quarta-feira, 29 de julho de 2009

Ser


Movimento negro

O que é movimento negro 1998, 15 min.
Documentário sobre o movimento negro no Brasil. Apresenta didaticamente a luta dos negros pela igualdade, desde os tempos da escravidão até os dias de hoje. O filme começa apresentando, no período colonial, as formas de luta e resistência dos negros escravos, como o Banzo e os Quilombos. Fala de Zumbi e das revoltas dos Malês e dos Alfaiates.
Foi em 1902 que surgiram as primeiras entidades (recreativas) de negros no Brasil. No mesmo período começaram a ser publicados os primeiros jornais do movimento negro, como "O Progresso" e "A liberdade". O filme aborda as experiências da Frente Negra, da Legião Negra e do Teatro Experimental do Negro (TEM), com seu belo trabalho na área de arte-educação.
Durante a ditadura militar, os negros ficaram proibidos de se organizar e, assim, as manifestações culturais ganhavam mais importância. Já na década de 1970, após a morte do estudante Edson Luiz, o movimento negro voltou a se manifestar e, a partir da união de diversos grupos, foi criado o Movimento Negro Unificado (MNU), contra a discriminação racial. A luta pelo respeito às diferenças e pela igualdade, levou o Movimento a discutir como a escola reproduz o racismo, através dos currículos, dos livros didáticos e da formação dos professores. Levou também à organização da Associação de Mulheres Negras.
O vídeo mostra ainda o samba e o hip hop, entre as formas culturais que colaboram com a luta negra pela "desmistificação do mito da democracia racial" existente no Brasil.
Indicações de Uso: "O que é movimento negro" é indicado para aula ou debates que tenham a história dos negros no Brasil como tema. O vídeo é bastante didático, com linguagem acessível e imagens dos jornais e manifestações políticas e culturais dos negros no Brasil.
Ficha Técnica: Data: Maio de 1998 Duração: 15 minutos Realização: Núcleo de Estudos Negros
Contatos: Tel.: (48) 3322-0692 / 3224-0769 E-mail: nen@nen.org.br Página: www.nen.org.br

História do chorinho

Gênero criado a partir da mistura de elementos das danças de salão européias (como o schottisch, a valsa, o minueto e, especialmente, a polca) e da música popular portuguesa, com influências da música africana. De início, era apenas uma maneira mais emotiva, chorosa, de interpretar uma melodia, cujos praticantes eram chamados de chorões. Como gênero, o choro só tomou forma na primeira década do século 20, mas sua história começa em meados do século XIX, época em que as danças de salão passaram a ser importadas da Europa. A abolição do tráfico de escravos, em 1850, provocou o surgimento de uma classe média urbana (composta por pequenos comerciantes e funcionários públicos, geralmente de origem negra), segmento de público que mais se interessou por esse gênero de música. Em termos de estrutura musical, o choro costuma ter três partes (ou duas, posteriormente), que seguem a forma rondó (sempre se volta à primeira parte, depois de passar por cada uma). A origem do termo choro já foi explicada de várias maneiras. Para o folclorista Luís da Câmara Cascudo, esse nome vem de xolo, um tipo de baile que reunia os escravos das fazendas; de xoro, o termo teria finalmente chegado a choro. Por outro lado, Ary Vasconcelos sugere que o termo liga-se à corporação musical dos choromeleiros, muito atuantes no período colonial. José Ramos Tinhorão defende outro ponto de vista: explica a origem do termo choro por meio da sensação de melancolia transmitida pelas baixarias do violão (o acompanhamento na região mais grave desse instrumento). Já o músico Henrique Cazes, autor do livro Choro – Do Quintal ao Municipal, a obra mais completa já publicada até hoje sobre esse gênero, defende a tese de que o termo decorreu desse jeito marcadamente sentimental de abrasileirar as danças européias. Vários músicos e compositores contribuíram para que esse maneirismo inicial se transformasse em gênero. Autor da polca Flor Amorosa, que é tocada até hoje pelos chorões, Joaquim Antonio da Silva Callado foi professor de flauta do Conservatório de Música do Rio de Janeiro. De seu grupo fazia parte a pioneira maestrina Chiquinha Gonzaga, não só a primeira chorona, mas também a primeira pianista do gênero. Em 1897, Chiquinha escreveu para uma opereta o cateretê Corta-Jaca, uma das maiores contribuições ao repertório do choro. Outro pioneiro foi o clarinetista e compositor carioca Anacleto de Medeiros, que realizou as primeiras gravações do gênero, em 1902, à frente da Banda do Corpo de Bombeiros. Assim como outros registros posteriores, essas gravações indicam que a improvisação ainda não fazia parte da bagagem musical dos chorões naquela época. Sofisticação Essencial para a formação da linguagem do gênero foi a obra de Ernesto Nazareth, que desde cedo extrapolou as fronteiras entre a música popular e a erudita. O autor de clássicos como Brejeiro, Odeon e Apanhei-te Cavaquinho destacou-se como criador de tangos brasileiros e valsas, mas de fato exercitou todos os gêneros musicais mais comuns daquela época. A sofisticação da obra de Nazareth era tamanha, que (exceto no caso de Radamés Gnattali, um de seus melhores intérpretes) sua obra só foi definitivamente integrada ao repertório básico dos chorões nos anos 40 e 50, por meio das gravações de Jacob do Bandolim e Garoto. Também genial, Alfredo da Rocha Vianna Filho, o Pixinguinha, contribuiu diretamente para que o choro encontrasse uma forma definida. Para isso, introduziu elementos da música afro-brasileira e da música rural nas polcas, valsas, tangos e schottische dos chorões. É o caso do maxixe Os Oito Batutas, gravado em 1918, cujo título antecipou o nome do primeiro conjunto a conquistar fama na história da música brasileira. Protagonistas de uma polêmica temporada de seis meses em Paris, no ano de 1922, Pixinguinha e seus parceiros na banda Os Batutas (um septeto, na verdade) dividiram a imprensa e o meio musical brasileiro, entre demonstrações de ufanismo e desqualificação. Foi também sob duras críticas que Lamentos (de 1928) e Carinhoso (composto em 1917 e só gravado pela primeira vez em 28), dois inovadores choros de Pixinguinha, foram recebidos pela crítica. O fato de ambos terem sido feitos em duas partes, em vez de três, foi interpretado pelo preconceituoso crítico Cruz Cordeiro como uma inaceitável influência do jazz. Outra personalidade de peso na história do gênero foi o carioca Jacob Pick Bittencourt, o Jacob do Bandolim, famoso não só por seu virtuosismo como instrumentista, mas também pelas rodas de choro que promovia em sua casa, nos anos 50 e 60. Sem falar na importância de choros de sua autoria, como Remeleixo, Noites Cariocas e Doce de Coco, que fazem parte do repertório clássico do gênero. Contemporâneo de Jacob, Waldir Azevedo superou-o em termos de sucesso comercial, graças a seu pioneiro cavaquinho e choros de apelo bem popular que veio a compor, como Brasileirinho (lançado em 1949) e Pedacinhos do Céu. Linguagem das big bands Um dos exemplos mais bem resolvidos de união entre o choro e o jazz pode ser encontrado na obra do maestro e arranjador pernambucano Severino Araújo, que pouco depois de se mudar para o Rio de Janeiro, em 1944, decidiu adaptar sambas e choros à linguagem das big bands. À frente da Orquestra Tabajara, Araújo gravou vários choros de sua autoria, como Espinha de Bacalhau e Um Chorinho em Aldeia, exemplos seguidos por outras orquestras do gênero ou compositores como Porfírio da Costa e K-Ximbinho. Outro brilhante adepto da fusão do choro com o jazz foi o maestro Radamés Gnattali, ao lado de quem atuaram talentosos músicos do gênero, como os violonistas Bola Sete, Laurindo de Almeida e Garoto. Mas foi com dois saxofonistas que Gnattali aprofundou mais suas experiências de aproximação com o jazz: Zé Bodega e Paulo Moura, músico que desde os anos 70 dedica parte de seu repertório ao choro. O Rio de Janeiro é a incontestável capital do choro, mas não faltaram músicos de expressão no gênero, originários de outras partes do país. Um dos pioneiros foi o violonista João Pernambuco, que trocou o sertão pernambucano pelo Rio, em 1904. Além de ter feito parte do conjunto Os Oito Batutas, ele é até hoje cultuado pelos violonistas brasileiros, que continuam interpretando suas composições para violão. Incentivado pelos Batutas, o paraibano Severino de Carvalho, o Ratinho, também migrou para o Rio, em 1922. Um dos pioneiros na utilização do sax soprano, além de compositor de clássicos do gênero, como Saxofone, Por Que Choras?, ficou mais conhecido, porém, ao formar a famosa dupla caipira Jararaca e Ratinho. Outro solista nordestino de destaque, nos anos 20 e 30, foi o clarinetista e saxofonista sergipano Luís Americano, que integrou o inovador Trio Carioca, ao lado do pianista e maestro Radamés Gnattali, em 1937. Já o bandolinista pernambucano Luperce Miranda, que também tocava cavaquinho, radicou-se no Rio de Janeiro, em 1928, depois de tocar com os Turunas da Mauricéia. Notável também é o violonista e compositor Francisco Soares de Araújo, o Canhoto da Paraíba, que surpreende ao tocar seu instrumento sem inverter a posição das cordas, apesar de ser canhoto. Outro centro de cultivo e desenvolvimento do gênero foi São Paulo, onde se destacaram chorões como os violonistas Armandinho Neves, Antônio Rago e, especialmente, Aníbal Augusto Sardinha, o Garoto. Virtuose do violão, ele acompanhou a cantora Carmen Miranda nos EUA, em 1939. O contato direto com o jazz influenciou sua obra, inclusive seus choros, que hoje são tocados por violonistas de vários cantos do mundo, incluindo o também paulista Paulo Bellinati, um dos principais divulgadores da obra de Garoto. Embora o choro continue sendo mais cultuado no Rio, é em São Paulo que têm acontecido os mais significativos eventos dedicados ao gênero, como os festivais promovidos pela TV Bandeirantes, nos anos 70, ou a recente série Chorando Alto, no Sesc Pompéia. Revitalização Estimulado pelo show Sarau, com Paulinho da Viola e o grupo Época de Ouro (e em parte pelo sucesso do grupo Novos Baianos), o choro conheceu um período de revitalização, nos anos 70. Não apenas surgiram grupos jovens dedicados ao gênero, como os cariocas A Fina Flor do Samba, Galo Preto e Os Carioquinhas, mas um novo público se formou, ampliado por clubes de choro criados em cidades como Brasília, Recife, Porto Alegre, Belo Horizonte, Goiânia e São Paulo, entre outras. O novo interesse pelo gênero propiciou também a redescoberta de veteranos chorões, como Altamiro Carrilho, Copinha e Abel Ferreira, além de revelar talentos mais jovens, como os bandolinistas Joel Nascimento e Déo Rian. . Sem dúvida, o músico mais brilhante dessa nova geração foi o violonista carioca Rafael Rabello, que apesar de ter morrido prematuramente, aos 32 anos, em 1995, deixou gravada uma obra de peso. Já a partir dos anos 80, o choro passa a estabelecer outras conexões musicais. Grupos de espírito chorão, como a Camerata Carioca e a Orquestra de Cordas Brasileiras, também traziam em seus repertórios música erudita de Bach, Vivaldi e Villa-Lobos, ou mesmo o tango contemporâneo de Astor Piazzolla. Por outro lado, a música popular brasileira passou a flertar mais com o choro através de obras de influentes compositores e letristas, como Paulinho da Viola e Chico Buarque, ou instrumentistas, como Hermeto Pascoal. Já na última década, o choro vem recebendo uma ênfase especial na parceria do violonista e compositor Guinga com o veterano letrista Aldir Blanc, que elevaram o patamar das experiências com o choro vocal. Entre os músicos da atualidade que dedicam considerável parte de seu repertório ao choro chamam atenção o pianista Leandro Braga, o gaitista Rildo Hora, o clarinetista e saxofonista Nailor Proveta Azevedo e os flautistas Antônio Carlos Carrasqueira e Dirceu Leitte.

A DISSIMULAÇÃO EUROPÉIA E A ÁFRICA NEGRA. (01).

Uma das conseqüências geográficas mais graves dos processos espaciais desencadeados pela diáspora africana é a desestruturação dos antigos Estados políticos do continente (preconceituosamente denominados de tribos), componente fundamental para a compreensão da amplitude das formas de organização social, política e territorial dos povos africanos.
Estas organizações territoriais e políticas, tratadas aqui, são núcleos e agrupamentos humanos de domínio com limites e fronteiras bastante fluidos, que cobrem maior ou menor extensão territorial segundo o nível de autoridade e dinamismo dos governantes, suas populações alcançavam milhares de habitantes, portanto jamais poderiam se chamadas de tribos.
Essas expressões não designam, portanto um estado político nos padrões ocidentais, caracterizados por fronteiras rígidas e limites precisos.
Reconhece-se hoje que entre os principais fatores que fizeram os povos europeus se voltarem para a África e a transformarem no maior reservatório de mão-de obra escrava jamais imaginada pelo homem estava a tradição dos povos africanos de bons agricultores, ferreiros, construtores, mineradores e detentores das mais avançadas tecnologias desenvolvidas nos trópicos.
Outro fator que justificava para o europeu a substituição do índio brasileiro pelo africano como escravo colonial era que, trocando na áfrica produtos manufaturados por homens cativos e, na América homens cativos por mercadorias coloniais, às classes dominantes das metrópoles da Europa apropriavam-se mais facilmente das riquezas aqui produzidas.
Nos séculos XVII e XVIII vão se constituir as mais importantes e duradouras extensões territoriais das rotas do tráfico negreiro, as Costas da Mina e de Angola.
É nesse período que vão ocorrer os maiores volumes de povos africanos transportados para o território brasileiro, no Século XVII o tráfico é dinamizado na Costa de Angola, de onde são transportados povos africanos para a Bahia, Pernambuco, Alagoas, Rio de Janeiro, São Paulo e regiões do centro-sul do Brasil e na Costa da Mina com fluxos para as províncias do Grão Pará, Maranhão e o território atual do Rio grande do Norte.


Carlinhos Maracanã.
Cine Zumbi.
CONEGRO.
Fonte; Cadernos Africanos- 1988

NEGROS BRASILEIROS E SUAS PROCEDÊNCIAS. (02).

A questão da procedência dos africanos para o Brasil tornou-se bastante complexa, principalmente no tocante aos povos e etnias que forneceram os maiores contingentes de escravos.
A complexidade decorre da mentalidade colonialista dos portugueses que, não considerando o negro um ser humano, pouca importância davam a assinalar de maneira precisa, nos seus registros e documentos, as diversas culturas, línguas e grupos étnicos dos africanos capturados.
Ao contrário, estendiam a povos radicalmente distintos um mesmo nome, ou generalizações completamente sem fundamento, atualmente a antropologia tem revisto muito do que se escreveu sobre as origens culturais da massa escrava, no começo deste século, restando ainda muitos pontos a esclarecer.
A tradição historiográfica reúne, a grosso modo, os negros em dois grandes grupos étnicos: os Bantos (ou bantus), da África equatorial e tropical, da região do golfo da Giné, Congo e Angola, planaltos da África oriental e costa sul-oriental; e os sudaneses, predominantes na áfrica ocidental, Sudão egípcio e na costa setentrional do golfo da Giné.
Não há nenhuma prova definitiva da predominância de um desses grupos na composição dos negros vindos para o Brasil, embora se afirme normalmente que a maioria era de bantos, entretanto, as tradições culturais de alguns sudaneses, como os Iorubas da Nigéria, são amplamente predominantes nas heranças africanas da cultura brasileira.
Nina Rodrigues percebeu pela primeira vez a predominância sudanesa na Bahia, no que foi confirmado por Artur Ramos, este destacou no grande grupo a predominância dos Iorubas, também chamados Nagôs (embora esse nome seja normalmente estendido a outras etnias), da Nigéria, dos Gegês (ewes) do Daomé dos Minas da costa norte-guineana, além dos Tapas, Bornus e Galinhas. Identificou a presença importante dos Hauçás do noroeste da Nigéria, de influência Muçulmana, a qual marcou também os Fulas (mais claros d origem Berbere-etiópica) e os Malês (ou mandingas, de tradição gerreira, considerados altivos e perigosos pelos lusos, que lhes atribuíam feitiçarias).
Entre os sudaneses originários da costa da Guiné, amplamente predominantes como vimos à presença comum da língua pertencente ao grupo lingüístico ioruba talvez explique a predominância dos elementos dessa cultura em nosso candomblé e nas influências negras de nossa linguagem.
Do ponto de vista cultural, a influência dominante da cultura ioruba explica-se também pela sua predominância já na própria África, na região do golfo da Guiné, estendendo-se segundo Édison Carneiro até o interior do Sudão, sua civilização mais adiantada surpreendeu os primeiros europeus, pelos trabalhos em bronze que faziam no reino do Benim,) a religião, a organização política e os costumes sociais de Ioruba davam o modelo a uma vasta zona, os negros Iorubas eram principalmente agricultores, mas os seus tecelões, os seus ferreiros, os seus artistas em cobre, ouro e madeira já gozavam de merecida reputação de excelência.
Não havia abundância de animais de caça, mas a pesca, nos rios, nos lagos e no mar, rendia muito, criavan-se animais de subsistência-cabras, carneiros, porcos, patos, galinhas e pombos, o cavalo era conhecido havia muitos séculos, devido ao contato com os Árabes; o fundador do reino de Ioruba representava-se, nos mitos, montado num corcel, vários dos deuses africanos cultuados no Brasil são procedentes de algumas de suas brilhantes cidades, como Oió.
Os nomes de alguns de seus reinos, como Ala Kêtu e Ijexá, continuam como designativos de ritos de candomblé.
Quanto aos bantos de angola, tinham uma agricultura mais primitiva, praticada pelas mulheres, enquanto os homens criavam gado, diferentemente dos Iorubas e outros sudaneses, que usavam tecidos de pano, os negros das margens do Zambeze e das elevações de Benguela vestiam-se de cascas de árvores (como o fariam no Quilombo dos Palmares).


Carlinhos Maracanã.
Cine Zumbi.
CONEGRO.







Fontes:
Édison Carneiro. Ladinos e Crioulos. (Civilização Brasileira). 1964.
Antônio Mendes Junior, Luiz Roncari, Ricardo Maranhão. (Editora Brasiliense). 1976.
Carlos Guilherme Mota, Adriana Lopez. ( Editora Rios).1989.

A VIAGEM NOS NAVIOS NEGREIROS E A CHEGADA AO BRASIL. (03).

Como a viagem da Costa da África ás Costas da América do Sul era usualmente curta, pois os ventos estavam sujeitos a pequenas variações e o tempo era comumente bom, os navios empregados nesse tráfico eram de modo geral, pequenos e não de ótima construção, os navios negreiros eram a princípio superlotados a um ponto incrível.
Fez-se, porém, uma lei com o fim restringir o número de pessoas em cada navio, (somos levados a crer, pelas circunstâncias do processo), essa lei jamais foi cumprida ou vistoriada.
Depois de vários dias em porões infectos, amontoados uns sobre os outros, muitos morriam e só eram retirados do monte dias depois, outros passavam mal provocavam vômitos uns sobre os outros, urinavam acorrentados e todo o tipo de barbárie era cometido contra esses seres, chegam ao destino.
São colocados nas ruas diante das portas dos proprietários, deitados ou sentados em promiscuidade pelos caminhos, em número que atingia as vezes a duzentos ou trezentos.
Os homens usavam ao redor da cinta um pedaço de pano azul, puxado entre as pernas e preso ás costas, as mulheres recebiam um pedaço maior de pano, que era usado como saia e às vezes davam-lhes outro com o fim de cobrir a parte superior do corpo.
Sua alimentação era carne salgada, farinha de mandioca, e às vezes banana da terra, a comida de cada dia era cozida no meio da rua em enormes caldeirões, á noite os escravos eram conduzidos a um ou mais armazém e o condutor ficava de pé, contando á medida que eles passavam, eram trancados e a porta só era aberta no romper do dia para mais um lote da mercadoria.
O desejo dessas míseras criaturas de escapar a este estado de inanação e desconforto manifestava-se quando aparecia um comprador, de bom grado se levantavam para serem colocados em fila, com o fim de serem examinados e tratados como gado.
Havia uma espécie de parentesco entre os que eram trazidos no mesmo navio, mesmo sem nenhum vínculo familiar chamavan-se da Malungos, um termo muito considerado e utilizado em quase todas as línguas, uma espécie de afinidade africana.

Carlinhos Maracanã
Cine Zumbi
CONEGRO.

Fonte: coleção Caros Amigos.

DESEMBARQUE DE ESCRAVOS NO BRASIL. (4).

Trazido como imigrante forçado e, mais do que isto, como escravo, o negro africano e os seus descendentes contribuíram com todos aqueles que dinamizaram o trabalho durante quase quatro séculos de escravidão. Em todas as áreas do Brasil eles construíram a nossa economia em desenvolvimento, mas, por outro lado, foram sumariamente excluídos da divisão dessa riqueza.
Esta história começa com a chegada das primeiras levas de escravos vindos da África. Isto se dá pro volta de 1549, quando o primeiro contingente é desembarcado em São Vicente. D. João III concedeu autorização a fim de que cada colono importasse até 120 africanos para as suas propriedades. Muitos desses colonos, no entanto, protestaram contra o limite estabelecido pelo rei, pois desejavam importar um número bem superior. Por outro lado, alguns historiadores acham que bem antes dessa data já haviam entrado negros no Brasil.
Afirmam mesmo que na nau Bretoa, para aqui enviada em 1511 por Fernando de Noronha, já se encontravam negros no seu bordo.
A consolidação da economia colonial intensificou o tráfico para o Brasil, especialmente para o Nordeste, onde um tipo de agroindústria se concentrou e floresceu com o cultivo da cana- de- açúcar.
Em 1586, colônia, as estimativas davam uma população de cerca de 57.000 habitantes e deste total 25.000 eram brancos, 18.000 índios e 14.000 negros.
Em 1798, segundo o cálculo de Santa Apolônia, para uma população de 3.250.00 habitantes, havia um total de 1.582.00 escravos, dos quais 221.000 pardos e 1.361.000 negros, sem cortarmos os negros libertos, que ascendiam a 406.000.
Prosseguindo a chegada de africanos, aumentava a seu peso demográfico no total da população brasileira.
Pra o biênio 1817-1818, as estimativas de Veloso de Oliveira davam, para um total de 3.817.000 habitantes, a cifra de 1.930.000 escravos, dos quais 202.000 pardos e 1.361.000 negros havia, também, uma população de negros e pardos que chegava a 585.000.
No século XVIII, o qual, segundo o historiador Pandiá Calógeras, foi o de maior importação de africanos, a média teria chegado a 55.000 entradas anualmente. Essa massa populacional negro-africanas, embora se concentrando especialmente na região nordestina, se espraiará, em maior ou menor quantidade, por todo o território nacional.
Embora não tenhamos possibilidades de estabelecer o número exato de africanos importados pelo tráfico, podemos fazer várias estimativas. Elas variam muito e há uma tendência de se diminuir esse número, em parte por falta de estatísticas e também porque muitos historiadores procuram branquear a nossa população.
Essas discussões sobre o número de africanos entrados no Brasil se reacenderam quando se procurou quantificar essa população escrava, e posteriormente a afro-brasileira, para com isso estabelecer-se o padrão do que se poderia chamar de Homem Brasileiro.
A apuração da nossa realidade étnica excluiria o branco como representativo do nosso homem, daí se procurar subestimar o negro no passado e a sua significação atual.


Carlinhos Maracanã
Cine Zumbi.
CONEGRO.



Fonte: Clóvis Moura. História do Negro Brasileiro/ Editora Ática. S.A. 1992.