O QUASE SEQUESTRO DO ZEZECA
Por: Beto Ramos
O futebol de Porto Velho já desfilou com uma coroa bem mais dourada em outros tempos.
Existiu um tempo onde nossos atletas eram realmente craques aos nossos olhos.
Uma época onde nossos craques eram Gervásio – Ferro – Parruda – Gainete – Serrão – Edson santos - Walter Santos – Pirralho – Meu pai “Buchudo” - Meireles – Edu – Nazaré – Mundoca – Faz-tudo – Reis - Zezeca e tantos outros que fizeram história no palco principal do nosso esporte o Estádio Aluízio Ferreira.
Dos nossos clubes queridos, muitos ficaram apenas na lembrança e em fotografias em algum lugar.
Desde a época do União Esportiva fundado em 11 de junho de 1916, o primeiro clube de futebol de Porto Velho, que treinava na Baixa da União, lugar que revelou tantos craques, muitos foram os times de futebol que disputaram campeonatos em Porto Velho.
Que saudade do Ypiranga Esporte Clube, o segundo clube filiado a Federação do Desporto do Guaporé, fundado em 13/04/1919.
Que saudades do Ferroviário Atlético Clube e do Clube de Regatas Flamengo.
Saudades daquele Moto Clube, São Domingos, Botafogo, Rondônia, Vasco da Gama, Cruzeiro e tantos outros.
O que foi feito do nosso futebol ?
O Campeonato de futebol da década de 60 na Baixa da União era bem mais animado que este tal de profissional que existe por ai!
Que Saudades do Fera, José Camacho, Mitoso, Chico Santos, Mourão, César Zoghbi, Albino Lopes,Sebastião Lapa, até o Loló não é mais o mesmo.
As histórias e estórias do nosso futebol estão indo pro andar de cima com os que partiram.
O nosso futebol também é cultura.
Uma cultura popular que está sendo riscada do mapa se alguma coisa não for feita para mudar o resultado deste triste campeonato.
O nosso futebol é cheio de lendas ou como dizia meu velho, presepadas para todo o gosto.
São muitas as “presepadas”.
Diz a lenda que nos meados dos anos 60, o campeonato era disputadíssimo.
Eram realizadas mandingas.
Forças ocultas extra campo também eram usadas para melar os resultados.
Existia até a pimenta do seu Camacho, assunto para outras linhas.
Zezeca era o goleiro do Moto Clube nesta época de ouro.
Amazonense, veio para Porto Velho junto com seu irmão Joanildo Ramos “Buchudo”.
Aqui chegando foram morar na Rua Salgado Filho junto com o Osvaldo Reis, numa estância com o nome de trem de palha, trem de palha pois era coberta de capim sapé.
Dizem que no verão aquele capim estralava.
Conversando com Zezeca, ele me disse que certa vez a dona da estância que gostava de fumar um cachimbo, cochilou perto do mosquiteiro. O Cachimbo caiu e aconteceu um incêndio no trem de palha. Todos correram para ajudar e a dona da estância estava preocupada era com a roupa do seu velho, e gritava: a roupa do Nonato o paletó do meu velho Gama! Ajudem a salvar a roupa do Nonato o paletó do meu velho Gama.
O dirigente principal do Flamengo, dono do Flamengo, o tudo do Flamengo era o Velho César Zoghbi. E o velho César estava disposto a tudo por um bom resultado do seu clube. O clássico de certo domingo da década de 60 seria Moto Clube X Flamengo. Times recheados de super craques. No domingo pela manhã o Moacir Borracha, folclórico morador de Porto Velho, sabendo que o Zezeca fazia manutenção de bombas , motores de todo o tipo, convido-o para ir num sítio no KM 12 da BR 364, explicou que uma bomba havia dado problema e coisa e tal. Como o Zezeca era funcionário do Moacir, aceitou o pedido, mas foi logo dizendo que haveria jogo no Aluizão e que não poderia demorar no sítio.
O Moacir acalmou o Zezeca e disse que seria rápido e que se preciso fosse o Jipe até voaria na volta.
O que o Zezeca não sabia era que tudo estava combinado com o Velho César Zoghbi. Chegando ao sítio o Moacir já foi convidando o Zezeca para tomar um Drinque com água-de-coco. Aquela era uma época em que a rapaziada não dispensava uma bebidinha.
O Zezeca tomou uma e já foi perguntando a hora.
O Moacir foi logo dizendo que ainda era cedo.
O tempo foi passando, o serviço foi terminado e o relógio não andava, não passava das 13:00 hs.
E o Moacir empurrando Wisky no goleirão do Moto.
Vamos embora que este relógio tá doido.
O sol tá baixando e já passam das duas.
Então o Moacir junto com o Zezeca pegaram o Jipe e azularam rumo ao Aluizão.
No KM 8 resolveram dar uma parada.
O Moacir sempre segurando o tempo ao máximo.
Nisso o Zezeca resolveu perguntar ao Cândido pela hora.
Para sua surpresa o velho Cândido perguntou o que aconteceu para ele não agarrar no gol do Moto Clube.
Prontamente o Zezeca disse que estava indo para lá.
Como indo para o jogo ?
Pera ai que vou ligar o rádio.
Justo na hora em que o rádio foi ligado o narrador gritava gol do Flamengo.
Era o primeiro.
O Zezeca possesso obrigou o Moacir Borracha a entrar no Jipe e partir rumo ao estádio Aluízio Ferreira.
E perguntava que presepada era aquela.
E o Moacir calado com um riso no canto da boca.
A verdade e que esculhambaram a bomba de propósito, e levaram o Zezeca para que ele não participasse do jogão contra o Flamengo.
Chegando ao Estádio o Goleirão tentou entrar e foi barrado pelos porteiros do estádio, tudo a pedido do velho César Zoghbi.
Confusão formada chamaram a polícia para retirar o goleiro aparentemente embriagado pelo driques com água-de-coco. Tudo armação e o resultado do jogo já estava 2 x 0 pro Flamengo.
Desesperado o Zezeca livrando-se da polícia, pulou o muro lateral do estádio, ralando todo o peito.
Meio sem rumo, ao pular caiu dentro de uma caixa de água, fato que salvou-o de quebrar alguns ossos do corpo.
Logo chegou o velho César Zoghbi sorrindo e disse para os policias levarem o goleirão de novo para fora do estádio pois estava embriagado.
A gozação com o goleirão foi muita e por muito tempo.
Anos mais tarde o Zezeca foi ser o goleiro do Flamengo.
O contrato: Um emprego na Prefeitura de Porto Velho na Fábrica de Asfalto.
Foi ai que surgiu o bloco de sujo ASFALTÃO.
O Zezeca é um dos fundadores do que é hoje uma grande escola de samba.
Ele era a nega maluca que abria o carnaval do asfaltão.
Tem gente que não lembra nem com Makumba.
Mas, isto também é assunto para outras linhas.
Zezeca hoje trabalha no Hospital de Base Ary Pinheiro de Porto Velho, está com 67 anos e guarda boas lembranças de um tempo que não volta mais.
Esta é uma das muitas histórias ou estórias da nossa gente.
DIZ A LENDA.