terça-feira, 18 de maio de 2010

BAR DO ALÍPIO

OS ÓRFÃOS DO VILLAS BAR (III)

Por: Altair Santos (Tatá)*

Pois bem amigos e amigas é o fim da tormenta após diluvianos chororôs de quarenta dias e quarenta noites. Depois da deriva, depois de afogar-se em copos estranhos e dormir pesados sonos nas mesas de outros bares, as águas da tristeza baixaram. A arca dos perdidos atracou e um novo monte Ararat, em forma de bar, haverá de acolher os sobreviventes. É hora de vida nova. Conforme prometido vamos passar a régua nessa conta e dar por encerrada a inventariação e partilha da herança imaterial decorrente do fechamento do Villas Bar. O certo é que o adiós boteco deixou inapagáveis chamas de tristeza no coração de muitos e como são muitos! Dados do último recenseamento do IEG - Instituto Ébrio Geográfico (especializado em localizar, identificar, registrar e documentar a densidade demográfica de pinguços da cidade) diz ali no Villas Bar, ter convivido a mais heterogênea sociedade freqüentadora de botecos das últimas décadas em Porto Velho. Rondonienses e gaúchos, baianos e acreanos, cariocas e mineiros, sergipanos, chilenos e peruanos, gregos, troianos e bolivianos, todos ali se achegaram e beberam livres dos requisitos do passaporte ou do visto, era trânsito livre, era free life para aquela sociedade evoluída. A grande legião de órfãos ainda recolhe-se em sofrimento, mas já se agrupa numa e noutra esquina da cidade. São os novos e bons sinais. Dores e lamentos à parte, quem quiser, a partir de então, promover seus reclames que o façam perante a autoridade do gabaritado Doutor Destino e, com ele, lá em seu escritório, em audiência, tenham sobre todos os “porquês” que o assunto ainda demanda. Ele é autoriadade máxima no assunto e confortará a todos atrasadinhos. Mesmo assim fazemos aqui alguns registros em contabilidade final, é a repescagem. Carlinhos Maracanã, por exemplo, trancou-se em casa e suportou o by by Villas calado, sozinho e triste, não reclamou. Pelo recolhimento e atitude humilde que surpreenderia até mesmo alguns eméritos da categoria de Ghandi, São Francisco, Madre Teresa de Calcutá e Monges tibetanos, o botafoguense da boina irá ao guichê da saudade buscar a sua parte. A mana Almira que, noite após noite, vindo da Faculdade Católica, fazia pit-stop no Villas pra molhar a palavra e discutir Marilena Chauí, dentre outros autores, também receberá um hollerith cheio de promessas. O Bruno Rocha (Brunão) que morou aqui mandou e-mail e lá da região da Avenida Paulista, em São Paulo, se disse muito triste e quase chorou por causa do bar. Pobre moço! Pra resolver a situação dele consultamos o saldo em caixa, fizemos as contas e vamos mandar pelo SBI - Saudade Bank International, o seu FGTVB, leia-se: Fundo de Garantia por Tempo de Villas Bar. Então senhoras e senhores sintonizem seus rádios porque vai começar a partida, a seleção está em campo e as emoções estão afloradas, preparem seus corações porque, antes mesmo de começar a copa, essa turma de órfãos do Villas Bar já estará fortemente barulhenta e inquieta, assinando ficha de filiação e sediando-se - outra vez- em algum boteco do centro da cidade. Por enquanto a confraria continua trabalhando em quase absoluto silêncio, exigente, criteriosa e seletiva, assim como a FIFA para aprovação de cidades brasileiras para a copa de 2014. Eles - os órfãos - à luz dos seus secretíssimos e invioláveis critérios avaliam vários locais para a nova sede. Onde vai ser? É pergunta que não quer calar. Por enquanto ninguém sabe, nem eles mesmos, mas, quem viver verá! Um brinde, saúde e vida longa a todos.

(*) O autor é Presidente de Fundação Cultural Iaripuna.

tatadeportovelho@gmail.com
Por Beto Ramos

Teatro do Esquecimento

Diz à lenda que ver uma estrela sem brilho no chão é como compreender a derrota por meio de palavras sem sentido. Como um céu nublado e cheio de nuvens carregadas, o artista perdeu a sua grandeza e deixou seu rosto beijando o chão, por um momento onde não mediu a conseqüência de suas palavras. É preciso ser cultura e não estar cultura. O artista precisa ser louco, mas, sua loucura precisa ser criativa e não algo que traga destruição. O palco da loucura de um artista é o respeito por seu talento, por sua obra, por suas viagens alucinantes em busca da coisa perfeita. Diz à lenda que poucas palavras podem destruir e construir a honra de um artista. O palco do nosso Mercado Cultural possui a grandeza da nossa história. As cinzas devem ficar apenas na lembrança. A época dos generais se passou e levou no seu manto negro um pouco da nossa história. Precisamos de respeito e não de grosserias, que poderiam fazer a criança que ouviu as palavras insensatas, dizer, não venho nunca mais neste tal Mercado Cultural. A falta de sentido em tal reação nos dá a sensação que no lugar certo estão pessoas erradas. A obrigação de cumprir determinada ordem de quem comanda, é básico para que as coisas não se tornem muitos dias com nuvens carregadas. Diz à lenda que o respeito é o mínimo que poderíamos pedir a quem representa nossa cultura. Diz à lenda que tal reação se tornou de domínio público. Talvez uma reação pequena, mas, que foi presenciada por um público que aprendeu a respeitar o que esta sendo construído para engrandecer a nossa história. Erros de comunicação podem acontecer. O que não pode acontecer é lavar roupa suja diante de pessoas que simplesmente apreciam a beleza da revitalização do nosso centro histórico. A mãe cultura carrega em seus braços os órfãos do Vilas Bar, e os carrega no seu seio fraterno onde existe a união pela nossa história. Nossas sextas feiras estão mais ricas com a presença do BUBU com o seu vozeirão. E o nosso Mercado Cultural é lugar de engrandecimento da nossa cultura. Diz à lenda que não precisamos de atitudes inconseqüentes, que venham a fazer o povo imaginar que estamos sem comando. Somos o nosso tempo. Somos a história. Estaremos sempre prontos a defender o que escolhemos como bandeira da luta diária, “a nossa cultura beradeira”. Diz à lenda que as pequenas atitudes impensadas podem crescer se não colocarem as peças certas nos lugares certos. Os espaços de cultura precisam ser ocupados por espetáculos de arte, e não por cenas de somente um ato de uma peça de teatro que poderia ter o nome de esquecimento.

Diz a lenda.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

O PALESTRANTE

Nei Lopes
Nei Brás Lopes
9/5/1942 Rio de Janeiro, RJ.

Biografia

Compositor. Escritor. Cantor.
Nascido e criado no subúrbio carioca de Irajá. Morou no Lins, Grajaú e Tijuca. Mais tarde, em 1982, mudou-se para o bairro de Vila Isabel. Foi semi-interno da Escola Técnica Visconde de Mauá, em Marechal Hermes, lugar onde tomou consciência de sua negritude, influenciado por Maurício Teodoro (do Salgueiro), Carlos da Rosa (da Serrinha), e Pinduca (do Catete). Freqüentou a casa de Maurício e de Tia Dina, onde cantava-se muito samba e as tradições afro-brasileiras eram mantidas.
Integrou a Ala de Compositores e a Velha-Guarda do Salgueiro.
Publicou em 1963 poemas na Antologia Novos Poetas e mais tarde publicou textos na Revista Civilização Brasileira e no Jornal do Commércio.
Em 1975 foi contemplado com o prêmio "Fernando Chinaglia", da U.B.E. (União Brasileira dos Escritores). Também foi considerado pelo crítico inglês David Brookshae como um melhores poetas da negritude no Brasil.
No ano de 1999 em uma entrevista para o Segundo Caderno do jornal O Globo, declarou: "Deixei de ser mulatinho para ser negro, embora o processo estivesse longe da conscientização".
Ingressou na Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil em 1962. Depois da morte de seu pai, que não era muito a favor de que o filho cantasse e freqüentasse as rodas de samba, assumiu definitivamente o seu lado sambista, desfilando pelo Salgueiro em 1963. Em 1966 formou-se em Direito, trabalhando na profissão até 1970.
Entre as experiências enriquecedoras da casa da Tia Dina, inclui a amizade com Popó, que o levou para a religião africana mais radical - o candomblé tradicional, de fundamento baiano.
Por volta de 1978, aprofundou-se no estudo da religião, fez-se praticante, embora admitisse ver nessa entrega, acima de tudo, uma forma de integração, uma união cultural dos negros. Toda essa cultura e a consciência da negritude o tornaram um dos grandes conhecedores da causa negra, fato que transparece em seus livros e em suas composições, centradas na temática afro-brasileira.
Dentre seus livros mais conhecidos estão "O samba na realidade", Editora Codecri, em 1981; "Islamismo e negritude" (co-autoria com João Batista Vargens, 1982); "Casos crioulos", contos, de 1987; "Bantos, malês e identidade negra", de 1988; "O negro no Rio de Janeiro e sua tradição musical" (Pallas Editora, RJ) de 1992; "Dicionário banto do Brasil", de 1996; "Incursões sobre a pele", poesias, de 1996; "171 - Lapa-Irajá. Casos e enredos do samba", contos, em 1999, Editora Folha Seca; e no ano 2000, lançou "Zé Kéti, o samba sem senhor".
Em 1989 escreveu a revista "Oh, que Delícia de Negras!" (com músicas em parceria com Cláudio Jorge), que fez longa temporada no Teatro Rival, no Rio de Janeiro.
Escreveu, com Juana Elbein dos Santos, o encarte para o LP "Egungun, Ancestralidade Africana no Brasil".
Em 1997, em comemoração aos 80 anos da primeira gravação do samba "Pelo telefone" (Donga e Mauro de Almeida) a gravadora EMI/ODEON lançou a caixa "Apoteose ao samba", na qual, além dos discos, foi também encartado um livreto com dois textos: um de sua autoria "Uma breve estória do samba" e outro de Tárik de Souza.
Entre 1999 e 2000, respectivamente, teve encenado pelos alunos de teatro do Centro Cultural José Bonifácio, da Prefeitura do Rio de Janeiro, dois musicais: "Clementina" (sobre a vida de Clementina de Jesus) e "Dona Gamboa, Saúde" (sobre a história da região portuária, um dos berços do samba).
Em 2001 publicou "Guimbaustrilho e outros mistérios suburbanos", pela Coleção Sebastião, lançada nas bancas de jornais pela Editora Dantes.
No ano de 2003 lançou o livro "Sambeabá - O samba que não se aprende na escola", com ilustrações de Cássio Loredano e apresentação de Luiz Antônio Simas (Editoras Casa da Palavra e Folha Seca). O livro foi lançado no Centro Cultural Carioca, no Rio de Janeiro.
No ano de 2004 publicou, pela Summus Editorial/Selo Negro, "Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana".
No ano de 2005 foi lançado o livro "O samba do Irajá e de outros subúrbios: um estudo da obra de Nei Lopes", de Cosme Elias, originalmente uma dissertação de mestrado do autor.
Em 2006 publicou "Partido alto, samba de bambas" (Editora Pallas) e "Kitábu: O livro do saber e do espírito negro-africanos", pela Editora Senac-SP, livro no qual fez uma análise filosófica e literária da África e sua diáspora, seus povos, suas línguas e suas religiões na visão dos próprios africanos e dos europeus.
Para teatro, compôs trilhas para as peças "O perverso sonho da igualdade" e "Auto da Indendência", ambas de Joel Rufino dos Santos.
Participou de diversas antologias poéticas.
Entre as honrarias recebidas destacamos o troféu "Golfinho de Ouro" (Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro), do Governo do Estado do Rio de Janeiro; "Prêmio Tim de Música" e a "Ordem do Mérito Cultural", conferida pelo Governo Federal na Presidência de Luíz Inácio Lula da Silva.
Em 2009 lançou o primeiro romance intitulado "Mandingas da mulata velha na Cidade Nova" (Editora Língua Geral). Neste mesmo ano foi lançada a sua biografia escrita pelo jornalista Oswaldo Faustino para a "Série Retratos do Brasil Negro", da Editora Negro Edições.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

CINEMA

CURTAMAZÔNIA

Sangue e suor: a Saga de Manaus

Mais uma atração no 1º Festival de Cinema Curta Amazônia, está programado sua exibição para o dia 27 no Auditório do Senac a partir das 19:30 h, na Rua Tabajara, a atração será o filme de Luiz de Miranda Corrêa, 20 min, 1977, Rio de Janeiro, “Sangue e suor: a Saga de Manaus”, que irá mostrar a cidade de Manaus desde o início de sua colonização até o período de sua modernidade.

Acompanhe sua Sinopse: "Durante a conquista e a colonização portuguesa uma cultura européia é implantada no coração da Amazônia. Nasce a Vila de Manaus, mais tarde capital da Província e do Estado da Amazônia. O 'boom' da borracha no século XIX transformaria a aldeia numa metrópole à européia. Os índios tentam resistir, através de suas danças, cantos e alimentos. São, no entanto, pouco a pouco assimilados ou expulsos para a periferia da cidade. Um novo 'boom', o da Zona Franca de Manaus, atrai migrantes do país e do exterior. A cidade continua a crescer e, à custa do patrimônio do século XIX e da cultura ameríndia, se transforma numa cidade moderna. Mas, apesar dos índios terem virado folclore de um turismo avassalador, a marca da floresta impede que a cidade se transforme, pelo menos até agora, numa incolor Hong Kong brasileira." (SENM/EMPLASA)

"Uma interpretação sociológica e antropológica da capital amazonense, sob o impacto de valores alienígenas." (MA/CFCCM)
"Documentário sobre a cidade de Manaus: a implantação de uma cidade européia na floresta amazônica; as distorções de uma cultura alienígena que não respeitou a ecologia regional; a influência inglesa; os aventureiros da borracha e da Zona Franca; as transformações trazidas pelo comércio e pela indústria; a marginalização do indígena, sua massificação e transformação em objeto de turismo, a distorção de seus cantos e suas danças." (Filme e Cultura, n.29)

O BNDES apresenta o Festival de Cinema Curta Amazônia que está sendo patrocinado pela Eletrobrás - Eletrosul/Gov. Federal, FNC/SAV/MINC; e conta com os apoios culturais do CTAV/SAV/MINC, Secel/Governo de Rondônia, Fecomércio/RO, Maporé, Diário da Amazônia, SGC e Rede TV Rondônia; e apoios institucionais da ABD/RO e ABD Nacional, Iphan/RO, Site O Observador, Sinjor/RO e conta com o apoio da Imprensa Rondoniense e Nacional numa realização da Associação Curta Amazônia.

Maiores informações: festival@curtamazonia.com / www.curtamazonia.com

FONTE: Assessoria

13 de maio dia dos pretos velhos

Pretos-velhos na Umbanda, são espíritos de velhos africanos que viveram nas senzalas e majoritariamente como escravos que morreram no tronco ou de velhice, adoram contar as histórias do tempo do cativeiro. Sábios , ternos e pacientes, dão o amor, a fé e a esperança aos "seus filhos".
São entidades desencarnadas que tiveram pela sua idade avançada, o poder e o segredo de viver longamente, apesar da rudeza do cativeiro demonstrando qualidades insuperáveis para suportar as arguras da vida, consequentemente são espiritos guias de elevada sabedoria, trazendo esperança e quietude aos anseios da consulência que os procura para amenizar suas dores, ligados a vibração de Omulu, são mandingueiros poderosos, com seu olhar prescutador sentado em seu banquinho, fumando seu cachimbo, benzendo com seu ramo de arruda, aspergindo sua água fluidificada, demandam contra o baixo astral suas baforadas para aniquilar os perigosos kiumbas.
São os Mestres da sabedoria e da humildade. Através de suas várias experiências, em inúmeras vidas, entenderam que somente o Amor constrói e une a todos, que a matéria nos permite existir e vivenciar fatos e sensações, mas que a mesma não existe por sí só, nós é que a criamos para estas experiências, e que a realidade é o espírito. Com humildade, apesar de imensa sabedoria, nos auxiliam nesta busca, com conselhos e vibrações de amor incondicional. Também são Mestres dos elementos da natureza, os quais utilizam em seus benzimentos.





Os Pretos Velhos


Os espíritos da humildade, sabedoria e paciência.
Os Pretos Velhos são entidades cultuadas pelas religiões afro-brasileiras, em especial a Umbanda. Nos trabalhos espirituais desta religião, os médiuns encorporam entidades que possuem níveis de evolução e arquétipos próprios. Estas se dividem em três níveis:


As Crianças – chamadas eres, ou ibejis, representam a pureza, a inocência, daí sua característica infantil.


Os Caboclos – onde se incluem os Oguns, Boiadeiros, Caboclos e Caboclas, representam a força, a coragem, portanto apresentam a forma do adulto, do herói, do guerreiro, do indio ou soldado.


Os Pretos Velhos – incluem os Tios e Tias, Pais e Mães, Avôs e Avós todos com a forma do idoso, do senhor de idade, do escravo. Sua forma idosa representa a sabedoria, o conhecimento, a fé. A sua característica de ex-escravo passa a simplicidade, a humildade, a benevolência e a crença no “poder maior”, no Divino.

DISCRIMINAÇÃO

MOCAMBO SUBLEVADO

*Por: Altair Santos (Tatá)

Domingo, dia das mães. O que seria a continuação de um final de semana festivo e repleto de alegria, por conta da comemoração do dia das mães, no Mocambo, teve outro desdobramento. Logo cedo, um misto de tristeza, indignação e revolta tomou conta dos moradores daquele histórico bairro, ante a manchete de capa de um matutino local que estampava até pra cego ver: “Mocambo é rei das bocas-de-fumo.” Dentro, do jornal, na ampliação da matéria, mais contundência: Mocambo “ainda” é o rei das bocas-de-fumo. O desassossego foi geral, os ânimos se exaltaram, o café da manhã com as mamães esfriou na mesa e o churrasco do almoço sequer foi pro fogo. O bicho pegou! Atravessávamos o Bairro Mocambo, do Areal em direção ao centro e optamos pela Rua Capitão Esron de Menezes que termina na Almirante Barroso para, adiante, pela General Osório, dar acessao a 7 de setembro no coração da capital. Porém a nossa trajetória fora interrompida pelo frenético movimento de moradores do Bairro Mocambo que acorriam para a aconchegante Praça São José. A praça, hoje palco das manifestações e comemorações religiosas, sociais e culturais do Mocambo, era, naquele momento, o pátio da injúria, do protesto. Diretores e brincantes do Bloco Até Que a Noite Vire Dia, católicos, evangélicos, estudantes e líderes comunitários corriam de um lado para o outro, conversando entre si e avaliando o estrago social da notícia. Pobre Mocambo e seus moradores! Geograficamente talvez o menor, dentre os menores bairros de Porto Velho fora, após décadas de luta contra a discriminação, alvejado no peito sem que ninguém – antes dos dados divulgados – lhes procurasse pra conhecer a história de transformação ali existente. Não acreditamos em força repressiva que expõe em manchete de jornal, dados ou detalhes de operação em curso. O ato da investigação nos parece que deve se dá em sigilo para não comprometer o êxito pretendido. E se assim não o for que os textos a serem divulgados sejam zelosos e respeitosos com as pessoas de bem. Os moradores do mocambo são poucos. A bonita história de trabalho, de educação, cultura, esporte e amor à cidade, é esquecida por muitos noticiosos em detrimento dos desajustes sociais de um passado distante. O bairro é parte da cidade, logo, propenso a vivenciar as coisas boas e ruins que acontecem neste mundão de meu Deus, portanto, é desnecessáriio que o jornal lhe confira o pejorativo título de “rei da droga”. Se é fato que lá tem vendedor de drogas, estes informes devem resultar de conhecimento de campo investigativo. Então onde estão? Quem são? Em que rua? Já que sabem disso vão lá e os prendam. A comunidade do Mocambo não se desinteressa ou abre mão da defesa pública. Porém exige ser tratada como comunidade que precisa da sua integridade moral para seguir adiante, criando seus filhos, realizando suas ações, somando para o contexto histórico da cidade, interagindo com os poderes e outros segmentos, sem a pedra que lhe fora atirada contra o quengo. Há anos, no Mocambo, se ouve falar de comemorações festivas, sociais e culturais como dia das mães, dia dos pais, festa de são José (padroeiro do bairro), festa da padroeira do município, dia das crianças, natal, ano novo e carnaval. Lá também os segmentos organizados da comunidade, ou seja, o bloco, os religiosos e os jovens fazem ação solidária, se preocupam com o próximo em busca de vida digna e harmônica. Ei Mourão, Márcio, Ernesto, Maracanã, Sílvio e Bainha, Misteira e Mávilo, vamos fazer um Canta Mocambo! Vamos entoar o mais fervoroso refrão dali: “amanhacer no mocambo.”

(*) o autor é músico e cidadão portovelhense.

tatadeportovelho@gmail.com