OS ÓRFÃOS DO VILLAS BAR (III)
Por: Altair Santos (Tatá)*
Pois bem amigos e amigas é o fim da tormenta após diluvianos chororôs de quarenta dias e quarenta noites. Depois da deriva, depois de afogar-se em copos estranhos e dormir pesados sonos nas mesas de outros bares, as águas da tristeza baixaram. A arca dos perdidos atracou e um novo monte Ararat, em forma de bar, haverá de acolher os sobreviventes. É hora de vida nova. Conforme prometido vamos passar a régua nessa conta e dar por encerrada a inventariação e partilha da herança imaterial decorrente do fechamento do Villas Bar. O certo é que o adiós boteco deixou inapagáveis chamas de tristeza no coração de muitos e como são muitos! Dados do último recenseamento do IEG - Instituto Ébrio Geográfico (especializado em localizar, identificar, registrar e documentar a densidade demográfica de pinguços da cidade) diz ali no Villas Bar, ter convivido a mais heterogênea sociedade freqüentadora de botecos das últimas décadas em Porto Velho. Rondonienses e gaúchos, baianos e acreanos, cariocas e mineiros, sergipanos, chilenos e peruanos, gregos, troianos e bolivianos, todos ali se achegaram e beberam livres dos requisitos do passaporte ou do visto, era trânsito livre, era free life para aquela sociedade evoluída. A grande legião de órfãos ainda recolhe-se em sofrimento, mas já se agrupa numa e noutra esquina da cidade. São os novos e bons sinais. Dores e lamentos à parte, quem quiser, a partir de então, promover seus reclames que o façam perante a autoridade do gabaritado Doutor Destino e, com ele, lá em seu escritório, em audiência, tenham sobre todos os “porquês” que o assunto ainda demanda. Ele é autoriadade máxima no assunto e confortará a todos atrasadinhos. Mesmo assim fazemos aqui alguns registros em contabilidade final, é a repescagem. Carlinhos Maracanã, por exemplo, trancou-se em casa e suportou o by by Villas calado, sozinho e triste, não reclamou. Pelo recolhimento e atitude humilde que surpreenderia até mesmo alguns eméritos da categoria de Ghandi, São Francisco, Madre Teresa de Calcutá e Monges tibetanos, o botafoguense da boina irá ao guichê da saudade buscar a sua parte. A mana Almira que, noite após noite, vindo da Faculdade Católica, fazia pit-stop no Villas pra molhar a palavra e discutir Marilena Chauí, dentre outros autores, também receberá um hollerith cheio de promessas. O Bruno Rocha (Brunão) que morou aqui mandou e-mail e lá da região da Avenida Paulista, em São Paulo, se disse muito triste e quase chorou por causa do bar. Pobre moço! Pra resolver a situação dele consultamos o saldo em caixa, fizemos as contas e vamos mandar pelo SBI - Saudade Bank International, o seu FGTVB, leia-se: Fundo de Garantia por Tempo de Villas Bar. Então senhoras e senhores sintonizem seus rádios porque vai começar a partida, a seleção está em campo e as emoções estão afloradas, preparem seus corações porque, antes mesmo de começar a copa, essa turma de órfãos do Villas Bar já estará fortemente barulhenta e inquieta, assinando ficha de filiação e sediando-se - outra vez- em algum boteco do centro da cidade. Por enquanto a confraria continua trabalhando em quase absoluto silêncio, exigente, criteriosa e seletiva, assim como a FIFA para aprovação de cidades brasileiras para a copa de 2014. Eles - os órfãos - à luz dos seus secretíssimos e invioláveis critérios avaliam vários locais para a nova sede. Onde vai ser? É pergunta que não quer calar. Por enquanto ninguém sabe, nem eles mesmos, mas, quem viver verá! Um brinde, saúde e vida longa a todos.
(*) O autor é Presidente de Fundação Cultural Iaripuna.
tatadeportovelho@gmail.com
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