Crítica de Teatro
por Jória Lima (*)
Já Passam das Oito, comédia que estreou no último sábado, 12 de junho, com a Cia de Teatro Fiasco, merece ser vista não só para prestigiarmos um autor local (caso raro que devemos relevar sempre, dada a difícil arte de escrever para teatro), mas para conferir a ousadia e a coragem que Fabiano Barros teve de trazer a público um texto baseado em fatos reais evidentemente elevados a enésima potência humorística e de aparente banalidade.
Duas tias velhas e ciumentas de seu sobrinho, o qual impedem a todo custo que se case, o que a princípio parece banal é tornado cômico em virtude das hipérboles textuais e da excelente performance do elenco (Alexandre Lemos como Tia Nalda, Juraci Júnior como Tia Alda, William Bezerra como Valdinho e Andressa Romão como Maria Louisa) e a direção justa do próprio Fabiano. Devemos ressaltar também a elegância do figurino e cenário de Einstein Berguerand e a maquiagem precisa de Alexandre Braga, que aliás dá um show de interpretação de tal modo que chegamos a crer em vários momentos que se trata mesmo de uma de nossas tias velhas, atuação na medida justa, o que é difícil de encontrar no gênero besteirol.
Aliás, essa é outra discussão: o gênero. Li uma crônica há algum tempo intitulada “Quem tem medo do besteirol?” de Andréa Trompczynski que nos chama atenção exatamente para o fato de que rir é algo de que todo mundo gosta e precisa mas, que alguns têm vergonha de assumir que riem do Tiririca, do Tom, das videocassetadas, do Caco Antibes, etc.
E, caros colegas e leitores, eu devo confessar que durante muito tempo pertenci a este mesmo grupo de pessoas avessas ao riso fácil, felizmente a maturidade nos põe às avessas novamente, vemos o mundo com outros olhos, já distantes da necessidade de provar algo à alguém. Assim, definir o espetáculo como pertencente ao gênero besteirol pode ser um tanto perigoso porque pode afastar a intelligentsia local que preferirá continuar carregando seu Zaratustra de bolso sem nunca terminar de ler ou retomar a Montanha Mágica de Thomas Mann pela décima vez no capítulo um, enfim...para os quais rir é algo pecaminoso, privado, que só se faz escondido, quando ninguém mais está diante da tv.
Felizmente nos libertamos desses e outros tabus para podermos sair de casa e rir sem culpa numa alegria compartilhada que o espetáculo teatral nos proporciona, nesta confraternização popular onde nos reconhecemos e degustamos a sensação apaziguadora de pertencimento de grupo. Então, vá ao teatro Banzeiros, sábados e domingos até o dia 04 de julho. Horário: 20h30. Informações: (69) 8421-0414 ou 3227-9155.
(*) - autora teatral
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