terça-feira, 10 de agosto de 2010

CABELO NA VILA IZABEL

Vila: Martinho não vai fazer samba sobre o cabelo
TUDO DE SAMBA - Por Simone Fernandes

Henrique Matos/Divulgação

Vencedor da disputa de samba no ano passado e único autor da obra que a Vila Isabel levou para a Sapucaí no desfile sobre Noel Rosa este ano, Martinho da Vila disse que não vai participar do concurso que vai escolher a composição que será cantada pelos componentes da azul e branco no próximo Carnaval.

Em entrevista ao repórter Valmir Moratelli para o IG, o artista, que é presidente de honra da agremiação, disse que enredos criados com o objetivo de conseguir patrocínio não o agradam.

- Isso me entristece como sambista. Dá para fazer um desfile só com o dinheiro que vem da prefeitura e dos ensaios de quadra. Com três milhões e pouco, sem patrocínio, se faz um carnaval. Não tem a menor chance de eu compor um samba sobre cabelo (risos). Não tem assunto, né? - declarou o cantor e compositor.

O título do enredo da Vila para 2011 é "Mitos e histórias entrelaçadas pelos fios de cabelo". O desfile marcará a estreia da consagrada carnavalesca Rosa Magalhães na escola de Martinho. A escola espera obter patrocínio com o tema e, embora a diretoria não confirme, comenta-se que a agremiação estaria em negociações com a Pantene.

MUDANÇAS no Carnaval

A NOVA FESEC

* Por: Altair Santos (Tatá)

Em meio ao frisson da hora, o pleito eleitoral do dia 3 de outubro, a Federação das Escolas de Samba e Entidades Carnavalescas – FESEC fez a sua eleição no último sábado e elegeu o professor e artista plástico Ariel Argobe, o novo Presidente. Para fechar consenso sobre o nome do eleito, as escolas tiveram que sentar à mesa e promover um debate sobre a instituição, a sua realidade e os seus rumos. O Ariel também é do ramo. É carnavalesco e traz na sua linha de conduta o forte interesse em promover o trabalho das escolas para além da simples apresentação na passarela do samba. Entendemos também que assim deve ser. Entretanto, para cumprir metas e objetivos à frente da instituição, a nova diretoria precisa mergulhar nas águas da re-engenharia e discutir, repensar, projetar e atualizar a FESEC. Escola de samba deve e merece espraiar o seu raio de atuação para horizontes além do asfalto da avenida ao som da bateria e sob o brilho das fantasias para exibir o seu lume noutros campos, contextualizando melhor a sua existência. É a vida e seu dinamismo. Ela (a escola de samba) deve trabalhar a sua inserção no contexto comunitário e lá, no seu espaço, promover ações que animem crianças, jovens e adultos, conquistando-os à participação. Faz-se o ponto, criar-se a identidade. Isso é interatividade. Não mais cabe no processo cotidiano da efervescente e acelerada Porto Velho de hoje, Escolas de Samba nômades de si mesmas, ou seja: desfilam na avenida e residem onde mesmo? Um exemplo disso é a atual bicampeã do carnaval local, a Diplomatas do Samba que, do alto dos seus 50 anos de existência, muitos títulos e glórias, ainda não têm residência fixa. Talvez nenhuma das nossas agremiações de carnaval tenha concorrido no Edital dos Pontos de Cultura do Governo Federal que recentemente contemplou grupos folclóricos e de teatro, dentre outros, em todo o estado. Nada pejorativo mas, algumas escolas, ainda estão sediadas na residência ou nas pastas dos seus próprios presidentes e diretores. Os novos enunciados culturais nacionais que advém dos órgãos de cultura (MINC e seus tentáculos), associam a linha da produção cultural ao campo da inclusão social, da valorização das comunidades e da mão-de-obra lá existente, fortalecendo a economia da cultura, re-paginando e qualificando a produção artística e versando em favor do dueto cidadão/cidadania. Escola de samba antes de ser braço social é berço. De lá, convém, entoar novos cânticos de enredo para a remodelação da FESEC e suas afiliadas pelas vias de novos e audazes projetos. As escolas de samba têm história e seus currículos lhes credenciam a alçar novos vôos. O inquieto Ariel que conhecemos haverá sim de discutir com seus pares de diretoria, os novos traços fisionômicos e jurídicos para o carnaval local primando pelos contidos da autogestão, encampando uma política de ação onde, o repasse de recuso público para as agremiações seja apenas um, dentre os tantos itens de interesse e o velho livro de ouro uma peça a contar o passado cadenciado pelo rufar do surdo e colagem da lantejoula no estandarte. Parabéns e força Ariel.

(*) o autor é Presidente da Fundação Cultural Iaripuna
tatadeportovelho@gmail.com

AINDA EM MADUREIRA!

Fina Flor do Samba Revela Ênio Melo Cantando Paulinho da Viola

Por Antônio Serpa do Amaral Filho

Cantando na calçada do Bar do Zizi, Ênio de Oliveira Bento de Melo revelou-se um dos melhores porta-vozes da música de Paulinho da Viola em Rondônia e passou em revista a obra do compositor, inundando de magia e malemolência o centro histórico guaporé. Ele não nasceu pro samba. Nasceu pra jogar basquete. A exemplo do revolucionário Tchê Guevara, sofreu e lutou contra a asma por um bom tempo. Cantava miúdo e para dentro, hoje canta pra fora em bem dosada vocalização: nem tão sustenido que pareça boçal e agressivo ao bom ouvido da platéia, nem tão descaído em profundo bemol que lhe deixe aquém do tom ideal. Em perfeito diapasão com a performance de um gentleman falando musicalmente em nome de um lorde da Portela, Ênio Melo mostrou-se um eloqüente intérprete que não abre mão da decência e fidalguia na hora de servir à mesa do ouvinte o gênero inventado por Donga, Ismael Silva e Sinhô. Sua apresentação na sexta-feira passada, dia 06, no projeto Fina Flor do Samba, defronte ao Mercado Cultural, atraiu uma enorme quantidade de gente e bambas da mais nobre estirpe musical e fez o centro histórico de Porto Velho respirar os bons ares da poesia do autor de Pecado Capital, Foi um Rio Que Passou em Minha Vida e tantas outras pérolas negras da música popular brasileira. Babá, Dadá do Cavaco e Neguinho Meneses olharam bem fundo nos olhos do intérprete e copiosamente choraram, lembrando o que disse Vinícius: fazer samba não é contar piada/quem faz samba assim não é de nada/um bom samba é uma forma de oração!

A missão honrosa de fazer a abertura do show coube ao Presidente da Fundação Cultural Iaripuna, Altair dos Santos, o Tatá, que, mesmo sem a bendita iluminação artística no palco que mais vende a imagem do Mercado Cultural, não se fez de rogado e apresentou ao público a atração da noite, narrando em síntese um pouco da trajetória de vida do filho de Dona Tereza e do seu Esmite Bento de Melo, o Príncipe do Real Segredo Maçônico de Rondônia e um dos poucos a ter, in memorian, cadeira cativa no tradicional Bar do Zizi. Quanto ao despojamento, nota dez para o Tatá. Quanto à atitude administrativa de providenciar luzes para o show, a nota crítica não poderia ser outra: ZERO.

Sabendo que cantar Paulinho da Viola não é fazer um pagode qualquer em boteco de pé de esquina, Ênio se cercou de todos os cuidados musicais possíveis na produção do seu show e conseguiu o melhor dos resultados: interpretar com maestria a obra do grande compositor, sem pagar tributo nem ao culto exagerado à imagem do artista nem ao romantismo intenso que flui das construções poéticas de suas letras. Ninguém precisa empurrar o rio Madeira abaixo, pois ele corre pachorrentamente sozinho - é sabido. Na gestalt musical de Ênio Melo deu-se a mesma coisa: Paulinho da Viola jorrou naturalmente no leito cadencial dos acordes bem articulados do sargento Ney, com o auxílio luxuoso do pandeiro de Válber, do apurado tamborim de Edmilson Night, do tantã bem colocado de Neguinho, o ganzá e o reco-reco dos serenos Sérgio e Beto Ramos e o surdo hiperbólico de Álvaro, ex-integrante do Kizomba. Jogando no meio de campo desse time de bambas, via-se Oscar Night batucando em síncopes seu requintado repique de mão.

Ênio Melo, a grande atração musical da última exibição do Fina Flor do Samba, é um intuitivo. Irmão de Ernesto Melo e marido de Dona Rosa, ele ingressou de forma transversa no domínio do violão, pois antes de saber ele já sabia que sabia. Hoje, com 5.0 de idade, reconhece, para o deleite do folclore popular, que seu caso de amor com a música e com a viola nasceu mesmo num ataque de birra provocado pelo amigo Ademir Romano, o Bacuri, que, medíocre e monocórdio, passava horas e horas encafifado num dó maior e não conseguia finalizar a música iniciada. Indignado, Ênio passou a estudar harmonia e execução, venceu a asma e soltou a voz. Por isso é hoje belo e inspirador, empunhando com altivez a viola e cantando o samba como ele deve ser cantado: com paixão e encantamento, como se todas as canções fossem dedicadas à mulher amada e o mundo fosse se acabar um minuto depois do último acorde dissonante.

No dia em que Ênio Melo se arvorou a mostrar a arte e o talento de Paulinho da Viola no centro histórico de Porto Velho, a noite só poderia mesmo terminar com uma bela homenagem a um monstro sagrado da musicalidade tupiniquim – e assim foi feito, diz a lenda. No plano espiritual, saiba Adoniran Barbosa que sua passagem na terra não foi em vão: a Saudosa Maloca, o Samba do Arnesto e o Trem das Onze continuam semeando, em todos os quadrantes, sentimentos os mais sublimes no coração da gente brasileira. E assim, com Ernesto Melo e Hudson no vocal, entoando o sambista da garoa, teve fim mais um capítulo da maior novela musical de todos os tempos em Rondônia: a Fina Flor do Samba. Salve o Bar do Zizi!