Ordem da Jarreteira, fundada por ele em 1330. Por considerá-lo o protótipo dos cavaleiros medievais, o rei inglês Ricardo I, comandante de uma das primeiras Cruzadas, constituiu São Jorge padroeiro daquelas expedições que tentavam conquistar a Terra Santa dos muçulmanos. No século XIII, a Inglaterra já celebrava o dia dedicado ao santo e, em 1348, criou a Ordem dos Cavaleiros de São Jorge. Os ingleses acabaram por adotar São Jorge como padroeiro do país, imitando os gregos, que também trazem a cruz de São Jorge na sua bandeira.
Ainda durante a Grande Guerra, muitas medalhas de São Jorge foram cunhadas e oferecidas aos enfermeiros militares e às irmãs de caridade que se sacrificaram ao tomar conta dos feridos de guerra.
As artes, também, divulgaram amplamente a imagem do santo. Em Paris, no Museu do Louvre, há um quadro famoso de Rafael, intitulado São Jorge vencedor do Dragão. Na Itália, existem diversos quadros célebres, como um de autoria de Donatello.
A imagem brasileira de São Jorge seria, possivelmente, de autoria de Martinelli.[1]
Padroeiro da Inglaterra
Não há consenso, porém, a respeito da maneira como teria se tornado patrono da Inglaterra. Seu nome era conhecido pelos ingleses e irlandeses muito antes da conquista normanda, o que leva a crer que os soldados que retornavam das cruzadas influíram bastante na disseminação de sua popularidade. Acredita-se que o santo tenha sido escolhido o padroeiro do reino quando o rei Eduardo III fundou a Ordem da Jarreteira, também conhecida como Ordem dos Cavaleiros de São Jorge, em 1348.De acordo com a história da Ordem da Jarreteira, Rei Artur, no século VI,colocou a imagem de São Jorge em suas bandeiras.[2] Em 1415, a data de sua comemoração tornou-se um dos feriados mais importantes do país.
Hoje em dia na Inglaterra, todavia, a festa de São Jorge comemorada todo dia 23 de abril tem tido menos popularidade ao longo das últimas décadas. Algumas rádios locais, como a BBC já chegaram a promover enquetes perguntando qual seria, de acordo com a opinião pública, o orago dos ingleses, e eis que o eleito foi Santo Alba. Muitos fatores contribuíram a isso. Primeiramente por ter sido substituído, segundo bula do Papa Leão XIII de 2 de junho de 1893, por São Pedro como padroeiro da Inglaterra — recomendação que perdura até hoje.
Posteriormente, pelas reformas do Papa Paulo VI, São Jorge foi rebaixado a santo menor de terceira categoria (segundo hierarquia católica), cujo culto seria opcional nos calendários locais e não mais em caráter universal. No entanto, a reabilitação do santo como figura de primeira instância, e arcanjo, lembrando a figura do próprio Jesus Cristo; pelo Papa João Paulo II em 2000, conferiu nova relevância a São Jorge. Atualmente, haja vista a grande popularidade e apelo turístico de festas como a escocesa St. Andrew's Day, a irlandesa St. Patrick's Day e mesmo a galesa St. Dave's Day, têm-se formado grande iniciativa de setores nacionalistas para que o St. George's Day volte a gozar da mesma popularidade entre os ingleses como antigamente.



Padroeiro de Portugal
Pensa-se que os Cruzados ingleses que ajudaram o Rei Dom Afonso Henriques a conquistar Lisboa em 1147 terão sido os primeiros a trazer a devoção a São Jorge para Portugal. No entanto, só no reinado de Dom Afonso IV de Portugal que o uso de São Jorge!! como grito de batalha se tornou regra, substituindo o anterior Sant'Iago!! O Santo Dom Nuno Álvares Pereira, Contestável do Reino, considerava São Jorge o responsável pela vitória portuguesa na batalha de Aljubarrota. O Rei Dom João I de Portugal era também um devoto do Santo, e foi no seu reinado que São Jorge substituiu Santiago como patrono de Portugal. Em 1387, ordenou que a sua imagem a cavalo fosse transportada na procissão do corpo de Cristo. Assim, séculos mais tarde, chegaria ao Brasil.



Padroeiro da Catalunha
A presença documental da devoção a São Jorge em terras catalãs remonta ao século VIII: documentos da época falam de um sacerdote de Tarragona chamado Jorge que fugiu para a Itália. Já no século X, um bispo de Vic tinha o nome de Jorge, e no século XI o abade Oliba consagrou um altar dedicado ao santo no mosteiro de Ripoll. Encontram-se exemplos do culto a São Jorge dessa época, na consagração de capelas, altares e igrejas em diversos pontos da Catalunha. Os reis catalães mostraram a sua devoção a São Jorge: Tiago I de Catalunha explica em suas crônica que foi visto o santo ajudando os catalães na conquista da cidade de Malorca; Pedro o Cerimonioso fundou uma ordem de cavalaria sob a sua proteção; Afonso, o Magnânimo dedicou-lhe capelas nos reinos da Sardenha e Nápoles.
Os reis e a Generalidade da Catalunha impulsionaram a celebração da festa de São Jorge por todas as regiões catalãs. Em Valência, em 1343, já era uma festa popular; em 1407, Mallorca celebrava-a publicamente. Em 1436, a Generalidade da Catalunha propôs, nas côrtes reunidas em Montsó, a celebração oficial e obrigatória de São Jorge; em 1456, as côrtes reunidas na Catedral de Barcelona ditaram uma constituição que ordenava a festa, inclusa no código das Constituições da Catalunha. As remodelações do Palácio da Generalidade (sede do governo catalão) feitas durante o século XV são a prova mais clara da devoção impulsionada por esse órgão público, ao colocar um medalhão do santo na fachada gótica e ao construir no interior a capela de São Jorge.


São Jorge, o Dragão e a Princesa
Baladas medievais contam[3] que Jorge era filho de Lorde Albert de Coventry. Sua mãe morreu ao dá-lo à luz e o recém nascido Jorge foi roubado pela Dama do Bosque para que pudesse, mais tarde, fazer proezas com suas armas. O corpo de Jorge possuia três marcas: um dragão em seu peito, uma jarreira em volta de uma das pernas e uma cruz vermelho-sangue em seu braço. Ao crescer e adquirir a idade adulta, ele primeiro lutou contra os sarracenos e, depois de viajar durante muitos meses por terra e mar, foi para Syle´n, uma cidade da Líbia.
Nesta cidade, Jorge encontrou um pobre eremita que lhe disse que toda a cidade estava em sofrimento, pois lá existia um enorme dragão cujo hálito venenoso podia matar toda uma cidade, e cuja pele não poderia ser perfurada nem por lança e nem por espada. O eremita lhe disse que todos os dias o dragão exigia o sacrifício de uma bela donzela e que todas as meninas da cidade haviam sido mortas, só restando a filha do rei, Sabra, que seria sacrificada no dia seguinte ou dada em casamento ao campeão que matasse o dragão.
Ao ouvir a história, Jorge ficou determinado em salvar a princesa. Ele passou a noite na cabana do eremita e quando amanheceu partiu para o vale onde o dragão morava. Ao chegar lá, viu um pequeno cortejo de mulheres lideradas por uma bela moça vestindo trajes de pura seda árabe. Era a princesa, que estava sendo conduzida pelas mulheres para o local do sacrifício. São Jorge se colocou na frente das mulheres com seu cavalo e, com bravas palavras, convenceu a princesa a voltar para casa.
O dragão, ao ver Jorge, sai de sua caverna, rosnando tão alto quanto o som de trovões. Mas Jorge não sente medo e enterra sua lança na garganta do monstro, matando-o. Como o rei do Marrocos e do Egito não queria ver sua filha casada com um cristão, envia São Jorge para a Pérsia e ordena que seus homens o matem. Jorge se livra do perigo e leva Sabra para a Inglaterra, onde se casa e vive feliz com ela até o dia de sua morte, na cidade de Coventry.
De acordo com a outra versão[4], Jorge acampou com sua armada romana próximo a Salone, na Líbia. Lá existia um gigantesco crocodilo alado que estava devorando os habitantes da cidade, que buscaram refúgio nas muralhas desta. Ninguém podia entrar ou sair da cidade, pois o enorme crocodilo alado se posicionava em frente a estas. O hálito da criatura era tão venenoso que pessoas próximas podiam morrer envenenadas. Com o intuito de manter a besta longe da cidade, a cada dia ovelhas eram oferecidas à fera até estas terminarem e logo crianças passaram a ser sacrificadas.
O sacrifício caiu então sobre a filha do rei, Sabra, uma menina de quatorze anos. Vestida como se fosse para o seu próprio casamento, a menina deixou a muralha da cidade e ficou à espera da criatura. Jorge, o tribuno, ao ficar sabendo da história, decidiu pôr fim ao episódio, montou em seu cavalo branco e foi até o reino resgatá-la. Jorge foi até o reino resgatá-la, mas antes fez o rei jurar que se a trouxesse de volta, ele e todos os seus súditos se converteriam ao cristianismo. Após tal juramento, Jorge partiu atrás da princesa e do "dragão". Ao encontrar a fera, Jorge a atinge com sua lança, mas esta se despedaça ao ir de encontro à pele do monstro e, com o impacto, São Jorge cai de seu cavalo. Ao cair, ele rola o seu corpo, até uma árvore de laranjeira, onde fica protegido por ela do veneno do dragão até recuperar suas forças.
Ao ficar pronto para lutar novamente, Jorge acerta a cabeça do dragão com sua poderosa espada Ascalon. O dragão derrama então o veneno sobre ele, dividindo sua armadura em dois. Uma vez mais, Jorge busca a proteção da laranjeira e em seguida, crava sua espada sob a asa do dragão, onde não havia escamas, de modo que a besta cai muito ferida aos seus pés. Jorge amarra uma corda no pescoço da fera e a arrasta para a cidade, trazendo a princesa consigo. A princesa, conduzindo o dragão como um cordeiro, volta para a segurança das muralhas da cidade. Lá, Jorge corta a cabeça da fera na frente de todos e as pessoas de toda cidade se tornam cristãs.
O dragão (o demônio) simbolizaria a idolatria destruída com as armas da Fé. Já a donzela que o santo defendeu representaria a província da qual ele extirpou as heresias.


São Jorge, a Lua e os Orixás
A ligação de São Jorge com a lua é algo puramente brasileiro, com forte influência da cultura africana. Tal associação se dá porque na Bahia o santo é associado a Oxossi, orixá associado à lua. No Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo e em Recife, no candomblé e na umbanda, o santo é associado a Ogum. A tradição diz que as manchas apresentadas pela lua representam o milagroso santo, seu cavalo e sua espada pronto para defender aqueles que buscam sua ajuda


São Jorge na cultura popular
• Dia 23 de abril, para algumas das religiões afro-brasileiras, é o dia em que se fazem homenagens ao santo.
• Jorge de Capadócia é uma música de Jorge Ben, interpretada também por Caetano Veloso, Fernanda Abreu e pelos Racionais MC's.
• As tatuagens com o santo estão entre as que fazem mais sucesso no Brasil.[carece de fontes?]
• Atualmente existe uma grande variedade de produtos de moda que possuem a estampa de São Jorge, desde simples camisas a até mesmo bolsas de marcas famosas.{{Elo7 Produtos artesanais São Jorge São Jorge é tido como o padroeiro do Corinthians. Acredita-se que sua história de devoção e fidelidade à Verdade cristã até o fim de seu martírio seja a origem do termo "Fiel", popular entre os torcedores e presente em várias agremiações corintianas.
• Existe um romance sobre São Jorge criado pelo escritor italiano Tito Casini chamado Perseguidores e Mártires (no Brasil, editado pelas Edições Paulinas, por volta de 1960). No livro, São Jorge é retratado como o verdadeiro paladino da Capadócia que, apesar de ser perseguido pelo tirano imperador Diocleciano, manteve-se fiel ao Império Romano, mas também a Cristo e se recusou a contrair alianças com o genro do imperador, Galério, que pretendia ter o apoio do conde da Capadócia para deliberar um golpe contra Diocleciano, o que terminantemente, o santo militar recusou.
• São Jorge é considerado o santo padroeiro dos jogadores de RPG.[carece de fontes?]
• A banda inglesa Iron Maiden fala de São Jorge na música "Flash of the Blade", no álbum Powerslave.
• A banda brasileira Angra utilizou a imagem do santo na capa do álbum Temple of Shadows.
• Zeca Pagodinho gravou recentemente em seu álbum "Uma Prova de Amor" a música "Ogum" com uma letra com um forte apelo ao sincretismo, a oração de São Jorge é feita no trecho final da música pelo cantor e compositor Jorge Ben.
• Moacyr Luz e Aldir Blanc fizeram a música "Medalha de São Jorge" em homenagem ao santo.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

22 de abril

Descoberta do Brasil


O termo descoberta do Brasil se refere à chegada, em 22 de abril de 1500, da frota comandada por Pedro Álvares Cabral ao território onde hoje se encontra o Brasil. A palavra "descoberta" é usada nesse caso em uma perspectiva eurocêntrica, referindo-se estritamente à chegada de europeus às terras do atual Brasil, que já eram habitadas por vários povos indígenas.

Embora quase exclusivamente utilizado em relação à viagem de Cabral, o termo "descoberta do Brasil" também pode referir-se à suposta chegada de outros navegantes europeus antes de Cabral. Esse é o caso das possíveis expedições do espanhol Vicente Yáñez Pinzón em 26 de janeiro de 1500[carece de fontes?], e de Duarte Pacheco Pereira[1] em 1498.[2]




A armada

Confirmando o sucesso da viagem de Vasco da Gama no âmbito de encontrar um novo caminho para as Índias - visto que o Mediterrâneo se encontrava sob posse dos mouros, o Rei D. Manuel I se apressou em mandar aparelhar uma nova frota para as Índias, frota esta ainda maior que a primeira, sendo composta por treze embarcações e mais de mil homens. Pela primeira vez liderava uma frota um fidalgo, Pedro Álvares Cabral, filho de Fernão Cabral, alcaide-mor de Belmonte.

Estima-se que a armada levasse mantimentos para cerca dezoito meses. Pouco antes da partida, el-Rei mandou rezar uma missa, no Mosteiro de Belém, presidida pelo bispo de Ceuta, D. Diogo de Ortiz, em pessoa, onde benzeu uma bandeira com as armas do Reino e entregou-a em mãos a Cabral, despedindo-se o rei do fidalgo e dos restantes capitães.

Vasco da Gama teria tecido considerações e recomendações para a longa viagem que se chegava: a coordenação entre os navios era crucial para que não se perdessem uns dos outros. Recomendou então ao capitão-mor disparar os canhões duas vezes e esperar pela mesma resposta de todos os outros navios antes de mudar o curso ou velocidade (método de contagem ainda atualmente utilizado em campo de batalha terrestre), dentre outros códigos de comunicação semelhantes.

A viagem

Conforme relatam os cronistas da época,[3] zarpou a grande frota de treze navios do Restelo a 9 de Março de 1500, com o objetivo formal de novamente tentar atar relações comerciais com os portos índicos de Calecute, Cananor e Sofala, uma vez que Vasco da Gama havia sido, na primeira tentativa, absolutamente desastroso, chegando a ser ridicularizado pelos governantes locais dadas as péssimas condições em que os portugueses se encontravam no desembarque.[4] Neste mesmo aspecto diplomático, a viagem de Cabral também mostrou-se um grande fracasso, sendo que Portugal ainda demoraria mais algumas décadas até conseguir uma relação comercial com esses portos.

Pelo dia 14 do mesmo mês já encontravam-se nas Canárias e no dia 22 chegavam a Cabo Verde. No dia seguinte desapareceu misteriosamente o navio de Vasco de Ataíde.

No dia 22 de Abril, de modo que não se sabe com certeza se foi acidental ou já premeditado - embora as recentes pesquisas historiográficas demonstrem que os portugueses tinham, no mínimo, alguns fortes indícios de haver terra no outro lado do Atlântico (graças à carta da viagem de Vasco da Gama) -, avistou-se terra chã, com grandes arvoredos: ao monte. Ao grande monte, Cabral batizou de Monte Pascoal e à terra deu o nome de Ilha de Vera Cruz — posto que não se pensava ser uma terra muito extensa -; depois, descobriu-se ser um continente, denominaram-na Terra de Santa Cruz (hoje Porto Seguro, no Estado brasileiro da Bahia). Aproveitando os alísios, a esquadra bordejou a costa baiana em direção ao norte, à procura de uma enseada, achada afinal pouco antes do pôr-do-sol do dia 24 de abril, em local que viria a ser chamado Baía Cabrália. Ali permaneceram até 2 de maio, quando rumaram para as Índias, cumprindo finalmente seu objetivo formal de viagem, deixando dois degredados e dois grumetes que desertaram.

A chegada em Vera Cruz


No dia 24 de Abril, Cabral recebeu os nativos no seu navio. Então, acompanhado de Sancho de Tovar, Simão de Miranda, Nicolau Coelho, Aires Correia e Pero Vaz de Caminha, recebeu o grupo de índios que reconheceram de imediato o ouro e a prata que se fazia surgir no navio — nomeadamente um fio de ouro de D. Pedro e um castiçal de prata — o que fez com que os portugueses inicialmente acreditassem que havia muito ouro naquela terra. Entretanto, Caminha, em sua carta,[5] confessa que não sabia dizer se os índios diziam mesmo que ali havia ouro ou se o desejo dos navegantes pelo metal era tão grande que eles não conseguiram entender diferentemente. Posteriormente, provou-se que a segunda alternativa era a verdadeira.

O encontro entre portugueses e índios também está documentado na carta escrita por Caminha. O choque cultural foi evidente. Os indígenas não reconheceram os animais que traziam os navegadores, à exceção de um papagaio que o capitão trazia consigo; ofereceram-lhes comida e vinho, os quais os índios rejeitaram. A curiosidade tocou-lhes pelos objectos não reconhecidos - como umas contas de rosário, e a surpresa dos portugueses pelos objetos reconhecidos - os metais preciosos. Fez-se curioso e absurdo aos portugueses o fato de Cabral ter vestido-se com todas as vestimentas e adornos os quais tinha direito um capitão-mor frente aos índios e estes, por sua vez, terem passado por sua frente sem diferenciá-lo dos demais tripulantes.


Os indígenas começaram a tomar conhecimento da fé dos portugueses ao assistirem a Primeira Missa, rezada por Frei Henrique de Coimbra, em um domingo, 26 de abril de 1500. Logo depois de realizada a missa, a frota de Cabral rumou para as Índias, seu objetivo final, mas enviou um dos navios de volta a Portugal com a carta de Caminha. No entanto, posteriormente, com a chegada de frotas lusitanas com o objetivo de permanecer no Brasil - e a tentativa de evangelizar os índios de fato -, os portugueses perceberam que a suposta facilidade na cristianização dos indígenas na verdade traduziu-se apenas pela curiosidade destes com os gestos e falas ritualísticos dos europeus, não havendo um real interesse na fé católica, o que forçou os missionários a repensarem seus métodos de conquista espiritual.
Os povos nativos

Quando da chegada ao Brasil pelos portugueses, o litoral baiano era ocupado por duas nações indígenas do grupo linguístico tupi: os tupinambás, que ocupavam a faixa compreendida entre Camamu e a foz do Rio São Francisco; e os tupiniquins, que se estendiam de Camamu até o limite com o atual Estado brasileiro do Espírito Santo. Mais para o interior, ocupando a faixa paralela àquela apropriada pelos tupiniquins, estavam os aimorés.

No início do processo de colonização do Brasil, os tupiniquins apoiaram os portugueses, enquanto seus rivais, os tupinambás, apoiaram os franceses, que durante os séculos XVI e XVII realizaram diversas ofensivas contra a América Portuguesa. A presença dos europeus incendiou mais o ódio entre as duas tribos, ódio relatado por Hans Staden, viajante alemão, em seu sequestro pelos tupinambás. Ambas as tribos possuíam cultura antropofágica com relação aos seus rivais, característica que durante séculos não fora compreendida pelos europeus, o que resultou na posterior caça àqueles que se recusassem a mudar esse hábito.
Polêmica

A polêmica sobre o descobrimento

No ano 2000, comemorou-se o aniversário de 500 anos do Descobrimento do Brasil, o que provocou muita polêmica em redor da data. Para muitos, a comemoração implicaria que a história do Brasil completou o quinto centenário no ano 2000, uma perspectiva vista como eurocêntrica, pois partiria do princípio de que apenas com a chegada da esquadra de Cabral teve início o processo histórico nas terras que hoje formam o Brasil, desconsiderando os povos nativos.

terça-feira, 20 de abril de 2010

FUNARTE/ CULTURA

FUNARTE

34 editais para premiar mil artistas

Com o maior orçamento dos últimos 20 anos definido pelo Ministério da Cultura, a Funarte acaba de lançar 34 editais de fomento às áreas de teatro, dança, circo, artes visuais, fotografia, música, literatura, cultura popular e arte digital. Serão concedidos mil prêmios e bolsas de até R$ 260 mil, para projetos de produção, formação de público, pesquisa, residências artísticas, apoio a festivais e produção crítica sobre arte.

Com investimento total de R$ 56,8 milhões, a Funarte e o Ministério da Cultura acabam de lançar 34 editais de fomento às áreas de teatro, dança, circo, artes visuais, fotografia, música, literatura, cultura popular e arte digital. Serão concedidos mil prêmios e bolsas de até R$ 260 mil, para projetos de produção, formação de público, pesquisa, residências artísticas, apoio a festivais e produção crítica sobre arte.

Foram lançadas as novas edições dos prêmios Myriam Muniz (teatro), Klauss Vianna (dança) e Carequinha (circo) e da Rede Nacional Artes Visuais – que estão entre as principais políticas públicas para as artes no Brasil. O apoio à literatura, à criação em música erudita e à circulação de música popular também está mantido. Além disso, muitas inovações garantem espaço para novos formatos e novas interações estéticas no país.

Pela primeira vez, a Funarte lança editais para seleção de festivais. Há também prêmios para artes cênicas na rua e o apoio a residências artísticas no Brasil e no exterior. A instituição investe na composição de música erudita, em concertos didáticos na rede pública de ensino e na gravação de CDs de música popular. Nas artes visuais, a Funarte volta a apoiar festivais e salões regionais, além de viabilizar projetos de pesquisa e reflexão crítica sobre artes contemporânea. A fotografia será tratada como categoria à parte, com o Prêmio Marc Ferrez.

Orçamento Recorde – O orçamento da Funarte para 2010 é de R$ 101,6 milhões – sete vezes maior que o de 2003, e o maior em vinte anos de história da Fundação. Os programas foram elaborados a partir das diretrizes do Plano Nacional de Cultura, do Ministério da Cultura, com ampla participação da sociedade, por meio de diversos encontros com a diretoria colegiada da instituição e com os Colegiados Setoriais. Os projetos inscritos são analisados por comissões externas, contando sempre com representantes de todas as regiões brasileiras. As inscrições estão abertas em todo o país.

Além de editais para a ocupação de galerias e outros espaços expositivos, foram lançadas 11 seleções públicas para projetos de música e de artes cênicas a serem desenvolvidos em salas de espetáculos e teatros no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília.

Ascom Funarte

Mais informações: www.funarte.gov.br - Portal das Artes Funarte

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Progama butiquim do samba

Butiquim do Samba.


Neste sábado á partir das 14 horas, na RBR TV, Canal 38, estréia o programa Butiquim do Samba.

Programa apresentado por Carlinhos Maracanã e Sônia Maria, com produção de Neuza Meireles, que traz um pouco da história do Samba, em Porto Velho e também por outras paragens.

Bate papo e informação sobre o mundo do samba.

O Programa é gravado ás terças, a partir das 19 horas, no Mercado Cultural, com apoio da Fundação Iaripuna e do Zizi.

Neste sábado Butiquim do Samba, ás 14 horas no canal 38, RBR-TV.

Reprise, segunda ás 14 horas, não perca!

Carlinhos Maracanã
ZEKATRACA SEXTA FEIRA


De feira livre a

Mercado Central

Silvio M. Santos



Na festa de inauguração a população vai poder prestigiar o cantor Bado e alguns músicos regionais


No próximo domingo 18, o prefeito de Porto Velho inaugura a reforma do Mercado Central, prédio que fica no quadrilátero formado pelas ruas Percival Farquar, Euclídes da Cunha, Henrique de Dias e Renato Medeiros. De acordo com material distribuído pela assessoria de comunicação da prefeitura, o empreendimento contou com os investimentos de cerca de um milhão e oitocentos mil reais.

Os 79 boxes distribuídos entre bancas de frutas e verduras, açougue, peixaria, lanchonetes e restaurantes vão funcionar a partir deste domingo, 18, das 06 da manhã até as cinco da tarde. “O prefeito Roberto Sobrinho entrega neste domingo à população, o maior e mais confortável mercado da capital”.

Vamos lembrar de como uma feira que funcionava apenas no final de semana se transformou no principal Mercado da cidade de Porto Velho

A Feira Livre

Os agricultores do baixo Madeira e as “banqueiras” que serviam refeições vendiam mingau e outras iguarias típicas da região Amazônica montavam suas bancas na Feira Livre que funcionava em frente ao Mercado Público Municipal (hoje Mercado Cultural) pela rua José do Patrocínio, ainda não existia nem o Palácio Presidente Vargas e nem a Praça Getúlio Vargas. Com a inauguração do Palácio em 1952 a feira foi transferida para o espaço que ficava entre o Clube Internacional (hoje Ferroviário) e a rua Farquar bem em frente ao prédio do Serviço de Água Luz e Força do Território Federal do Guaporé – Salft no espaço onde hoje funciona a sede da Eletrobras/Ceron e em frente ao prédio sede da Estrada de Ferro Madeira Mamoré (Relógio). Bom, essa feira funcionou até a inauguração do galpão definitivo da Feira Livre de Porto Velho cuja construção aconteceu entre os anos de 1955 e 1956. O galpão foi construído no espaço entre as ruas Farquar, Euclides da Cunha (naquele tempo não tinha esse nome e nem era considerada rua), Henrique Dias e a hoje travessa Renato Medeiros (que também não tinha nome na época). O Galpão quadrado ocupava todo o espaço, só que a parte central não era coberta e era onde ficava um chafariz que abastecia de água os feirantes.

A Feira funcionava de quinta feira ao meio dia de sábado. Quinta feira chegava do Teotônio o Trem da Feira, que estacionava num ramal da Ferrovia nas proximidades da Avenida Farquar e a Lancha do Beiradão do Serviço de Navegação do Madeira (SNM) que trazia os produtos produzidos pelos agricultores que moravam entre São Carlos e Porto Velho. De 15 em 15 dia chegava à lancha do Machado com produtos dos agricultores que moravam em Tabajara, Cachoeira 2 de Novembro e Calama, na realidade com produtos da “Seregipa”. Quando a feira passou a funcionar nesse galpão, comerciantes de Porto Velho também se instalaram e então quando a feira fechava ao meio dia de sábado, esses comerciantes enlonavam seus produtos (sacos de farinha, feijão, arroz etc.) até a quinta feira seguinte, enquanto os colonos que moravam ao longo da Estrada de Ferro embaraçavam no trem da feira de volta para suas colônias e os chamados “Beradeiros” embarcavam na lancha do beiradão retornando às suas localidades.

Na Avenida Farquar, no perímetro da Sete de Setembro até a hoje Travessa Renato Medeiros, existia uma vila de casas (ali vivi minha infância e adolescência), cujos proprietários mantinham comercio de venda de cereais e bebida alcoólica e as famosas “pensões” (se fosse hoje seriam restaurantes) que serviam comida.

Durante aproximadamente dez anos, esse galpão funcionou apenas no modelo feira, aliás, o nome era “FEIRA MODELO”.





O Mercado que surgiu das cinzas



Em 1966 o Mercado Público Municipal (hoje Mercado Cultural), pegou fogo e os comerciantes concessionários dos boxes, de dentro do mercado, além de perderem toda mercadoria, não tinham onde recomeçar. Foi então que o governador e o prefeito da época transformaram o galpão da “Feira Modelo” em Mercado Central.

As paredes foram levantadas e também construíram boxes, o meio foi coberto e ali passaram a funcionar os boxes de venda de verduras, frutas, queijo, legumes, mel e ervas. Na estrada pela Farquar foram instaladas as bancas de venda de peixe e os açougues. Pela Porta da rua Henrique Dias para o lado esquerdo de quem entrava, ficavam os boxes de venda de cereais. Para o lado direito as bancas de vendas de lanches e refeições. Pela Porta da Euclides da Cunha lado esquerdo, uma lanchonete/restaurante e pelo lado direito os banheiros. Pela Porta da Renato Medeiros na entrada, tinha banca de jornal do seu Barroso. Pelo lado direito um açougue e bancas de venda de comida. Pelo lado esquerdo bancas de frutas, raízes, tucupi e outras iguarias.

Quando o prefeito Roberto Sobrinho resolveu reformar o Mercado, mandou construir uma galpão de madeira no meio da rua Henrique Dias. Para quem não sabe, no local onde foi construído esse galpão para abrigar provisoriamente os comerciantes, existiu um dos casarões construídos pela administração da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, onde chegou a funcionar algumas repartições da empresa, com a inauguração do prédio do relógio, funcionou como alojamento dos jogadores do time do futebol do Atlético Clube Ferroviário. Na parte de baixo desse casarão construído em pinho de Riga, os arigós que vinham do Nordeste passaram a morar. Muito antes, o “Quirino” construiu uma de suas choupanas. Quirino era um lunático que viveu em Porto Velho cuja paranóia era montar palhoça para se abrigar, em vários cantos da cidade.

A partir desse domingo, a Henrique Dias passa a dar passagem até a Avenida Farquar e Porto Velho ganha seu mais bonito mercado. “Mercado Central” Inaugurado no dia 18 de abril de 2010.