A Volta da Esperança
Amir Haddad (*)
Estive em Porto Velho para o “Amazônia Encena na Rua”. Saí de lá com a sensação exata, de que em apenas um dia e duas noites de permanência, eu tinha participado de um evento que, de tão grande, que poderia ser, fazia com que ele então parecesse pequeno, diante do que ainda poderá ser.
Nos tempos em que vivemos raramente a esperança tem nos visitado. Na imensidão da Amazônia, em um novo mundo em formação, os caminhos ainda estão abertos, mais abertos que nos grandes centro e aglomerados urbanos.
Que ninguém mais se vanglorie do progresso acelerado. Já sabemos onde isto nos leva. Porto Velho pode construir uma corrente de Desenvolvimento Cultural e Cidadania, que a ajudará escapar da encruzilhada e dos perigos deste “progresso acelerado”
Por suas características urbanas e geográficas, é uma cidade apta a acolher em seus braços e praças a manifestação livre e espontânea da cidadania, através de seus ritos e celebrações culturais. Os moradores, e advindos de outras regiões também, trazem consigo manifestações, em algum lugar, de sua etnia e Identidade Cultural. E a cidade ainda não soterrou a todos embaixo da poeira cinza esbranquiçada do desenvolvimento econômico, voraz e destruidor, apesar de algumas boas intenções...
Em Porto Velho ainda há possibilidade de um vislumbre de esperança, se a Vida Cultural não for descuidada. Alem do que já está feito, sente-se que ainda há muito o que fazer, e muito o que crescer. Por isto ainda tão pequeno. Por isto tão grande.
Por isso também o “Amazônia em Cena na Rua” me pareceu tão promissor, jovem, vibrante, transformador. O evento tem as características necessárias para promover o desenvolvimento de uma política cultural de ocupação dos espaços públicos urbanos e devolve-los para o convívio e valorização da cidadania e da cidade.
Dentro de cada apresentação naquela pequena grande praça iluminada, havia uma luz maior que a de fora: a luz do prazer de se apresentar em praça publica para todos, e de trazer dentro do peito o sonho ainda possível da Utopia.
Parabéns aos organizadores e boa sorte no futuro.
(*) Amir Haddad é diretor, ator e autor de textos teatrais, um dos maiores incentivadores do teatro de rua.
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
SERÁ QUE AGORA SAI?
MinC recomenda a instalação de conselhos de cultura nos estados de Minas Gerais, Paraná e Rondônia.
POLÍTICA CULTURAL
Transcrição do Diário oficial da União de 29 de julho de 2010
Ministério da Cultura
GABINETE DO MINISTRO
RECOMENDAÇÃO No- 7, DE 23 DE JUNHO DE 2010
Recomenda a instalação de conselhos de cultura nos estados de Minas Gerais, Paraná e Rondônia.
O CONSELHO NACIONAL DE POLÍTICA CULTURAL - CNPC, reunido em Sessão Ordinária, nos dias 22 e 23 de junho de 2010, e no uso das competências que lhe são conferidas pelo Decreto nº 5.520, de 24 de agosto de 2005, alterado pelo Decreto nº 6.973/2009, tendo em vista o disposto em seu Regimento Interno, aprovado pela Portaria nº 28, de 19 de março de 2010, e: Considerando o esforço nacional efetuado no sentido de construir uma política nacional de cultura com ampla participação popular, e que a não participação dos estados de Minas Gerais, Paraná e Rondônia neste processo exclui quase 20% da população brasileira do debate sobre a implementação do Sistema Nacional de Cultura e das deliberações da II Conferência Nacional de Cultura; e Considerando que a consolidação do Fundo Nacional de Cultura exigirá, para repasse de recursos federais, a constituição dos conselhos nas esferas estaduais e municipais, além da constituição dos respectivos fundos, o que torna ainda mais grave a ausência destes três estados neste processo, excluindo suas populações do acesso a projetos financiados por recursos federais; Recomenda aos governos dos estados de Minas Gerais, Paraná e Rondônia, os únicos três estados da federação brasileira a ainda não terem instituído e instalado conselhos estaduais de política cultural, que tomem providências no sentido de constituírem seus conselhos estaduais; e Recomenda que a instalação e implantação destes conselhos seja resultado de processos democráticos de participação popular, estabelecidos em conferências
que devem ser convocadas para este fim.
JOÃO LUIZ SILVA FERREIRA
Presidente do Conselho Nacional de Política Cultural
GUSTAVO VIDIGAL
Secretário-Geral do Conselho Nacional de Política Cultural
Fonte: Diário Oficial da União
POLÍTICA CULTURAL
Transcrição do Diário oficial da União de 29 de julho de 2010
Ministério da Cultura
GABINETE DO MINISTRO
RECOMENDAÇÃO No- 7, DE 23 DE JUNHO DE 2010
Recomenda a instalação de conselhos de cultura nos estados de Minas Gerais, Paraná e Rondônia.
O CONSELHO NACIONAL DE POLÍTICA CULTURAL - CNPC, reunido em Sessão Ordinária, nos dias 22 e 23 de junho de 2010, e no uso das competências que lhe são conferidas pelo Decreto nº 5.520, de 24 de agosto de 2005, alterado pelo Decreto nº 6.973/2009, tendo em vista o disposto em seu Regimento Interno, aprovado pela Portaria nº 28, de 19 de março de 2010, e: Considerando o esforço nacional efetuado no sentido de construir uma política nacional de cultura com ampla participação popular, e que a não participação dos estados de Minas Gerais, Paraná e Rondônia neste processo exclui quase 20% da população brasileira do debate sobre a implementação do Sistema Nacional de Cultura e das deliberações da II Conferência Nacional de Cultura; e Considerando que a consolidação do Fundo Nacional de Cultura exigirá, para repasse de recursos federais, a constituição dos conselhos nas esferas estaduais e municipais, além da constituição dos respectivos fundos, o que torna ainda mais grave a ausência destes três estados neste processo, excluindo suas populações do acesso a projetos financiados por recursos federais; Recomenda aos governos dos estados de Minas Gerais, Paraná e Rondônia, os únicos três estados da federação brasileira a ainda não terem instituído e instalado conselhos estaduais de política cultural, que tomem providências no sentido de constituírem seus conselhos estaduais; e Recomenda que a instalação e implantação destes conselhos seja resultado de processos democráticos de participação popular, estabelecidos em conferências
que devem ser convocadas para este fim.
JOÃO LUIZ SILVA FERREIRA
Presidente do Conselho Nacional de Política Cultural
GUSTAVO VIDIGAL
Secretário-Geral do Conselho Nacional de Política Cultural
Fonte: Diário Oficial da União
SAÚDE NA AMAZÔNIA
Radis leva exposição Saúde é terra, identidade e cidadania a Manaus
Os jornalistas Rogério Lannes e Adriano De Lavor, do programa Radis da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) inauguram, próximo dia 10 de agosto, no saguão do aeroporto Eduardo Gomes, em Manaus (AM), a exposição “Saúde é terra, identidade e cidadania”. A exposição revela, em cerca de 50 fotografias, aspectos da paisagem natural, do cotidiano e dos hábitos de saúde das comunidades de diferentes etnias que vivem no Alto Rio Negro e Rio Xié, no Amazonas, e os momentos de organização política que marcaram a 9ª Assembléia do Povo Xukuru do Ororubá, em Pernambuco. As fotos foram produzidas originalmente para reportagens publicadas pela revista Radis (www.ensp.fiocruz.br/radis) nas edições de abril e agosto de 2009.
Alto Rio Negro
Na Amazônia, cerca de 250 agentes de saúde indígena de 23 etnias da região de São Gabriel da Cachoeira, próxima à divisa do Brasil com Colômbia e Venezuela, participaram em 2009 do Curso Técnico de Agente Comunitário Indígena de Saúde, promovido por uma dezena de instituições mobilizadas pela Fiocruz Amazonas. Os alunos receberam ao mesmo tempo formação escolar de nível médio e habilitação como técnicos de saúde indígena. A ideia é capacitá-los para que melhor integrem as equipes que cuidam da saúde de populações com alta vulnerabilidade social e sanitária em 800 assentamentos, que apresentam grandes distâncias físicas entre si, dificuldades de obtenção de alimentos, altos índices de natalidade e mortalidade infantil e elevada incidência de doenças transmissíveis.
Xukurus do Ororubá
No município de Pesqueira, Agreste pernambucano, o assassinato de Xicão — lendário cacique que uniu o povo Xukuru nos anos 1980 e 90, para resgatar a identidade cultural e demarcar e retomar suas terras conforme a Constituição — lembra o de tantos líderes de trabalhadores rurais. A luta dos xukurus continua. Anualmente, em uma assembléia política, eles reafirmam sua caminhada de reconstrução identitária através da defesa do uso produtivo da terra, da educação inclusiva e das tradições indígenas, e reconstroem o último caminho percorrido pelo cacique, assassinado por fazendeiros da região.
Sobre o Radis
Radis (Reunião, Análise e Difusão de Informações sobre Saúde) é um programa nacional de jornalismo em saúde pública, ligado à Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), órgão Ministério da Saúde. Criado em 1982, o programa publica, desde 2002, a revista Radis, enviada gratuitamente para leitores em todo o país. Seu cadastro inclui todas as secretarias de saúde do Brasil, municipais e estaduais, organizações governamentais e não governamentais ligadas à saúde, associações sindicais e de moradores, escolas e profissionais de todos os níveis das áreas da saúde e afins. A assinatura é gratuita, fundada no princípio constitucional de que "saúde é direito de todos e dever do Estado". O Radis entende que tal princípio inclui como dever do Estado e direito de todo brasileiro o acesso a informações claras, precisas e qualificadas sobre saúde.
Créditos e contatos:
SAÚDE É TERRA, IDENTIDADE E CIDADANIA
Local - saguão do aeroporto Eduardo Gomes, em Manaus (AM)
Data – de 10 a 31 de agosto de 2010
Fotos: Rogério Lannes (21) 8810.8633 – rogério@ensp.fiocruz.br / Adriano De Lavor (21) 8107.0705 – delavor@ensp.fiocruz.br
Tratamento de imagens: Marian Starosta e Aristides Dutra
Produção: Justa Helena Franco
Instituição: Programa Radis/Ensp/Fiocruz
Os jornalistas Rogério Lannes e Adriano De Lavor, do programa Radis da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) inauguram, próximo dia 10 de agosto, no saguão do aeroporto Eduardo Gomes, em Manaus (AM), a exposição “Saúde é terra, identidade e cidadania”. A exposição revela, em cerca de 50 fotografias, aspectos da paisagem natural, do cotidiano e dos hábitos de saúde das comunidades de diferentes etnias que vivem no Alto Rio Negro e Rio Xié, no Amazonas, e os momentos de organização política que marcaram a 9ª Assembléia do Povo Xukuru do Ororubá, em Pernambuco. As fotos foram produzidas originalmente para reportagens publicadas pela revista Radis (www.ensp.fiocruz.br/radis) nas edições de abril e agosto de 2009.
Alto Rio Negro
Na Amazônia, cerca de 250 agentes de saúde indígena de 23 etnias da região de São Gabriel da Cachoeira, próxima à divisa do Brasil com Colômbia e Venezuela, participaram em 2009 do Curso Técnico de Agente Comunitário Indígena de Saúde, promovido por uma dezena de instituições mobilizadas pela Fiocruz Amazonas. Os alunos receberam ao mesmo tempo formação escolar de nível médio e habilitação como técnicos de saúde indígena. A ideia é capacitá-los para que melhor integrem as equipes que cuidam da saúde de populações com alta vulnerabilidade social e sanitária em 800 assentamentos, que apresentam grandes distâncias físicas entre si, dificuldades de obtenção de alimentos, altos índices de natalidade e mortalidade infantil e elevada incidência de doenças transmissíveis.
Xukurus do Ororubá
No município de Pesqueira, Agreste pernambucano, o assassinato de Xicão — lendário cacique que uniu o povo Xukuru nos anos 1980 e 90, para resgatar a identidade cultural e demarcar e retomar suas terras conforme a Constituição — lembra o de tantos líderes de trabalhadores rurais. A luta dos xukurus continua. Anualmente, em uma assembléia política, eles reafirmam sua caminhada de reconstrução identitária através da defesa do uso produtivo da terra, da educação inclusiva e das tradições indígenas, e reconstroem o último caminho percorrido pelo cacique, assassinado por fazendeiros da região.
Sobre o Radis
Radis (Reunião, Análise e Difusão de Informações sobre Saúde) é um programa nacional de jornalismo em saúde pública, ligado à Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), órgão Ministério da Saúde. Criado em 1982, o programa publica, desde 2002, a revista Radis, enviada gratuitamente para leitores em todo o país. Seu cadastro inclui todas as secretarias de saúde do Brasil, municipais e estaduais, organizações governamentais e não governamentais ligadas à saúde, associações sindicais e de moradores, escolas e profissionais de todos os níveis das áreas da saúde e afins. A assinatura é gratuita, fundada no princípio constitucional de que "saúde é direito de todos e dever do Estado". O Radis entende que tal princípio inclui como dever do Estado e direito de todo brasileiro o acesso a informações claras, precisas e qualificadas sobre saúde.
Créditos e contatos:
SAÚDE É TERRA, IDENTIDADE E CIDADANIA
Local - saguão do aeroporto Eduardo Gomes, em Manaus (AM)
Data – de 10 a 31 de agosto de 2010
Fotos: Rogério Lannes (21) 8810.8633 – rogério@ensp.fiocruz.br / Adriano De Lavor (21) 8107.0705 – delavor@ensp.fiocruz.br
Tratamento de imagens: Marian Starosta e Aristides Dutra
Produção: Justa Helena Franco
Instituição: Programa Radis/Ensp/Fiocruz
A LUZ DO ARTISTA
Show de Sílvio Santos brilha na escuridão
Por Antônio Serpa do Amaral Filho
Apesar da Fundação Iaripuna tem deixado o palco às escura, por falta de iluminação artística, o show de Sílvio Santos brilhou no escuro da noite como um diamante fosforescente desafiando as trevas da falta de sensibilidade operacional dos nossos gerentes administrativos. A apresentação do incandescente compositor e folclorista Sílvio Santos aconteceu no último circuito do projeto “Ernesto Melo e a Fina do Samba”, apresentado dia 30 de julho, na sexta-feira passada, no Mercado Cultura, no centro histórico de Porto Velho.
Em que pese o projeto Fina Flor do Samba ser hoje o maior ponto de encontro de sambistas da capital e ser também a produção cultural que mais divulga uma das maiores obras do prefeito Roberto Sobrinho, o Mercado Cultural, a administração petista insiste em tratar o projeto com a miopia digna dos que têm olhos sãos e não querem enxergar um elefante branco trotando à luz do dia. Sílvio, que não dá bom dia a cavalo, foi providencialmente irônico e, na abertura do seu espetáculo musical, cumprimentou e agradeceu ao Tátá, presidente da Fundação Iaripuna, “o patrocínio da iluminação do show”. A platéia compareceu em massa, curtiu, cantou e dançou, prestigiando a performance do compositor.
Trajando um blazer estiloso, Sílvio inaugurou seu leque repertorial com “Amor de Quatro Dias’, relembrando nostalgicamente, ainda que de passagem, o caso de amor da dupla mais romântica dos velhos carnavais: os clássicos Pierrot e Colombina. E a partir daí seguiu desfiando seu novelo de composições, surpreendendo a quem só o conhecia como amo de boi e jornalista do Diário da Amazônia e maravilhando quem já sabia desse seu potencial. O samba do Cara de Paca, como também é chamado, tem a marca da heterogeneidade, tanto temática quanto estilística. Daí ele ser capaz de encerrar um belíssimo samba-canção e ingressar frenético em meia dúzia de sambas-enredos, depois de ter passeado de sapatinho branco na passarela do samba de breque.
Em “Porto, Velho Porto” sua veia memorialista deságua na ilharga de uma suburbana cidadela temperada pelo papo sadio, pequenos senões e uma beleza sem par numa Porto Velho de João Barril que ninguém imaginava que fosse se transformar no que é hoje. Acelerando o andamento e colocando no arranjo um acorde perfeito maior, Zé Katraca, como também é conhecido o compositor, apresentou ao público seu pout porri de marcantes e vitoriosos sambas-enredos, construídos a partir de profundo mergulho na literatura nacional, na lembrança dos personagens históricos da cidade e do nosso carnaval, como Camões, o poeta genial, e Afonso Henriques, fundador da primeira dinastia (de Borgonha), Marize Castiel, o bairro Caiari, a feira e outros.
A canção “Odoiá Bahia”, feita em parceria com Valdemir Pinheiro da Silva, o Bainha, merece registro especial por ter sido a grande vencedora do primeiro Festival de Música Popular Brasileira de Rondônia – o FEMPOBRO. Uma outra pétala clássica do buquê de notas musicais de Sílvio, a lendária “Ceará, Lendas, Rendas e Crenças”, escrita em parceria com Babá e Haroldo, fez o público relembrar e cantar junto uma das mais bonitas páginas da composição regional no gênero samba-enredo. Nesse momento de absoluto êxtase musical, depois de ter reverenciado o também compositor Ernesto Melo, cantando Veriana, de 1984, todos os espíritos que perfazem a história e a memória da cidade desceram no centro histórico, como se estivessem sendo abduzidos por seus cavalos no chão de terra batida de Santa Bárbara e Samburucu.
Para fechar em grande estilo sua apresentação e mostrar o potencial criativo da gente Guaporé só faltava mesmo Sílvio Santos convidar o povo a cantar as marchinhas do maior bloco carnavalesco da amazônia ocidental, a Banda do Vai Quem Quer. O que foi feito. A lua brilhando no céu e a fluorescente poesia do samba reluzindo em frente ao Palácio Presidente Vargas deixaram uma só certeza: nada substitui o talento e a espiritualidade da gente desta terra, em meio ao violento processo de transformação por que estamos passando. Apesar dos pesares, o show de Sílvio Santos brilhou na escuridão cênica do Bar do Zizi. Salve o compositor popular!
Por Antônio Serpa do Amaral Filho
Apesar da Fundação Iaripuna tem deixado o palco às escura, por falta de iluminação artística, o show de Sílvio Santos brilhou no escuro da noite como um diamante fosforescente desafiando as trevas da falta de sensibilidade operacional dos nossos gerentes administrativos. A apresentação do incandescente compositor e folclorista Sílvio Santos aconteceu no último circuito do projeto “Ernesto Melo e a Fina do Samba”, apresentado dia 30 de julho, na sexta-feira passada, no Mercado Cultura, no centro histórico de Porto Velho.
Em que pese o projeto Fina Flor do Samba ser hoje o maior ponto de encontro de sambistas da capital e ser também a produção cultural que mais divulga uma das maiores obras do prefeito Roberto Sobrinho, o Mercado Cultural, a administração petista insiste em tratar o projeto com a miopia digna dos que têm olhos sãos e não querem enxergar um elefante branco trotando à luz do dia. Sílvio, que não dá bom dia a cavalo, foi providencialmente irônico e, na abertura do seu espetáculo musical, cumprimentou e agradeceu ao Tátá, presidente da Fundação Iaripuna, “o patrocínio da iluminação do show”. A platéia compareceu em massa, curtiu, cantou e dançou, prestigiando a performance do compositor.
Trajando um blazer estiloso, Sílvio inaugurou seu leque repertorial com “Amor de Quatro Dias’, relembrando nostalgicamente, ainda que de passagem, o caso de amor da dupla mais romântica dos velhos carnavais: os clássicos Pierrot e Colombina. E a partir daí seguiu desfiando seu novelo de composições, surpreendendo a quem só o conhecia como amo de boi e jornalista do Diário da Amazônia e maravilhando quem já sabia desse seu potencial. O samba do Cara de Paca, como também é chamado, tem a marca da heterogeneidade, tanto temática quanto estilística. Daí ele ser capaz de encerrar um belíssimo samba-canção e ingressar frenético em meia dúzia de sambas-enredos, depois de ter passeado de sapatinho branco na passarela do samba de breque.
Em “Porto, Velho Porto” sua veia memorialista deságua na ilharga de uma suburbana cidadela temperada pelo papo sadio, pequenos senões e uma beleza sem par numa Porto Velho de João Barril que ninguém imaginava que fosse se transformar no que é hoje. Acelerando o andamento e colocando no arranjo um acorde perfeito maior, Zé Katraca, como também é conhecido o compositor, apresentou ao público seu pout porri de marcantes e vitoriosos sambas-enredos, construídos a partir de profundo mergulho na literatura nacional, na lembrança dos personagens históricos da cidade e do nosso carnaval, como Camões, o poeta genial, e Afonso Henriques, fundador da primeira dinastia (de Borgonha), Marize Castiel, o bairro Caiari, a feira e outros.
A canção “Odoiá Bahia”, feita em parceria com Valdemir Pinheiro da Silva, o Bainha, merece registro especial por ter sido a grande vencedora do primeiro Festival de Música Popular Brasileira de Rondônia – o FEMPOBRO. Uma outra pétala clássica do buquê de notas musicais de Sílvio, a lendária “Ceará, Lendas, Rendas e Crenças”, escrita em parceria com Babá e Haroldo, fez o público relembrar e cantar junto uma das mais bonitas páginas da composição regional no gênero samba-enredo. Nesse momento de absoluto êxtase musical, depois de ter reverenciado o também compositor Ernesto Melo, cantando Veriana, de 1984, todos os espíritos que perfazem a história e a memória da cidade desceram no centro histórico, como se estivessem sendo abduzidos por seus cavalos no chão de terra batida de Santa Bárbara e Samburucu.
Para fechar em grande estilo sua apresentação e mostrar o potencial criativo da gente Guaporé só faltava mesmo Sílvio Santos convidar o povo a cantar as marchinhas do maior bloco carnavalesco da amazônia ocidental, a Banda do Vai Quem Quer. O que foi feito. A lua brilhando no céu e a fluorescente poesia do samba reluzindo em frente ao Palácio Presidente Vargas deixaram uma só certeza: nada substitui o talento e a espiritualidade da gente desta terra, em meio ao violento processo de transformação por que estamos passando. Apesar dos pesares, o show de Sílvio Santos brilhou na escuridão cênica do Bar do Zizi. Salve o compositor popular!
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