Histórias do menino barrigudo
Por Silvio Santos
Saqueieirooo! Saqueieirooo! Assim “Barrigudo” levava a vida na Feira Livre que existiu no local onde hoje funciona o Mercado Central, no quadrilátero formado pelas ruas Farquar, Euclides da Cunha, Henrique Dias e Travessa Renato Medeiros. O grito de saqueieiro era praticado por todos os meninos que vendiam saco feito de folha de saco cimento na Feira Modelo, esse era o nome da Feira Livre inaugurada em Porto Velho em meado da década de 1950.
Barrigudo começou suas atividades como vendedor de saco, carregador de água para as banqueiras, vendedor de mingau e outras coisas, assim que sua mãe ficou viúva e para sustentar os filhos, colocou banca de venda de comida na Feira Livre que existia em frente ao Mercado Municipal (hoje Mercado Cultural) pelo lado do palácio do governo.
Quando o governo resolveu inaugurar oficialmente o palácio em 1954, a feira foi transferida para um galpão construído no espaço que ficava entre o Clube Internacional (Hoje Ferroviário) e o prédio da Usina que pertencia ao Serviço de Água, Luz e Força do Território Federal de Rondônia - SALFT (hoje é a sede da Ceron/Eletrobrás). A rua existente ali ficou conhecida como rua do Coqueiro hoje é a Euclides da Cunha.
A feira livre naquele local era provisória, pois a prefeitura estava construindo o local definitivo ao lado de uma dos casarões da Estrada de Ferro Madeira Mamoré que ficava nos fundos do recém inaugurado Prédio do Relógio.
Acontece que nesse ínterim, a mãe de Barrigudo, juntamente com outras pessoas, conseguiu licença junto à direção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré e constuiu uma casa bem em frente da Feira Modelo pela rua Farquar.
A Feira Modelo só funcionava de 5ª feira ao meio dia de sábado. Quinta feira a tarde chegava o Trem da Feira que vinha com produtos dos agricultores que moravam ao longo da via férrea entre o KM 25 (Teotônio) até Porto Velho. Sexta feira era vez de chegar a Lancha do Beiradão do que vinha com os produtos dos agricultores que moravam entre São Carlos e Porto Velho. “A gente pegava carreto para transportar cachos de banana, saco de carvão e outros produtos do trem ou da lancha para a Feira” conta Barrigudo acontece que no percurso para feira ele ia tirando banana da palma e deixando no chão, enquanto um comparsa previamente combinado, ia juntando. “Aquelas bananas a gente botava para amadurecer e vendia”. Muito “peralta” Barrigudo não deixava escapar nada. Sempre estava procurando confusão com os meninos que apareciam pela feira. Os comerciantes que tinha boxe sabendo que Barrigudo não enjeitava nenhuma parada, quando viam um menino estranho no pedaço, ofereciam Cinco Cruzeiros (Barão do Rio Branco) se o Barrigudo tivesse coragem de dar um tapa no intruso. Barrigudo não contava conversa, ia lá Pou! Voltava e recebia a grana.
Os quintais das casas daquela vila que ficava em frente à feira pela Farquar, quando era o tempo das praias, nos meses de agosto setembro, eram alugados aos “Condutores” da EFMM para servir de depósito de tartaruga e tracajá que vinha de Guajará Mirim para serem vendidos em Porto Velho. O condutor que alugava o quintal da casa do barrigudo era o Armando Holanda conhecido como “Periquito”. Barriguda durante a noite riscava um palito de fósforo perto do nariz da tartaruga que morria asfixiada. Na manhã seguinte Periquito chegava e queria saber se alguma tartaruga havia morrido e Barrigudo ia direto naquele que ele Havaí asfixiado na noite anterior e então Periquito ordenava que ele jogasse a “bicha” fora. No meio do mato Barrigudo abria o peito da tartaruga e retirava os ovos que eram vendidos na feira.
O menino cresceu, estudou se formou, aprendeu a arte da tipografia nas oficinas do jornal Alto Madeira foi trabalhar como radialista na Rádio Caiari, passou pelos jornais A Tribuna, onde se transformou em Zé Katraca, foi para O Guaporé, Estadão e há 17 anos, é integrante da família Diário da Amazônia e continua Barrigudo.