sexta-feira, 11 de junho de 2010

MUDA PORTO VELHO

Por Sílvio Persivo

Ora direis, eis um sonhador! Que seja! Assumo que sou, porém, houve um tempo, muito tempo atrás, mais de cinco anos, ou seja, na pré-história, em que nós, jovens técnicos de Rondônia, como Luiz Cesar Auvray Guedes, Jorge Elage, Marcelino Pontes Moreira, William Cury, Lucindo Quintans, Antônio da Rocha Guedes, Aldenor Neves e tantos, tantos outros que já esqueci, sonhamos em criar um Estado mais justo, com crescimento equilibrado e pensávamos que seria possível criar também uma capital muito melhor. Nós, pensávamos, era um tempo antigo, ainda se pensava, que seria possível fazer habitações adaptadas à região, não permitir que na época o BNH, o Minha Casa, Minha Vida daquela época, enchesse nossa cidade de pombais, casinhas pequenas, casinhas abjetas na imensidão geográfica da Amazônia. Foi uma batalha que perdemos, mas, perdemos honrosamente, perdemos, porém, ainda assim, graças mais a um Capitão Silvio, a um Assis Canuto, a um Lindoso, a um Modesto, que implantaram no campo pequenas propriedades, fazendo uma sociedade menos injusta, embora, é verdade, sem memória. Mas, perder, para mim, jamais significou perder a guerra; sempre foi só perder uma batalha.

E continuo pensando que é possível fazer de Porto Velho uma bela cidade. Para mim, aliás, apesar de tudo é sua predestinação. É claro que sei que para se ter uma bela cidade se deve começar pela limpeza das ruas, pela educação do povo e depois passar para a forma como são acolhidos os visitantes, como se cuida das belezas da arquitetura, do verde, das praças e, ó dor, também do trânsito. Sem falar de que meus ouvidos, criados com João Gilberto e Tom Jobim, se queixam, com toda razão, da poluição sonora. O silêncio, meus bárbaros e queridos amigos de veículos tonitroantes, é indispensável em certas horas e lugares. Não, não me estenderei sobre as calçadas mal cuidadas, nem falarei de flanelinhas, camelôs e pedintes que infestam nossas ruas. Coisas de pobreza e do nível de economia de nosso povo.

Com todos os pecados e problemas ainda assim, podem dizer o quanto sou crédulo, ainda creio que já existe uma Porto Velho, adolescente ainda, mal ajambrada ainda, mas, já "quase bela". Sei que ainda sem vestes, ainda meio sem graça, ainda padecendo de doenças sem cura rápida, como a falta de uma boa educação, apesar da proliferação das escolas e universidades. Não, não estou fazendo vista grossa aos celulares empunhados em qualquer lugar, inclusive no caótico transito. Nem que, usualmente, fala-se muito alto, como se o assunto fosse de interesse geral. Não esqueço da poeira no verão, nem dos esgotos pestilentos, nem que se a chuva chega as ruas viram igarapés, largos rios e a sujeira jogada se amontoa de forma que a má educação se revela na sujeira boiando como que gritando contra a educação do povo.

Nem vou falar de orelhões quebrados, de montes de lixos jogados em calçadas, de mato ou até mesmo de estátuas, cadeiras quebradas e sujeira nas salas de aulas de escolas e universidades. Dos banheiros que são públicos, meu Deus, livrai-nos deles! Por falar em Deus até mesmo em templos e igrejas se perde a noção de que o Senhor gosta das coisas limpas e daí é melhor esquecer a política. E mesmo assim continuo otimista? Sim. Somos homens não anjos. E a solução é tratar o homem na medida do que precisa. Não respeita cruzamentos, pára em paradas de ônibus, na faixa ou em fila dupla? Eleva o nível do alto-falante e passeia com música estridente? Bem, o jeito é multar. Assim como se deve educar para o trânsito também se deve utilizar a autoridade para educar. E se em propaganda o PT é bom que se use sua formula de repetição, no rádio e na televisão, para tratar destes temas, dizer que o que se anda fazendo é muito errado, ilegal e representa má educação. Não digo de quem a idéia, mas, um querido amigo meu já pensou em filmar as barbaridades que se faz em nosso trânsito e passar para que as pessoas caiam na real sobre o absurdo de seu comportamento. Sei que não deveria ser preciso dizer, porém, é imperativo que se diga para as pessoas: - Seja gentil, seja educado, não suje a rua, trate bem as pessoas, dê a preferência, ajude a manter a cidade limpa, não pense que todo mundo é obrigado a ter seu gosto musical, não buzine. Já é um repertório inicial muito bom, que pode modificar muitas coisas. É preciso educar Porto Velho. È preciso que se recupere o velho hábito dos religiosos de dizer para as pessoas o que devem fazer para serem mais gentis e, por conseqüência, mais felizes. È preciso repetir nas escolas, no trabalho, nas igrejas, nos bares, nas faculdades, com os amigos, nas festas, e em casa também, que Porto Velho precisa ser melhor e, para isto, é preciso tratar melhor os outros e a cidade. Mas, meu amigo que me lê, isto começa por você. Ajude a educar Porto Velho. Só se mudarmos a indiferença que nos cerca Porto Velho será, realmente, bela. Só precisa de você. O por do sol está aí toda hora caindo docemente nos mostrando que quem perturba a natureza é o homem. E a delicadeza como cozinhar bem ou jogar futebol precisa de prática, no fundo, é uma tecnologia dos bons modos.

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